Na fila do banco

sexta-feira, 24 de junho de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Dobrou o jornal, passou a mão na papelada, suspirou resignado e lá se foi para a primeira tarefa do dia: pagar um monte de contas, quase todas atrasadas. Bem feito, ia gastar mais e perder a manhã na agência bancária!

A fila até era pequena, mas todos os três caixas estavam ocupados. Ignorando a proibição, tirou o celular do bolso para brincar com o joguinho de fé, a velha e boa paciência. E com o dedão no teclado se desligou do mundo.

Acordou, ou melhor, caiu em si quando uma das caixas levantou a voz para o cliente:

— Eu vou ter que repetir? O senhor não fez reserva e assim não dá pra liberar essa quantia. Não é uma questão do banco ter ou não numerário; acima desse valor só com reserva. O senhor sabe muito bem disso.

— Escuta aqui, moça, eu sou cliente antigo, preciso sacar agora mesmo e não vou sair daqui enquanto não receber meu dinheiro.

— Não, o senhor tem que subir e falar com a gerente de sua conta. Eu não tenho sequer esse valor disponível.

— Não subo e não saio enquanto meu dinheiro não sair!

Caramba, a coisa estava descambando. Os dois discutiam em voz alta e a funcionária digitava alguma coisa nervosamente em pé. Seu cliente, um tipo comum, baixinho, já por volta dos cinquenta, encostou-se no balcão sem a menor intenção de arredar o pé.

Guardou o celular. Afinal, aquilo estava mais interessante do que a paciência. Um segurança e uma supervisora juntaram-se à discussão que já chamava a atenção de todo mundo dentro da agência.

O baixinho continuava irredutível: a gerente da conta que viesse até ele!

— O senhor sabe muito bem que é norma do Banco Central. Saques muito altos têm que ser solicitados de véspera. Aliás, na sexta-feira o senhor cumpriu os procedimentos sem nenhum problema. Não podemos fazer nada.

— Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Conhece a música? Claro que não. E nem adianta vir se chegando com esse segurança feioso aí que eu chamo a polícia!

Impasse total. Coçou a cabeça e começou a considerar a ideia de procurar outro banco para fazer os pagamentos. Aquilo estava ficando estranho. Os outros caixas, envolvidos na discussão, não pareciam notar na fila que crescia, formada por pessoas cada vez mais irritadas.

Até que…

Bom, de repente, do nada, surge uma senhorinha, dessas bem pequeninas que andam pelo centro de Nova Friburgo, e que conhecem todo mundo, sempre com um sorriso no rosto. Nas mãos trazia três rosas vermelhas e um pacotinho verde. Pediu licença, passou para a frente da fila e, como uma figura de filme cabeça italiano, entregou as rosas, uma para cada funcionária dos caixas. Parou em frente ao baixinho e colocou o pacotinho em suas mãos, falando:

— Meu querido, o dia está lindo, o sol brilha, não está frio, uma beleza. E você perdendo seu tempo aqui dentro, discutindo com essa jovem bonita por uma bobagem! Olhe seu rosto, está cheio de rugas, um rapaz tão distinto. Notou que os olhos da mocinha que está lhe atendendo estão marejados de lágrimas?

— Eu acho que a senhora não enten…

— Entendi sim, meu filho, estou vendo uma pessoa boa com ódio de uma outra pessoa que só está trabalhando. Você está esquecendo que ela não é a dona do banco. Vamos conversar, vá lá falar com a gerente e, por favor, nunca se esqueça que um bom dia e um sorriso abrem mil portas.

O baixinho olhou sem graça para a caixa, como que pedindo ajuda. A moça, visivelmente emocionada, pediu que ele a acompanhasse até a gerência, no segundo andar. E, para satisfação de todos, a fila finalmente andou.

Pois é… algumas histórias só têm final feliz em crônicas.

Carlos Emerson Junior

(carlosemersonjr@gmail.com)

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