Médica-infectologista defende vacinação de adultos

Saiba por que é errado pensar que vacinas, além de não serem necessárias, fazem mal à saúde
segunda-feira, 10 de julho de 2017
por Delia Celser Engel
Médica-infectologista defende vacinação de adultos

Tem muita coisa estranha acontecendo no mundo nos últimos tempos. E eu confesso, tá difícil entender muitas delas. A gente sabia há muito tempo, que há na Europa uma corrente contra o uso de vacinas. Mas por que nosso eterno complexo de vira-latas (salve Nelson Rodrigues) tem que fazer com que sigamos até o que o primeiro mundo faz errado?    

Eis que de repente as vacinas começaram a sobrar nos postos de saúde e começa a tomar vulto um sentimento de que elas além de não fazerem bem, não são necessárias, fazem mal à saúde. Então vamos lá: o Brasil está livre da poliomielite e da rubéola. Por um único motivo - vacinação da população. No caso da varíola, doença que matou milhares de pessoas no mundo, foi o esforço  mundial com alta cobertura vacinal, que levou ao desaparecimento do vírus. No entanto, só a cobertura vacinal ampla não é suficiente, sendo necessário manter a população vacinada até o desaparecimento do agente.

Em relação à rubéola, se a infecção ocorrer durante a gravidez, especialmente nos primeiros três meses de gestação, podem ocorrer aborto espontâneo, morte fetal, óbito pós- -nascimento e a Síndrome da Rubéola Congênita (SRC), com importantes e graves defeitos congênitos (cegueira, surdez, malformações cardíacas, etc.). Uma mulher infectada com rubéola durante os primeiros três meses de gravidez tem até 90% de chance de dar à luz um bebê com SRC ou de seu bebê não sobreviver. Globalmente, mais de 100.000 bebês nascem com SRC por ano.

Em 2013 foi identificado um surto de sarampo no Brasil a partir de um caso importado da Europa. Durou 27 meses e resultou em 1052 casos da doença no Ceará e Pernambuco.

Por vezes é necessário vacinar todas as pessoas que têm contato com o recém-nascido para evitar, por exemplo, a transmissão da coqueluche. A vacinação da coqueluche na gestante tem efeito duplo pela passagem de anticorpos que embora não sejam duradouros ajudam a proteger o bebê até que o sistema imunológico do recém-nascido possa atingir a maturidade para receber a vacina.

A febre amarela, em sua forma grave, tem mortalidade elevada. Em contrapartida, a vacina protege 99% dos indivíduos vacinados.

Ok, você não quer se vacinar… Um estudo realizado pela Universidade da Carolina do Norte, nos EEUU, ano passado, calculou que adultos não vacinados geraram um custo de $1.7 bilhões (de dólares) entre custos de saúde, medicação e perda de produtividade causados por não terem recebido as 10 vacinas recomendadas pelo CDC - Influenza, Tétano, Difteria, Coqueluche, Herpes Zoster, Doença Pneumocócica, Doença Meningocócica, Sarampo, Caxumba, Rubéola, HPV, Varicela, Hepatite A e Hepatite B.

Esses adultos acabam também não vacinando seus filhos. Em 2015 houve um surto de sarampo na Disneylandia, amplamente divulgado pela mídia. Infelizmente, o sarampo pode levar à internação em UTI e morte. E o que dizer da meningite meningocócica?

A Sociedade Brasileira de Imunizações disponibiliza o calendário vacinal para crianças, adolescentes, adultos, gestantes, pacientes em imunossupressão, e idosos. Sim, há muito tempo vacinação não é mais coisa só de criança.

Reações adversas sempre podem ocorrer não só após a aplicação de vacinas como após qualquer medicamento ou chás caseiros. Em relação às vacinas, a grande maioria se dá na forma leve com febre e dor local. Casos graves podem sim ocorrer, mas com chances mínimas.

 

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