Mitos e lendas friburguenses que valem a pena ser relembrados

Histórias de amor, de bandidos, de túneis secretos, e curiosidades como o vulcão de Nova Friburgo
sexta-feira, 31 de março de 2017
por Ana Borges
Acredite: esta é a Pedra do Cão Sentado, no Parque de Furnas (Foto: Henrique Pinheiro)
Acredite: esta é a Pedra do Cão Sentado, no Parque de Furnas (Foto: Henrique Pinheiro)

Alguns mitos friburguenses

1) Existe um túnel ligando o Colégio Anchieta ao Colégio Nossa Senhora das Dores ou ao Externato Santa Ignêz
2) O município foi fundado na cratera de um vulcão
3) Mão de Luva era um nobre português que teria se refugiado em Cantagalo
4) O cantor e compositor Lobão é filho de Heródoto Bento de Mello

Já não se brinca tanto como antigamente, mas ainda se fazem pegadinhas no Brasil, no dia 1º de abril - Dia da Mentira. Adultos e crianças se divertem pregando peças em parentes, amigos e até mesmo em desconhecidos. É também o dia em que são tiradas do baú um monte de histórias, em grande parte mitos, lendas, sendo uma ou outra, verdadeira. Em nossa região, é notória a do bandido Mão de Luva, personagem de livros, filmes, seriados de TV. Outra história famosa envolveria Tiradentes, através de um dos inconfidentes, que teria se refugiado em Amparo.

É com esse relato, pesquisado e publicado pela professora e historiadora Janaína Botelho, em seu blog História e Memória de Nova Friburgo, que começamos o nosso passeio pelos caminhos que revelam mitos e lendas que ainda despertam a curiosidade de todos nós. Confira!

“A população do 4° distrito de Nova Friburgo, sempre desejou ser reconhecida como a “Amparo dos Inconfidentes”, região que teve sua formação iniciada por um inconfidente que havia lutado pela liberdade do Brasil juntamente com Tiradentes. Mas essa assertiva incomodou muita gente que tinha a história provando o contrário, ou seja, de que Amparo foi, na realidade, refúgio de um traidor, delator de Tiradentes... (conheça a história completa no blog acima citado).

Romance misturado com mistério, puro e simples, também faz parte do imaginário popular, como este lembrado pelo escritor e membro da Academia Friburguense de Letras, Robério Canto: “Em 1930, um jovem casal se conhece durante um baile num dos clubes da nossa cidade. Apaixonados, dançam a noite inteira. Mas, de madrugada, a moça – tão bela quanto estranha - sai do salão às carreiras. Dela o rapaz somente sabia o nome e a data de nascimento: Filomena Saudade, nascida em 7 de abril de 1908. Desesperado, ele corre atrás dela e, quando se dá conta, está em plena escuridão do cemitério municipal. Procura daqui, procura dali, acaba se deparando com um túmulo, no qual está escrito: ‘Filomena Saudade, nascida em 7 de abril de 1908 e falecida em 10 de maio de 1929. Orai por ela.”

O tal vulcão

No que diz respeito ao vulcão sobre o qual Friburgo teria sido fundado, o geógrafo Daniel Teixeira explica cientificamente por que isso não é verdade: “As serras e maciços rochosos do Sudeste do Brasil e da cidade de Nova Friburgo, como os Três Picos, Caledônia e Pedra do Imperador se originaram a partir de dois eventos tectônicos, o primeiro a colisão continental entre as placas tectônicas Sul-Americana e Africana, que formou o supercontinente Gondwana, a duzentos milhões de anos (Jurássico), onde rochas passaram pelo processo do metamorfismo formando os gnaisses característicos dessas serras, mas não houve eventos vulcânicos, essas rochas são formadas por fusão em alta pressão, proporcionada pela colisão continental, como o que ocorre hoje no Himalaia. O outro evento tectônico foi a abertura do oceânico Atlântico, o processo de Rift, em que o supercontinente Gondwana se quebra dando origem ao Oceano Atlântico, nesse evento há uma intrusão de rochas magmáticas como granitos (feldspato e quartzo), essas rochas são muito duras e resistentes a erosão, depois de milhares de anos de chuvas e ventos elas aparecem como os altos picos que vemos hoje na paisagem da cidade. Mais recentemente há a influencia de processos como erosão e intemperismo, que é a dinâmica causada pelas chuvas, ventos e pelo uso humano do solo; depois de eras geológicas sem atividade tectônica essas serras se “desgastam” pela ação da natureza, como chuvas, erosão do solo, dinâmica dos canais e rios, dando origem a paisagem montanhosa de vales e serras que vemos hoje.”

A lendária figura do Mão de Luva

De Janaína Botelho também: “Os Sertões do Macacu começaram a ser invadidos por bandoleiros e garimpeiros em busca de novas lavras de ouro. As autoridades mineiras se descuidaram da vigilância, o que permitiu a entrada de garimpeiros na Zona da Mata, que se dirigiram para a região fluminense. Em seguida, um grupo de garimpeiros invadiu os Sertões do Macacu, aproximadamente em fins da década de 1770, sob a liderança de Manoel Henriques, conhecido pela alcunha Mão de Luva. Mergulharam suas bateias nos córregos São Pedro, Lavrinhas e depois nos rios Negro e Macuco, acreditando ter encontrado um Eldorado nas montanhas fluminenses. Formou-se, por conseguinte, um arraial clandestino naqueles sertões.”

Causo friburguense: O Fim do Mundo
por Lucio Flavo

É difícil imaginar o mundo sem internet, principalmente para os jovens. Mas esta época existiu e a televisão ainda engatinhava quando deu-se publicidade exagerada a uma previsão de um destes malucos profetas (ou profetas malucos) de que o mundo ia acabar. A notícia se espalhou em Nova Friburgo e o dia do dilúvio seria 11 de janeiro de 1951 (a previsão quase aconteceu mesmo 60 anos depois).

Por outra coincidência do destino, na tarde daquele anunciado dia, o tempo fechou de maneira tal que até as luzes da Praça XV (antiga Praça Getúlio Vargas) se acenderam, tamanha a escuridão provocada por negras nuvens que pousaram no centro da cidade. Com a forte chuva acompanhada de raios e trovões, quem estava na rua procurou se abrigar debaixo das marquises. Numa delas, em frente à Única, misto de bar e restaurante dos Ruiz Galvez, aconteceu o inusitado. Na sobreloja, o Rubey, mais conhecido como ‘Rubem Drescher’, fabricava sorvete e picolé. Fazia parte do equipamento enormes pedras de gelo.

Assim que começou a cair granizo, o Rubem, de pura farra, jogou pela janela uma daquelas gigantescas pedras de gelo que, com o impacto, se espatifou no chão fazendo voar pedra de gelo pra todo lado. O povo que assistia ao dilúvio anunciado, abrigado nas marquises da Única, saiu em desabalada carreira, debaixo da torrencial chuva que já inundava o entorno da praça. Acreditaram, piamente, que o mundo estava mesmo acabando.” (*Lúcio Flavo é amigo do jornal de longa data e colaborador desde sempre).

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