Mãe procura filha desaparecida há mais de 40 anos

Rita de Cássia foi separada da família biológica quando ainda era criança
sexta-feira, 07 de abril de 2017
por Dayane Emrich
“Segui a minha vida, mas nunca esqueci as minhas meninas, elas sempre estiveram nas minhas orações”, conta Maria Helena Cobos de Oliveira, de 73 anos (Foto: Henrique Pinheiro)
“Segui a minha vida, mas nunca esqueci as minhas meninas, elas sempre estiveram nas minhas orações”, conta Maria Helena Cobos de Oliveira, de 73 anos (Foto: Henrique Pinheiro)

A memória de dona Maria Helena Cobos de Oliveira, de 73 anos, falha quando se trata da filha desaparecida. Sabe-se que seu nome de batismo é Rita de Cassia Cobos de Oliveira. A idade não é uma certeza; arrisca dizer que ela tenha hoje algo em torno de 52 anos e, da história que remonta ao final da década de 1960, o que se tem é a vontade do reencontro.

Há cerca de um mês, Maria Helena, mais conhecida como Leninha, sofreu uma queda dentro de casa. Além de quebrar a costela, ela teve o pulmão perfurado. Foram aproximadamente 45 dias internada no hospital. “Eu passei a vida inteira em busca da minha filha. Mas esses dias no hospital me deixaram desesperada. Eu achei que iria morrer sem conseguir ter todos os meus filhos juntos outras vez”, conta, com os olhos marejados.

A história começou em uma casa simples, em um conhecido bairro de Nova Friburgo, as Braunes. Dona Leninha conta que ela e o marido viviam, junto aos oito filhos, uma vida de dificuldades. “Apesar dos problemas, tudo ficou pior quando ele começou a beber muito e apenas eu trabalhava para sustentar a casa. Foi aí que nos separamos e eu fiquei sozinha com as crianças e, para piorar, logo depois perdi o emprego”, afirma.

Leninha explica que, nessa época, resolveu aceitar a ajuda de um vizinho. “Ele e a esposa não eram de Friburgo, moravam na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, mas sempre vinham para cá. Ele me perguntou se eu não queria deixar as crianças com eles, até arrumar um emprego e me ajeitar. Em meio a tantas dificuldades para criar sozinha oito crianças, eu aceitei”. Ali, dona Leninha determinou o seu e o destino de duas das suas filhas...

“A mulher pediu a certidão de nascimento das crianças e disse que iria colocar elas no colégio. Levei quatro: um menino de um ano, uma menina de cinco e as duas maiores, Maria angélica e a Rita de Cassia, de mais ou menos 12 e 11 anos”. Leninha explica que a menina mais nova não quis ficar e que voltou com ela no mesmo dia. Um mês depois, o casal trouxe o bebê, pois ele estaria chorando muito. Maria Angélica e Rita de Cássia ficaram no Rio e nunca mais foram vistas pela mãe.

“O combinado era eu ir buscar elas ou ele trazer. Mas ele nunca veio…” Leninha conta que não tinha dinheiro para ir ao Rio e que havia perdido o endereço do casal. De acordo com o seu relato, ela chegou a procurar o local, mas não encontrou o casal na casa, foi a delegacias e com ajuda dos filhos escreveu para programas de televisão que promoviam reencontros. Além disso, ela destaca que, na época, o contato não era tão fácil quanto hoje em dia “A gente não tinha telefone, internet, nada dessas coisas. Eu não tinha como achar as minhas filhas”.  

Leninha se casou outra vez e teve mais seis filhos, dois frutos do primeiro casamento do novo marido, mas que ela criou como seus. “Segui a minha vida, mas nunca esqueci as minhas meninas, elas sempre estiveram nas minhas orações. Muitas vezes os filhos acham que a mãe abandona porque quer, mas eu tive medo de deixar elas na rua, passando fome. Deixei elas lá no Rio de Janeiro, com o coração partido”, conta enquanto as lágrimas correm pelo rosto.

O reencontro

No fim do mês de março, Dona Leninha teve uma feliz surpresa. Uma de suas filhas que estava desaparecida entrou em contato com a família através de uma rede social. A jovem Ana Clara Cobos, neta de Leninha, explica que viu no Facebook uma mensagem de um rapaz chamado Felipe, se identificando como filho de Maria Angélica. “Ele foi dando detalhes e explicou que adicionou todas as pessoas com sobrenome Cobos que tinham perfil no face. Assim, chegou até mim. Foi aí que contei para minha avó…”, diz a jovem.

“Não acreditei quando minha neta me contou. Achei que era mentira ou alguém querendo se passar pela Maria Angélica. Mas, depois de conversarmos por telefone, não tive dúvidas. Ela contou como era nossa casa, a vida que levávamos… Foi muito emocionante. Meu coração parecia que iria explodir de tanta felicidade”, afirma dona Leninha.

Duas semanas depois, Maria Angélica, 52 anos, mãe de sete filhos, e que hoje mora na cidade de Alvorada, no Rio Grande do Sul, embarcou no avião. Foram oito dias na casa da mãe em Nova Friburgo, onde conheceu os outros irmãos, os sobrinhos e amigos da família.

Ela explica que tinha 12 anos quando foi morar com uma família no Rio. Mas, diferente do que a mãe imaginava, não foi para escola como o prometido. “Passei por diversas famílias, casas onde eu, mesmo criança, trabalhava muito. O meu último patrão era militar e, por isso, nos mudávamos com frequência e, assim, vim parar no Rio Grande do Sul. Perdi o contato com a Ritinha logo após nossa mãe nos deixar no Rio”, conta Maria Angélica, acrescentando que: “Rever a minha mãe o os meus irmãos foi algo maravilhoso, como nos meus sonhos. Passei os últimos 40 anos esperando por esse momento e só tenho a agradecer a Deus e pedir a ele que nos traga a Ritinha”, exclama.  

Quem souber do paradeiro de Rita de Cassia Cobos de Oliveira pode entrar em contato pelos telefones (22) 2522-2035/ (22) 9 9213-9995 (WhatsApp) ou pelo e-mail: redacao@vozdaserra.com.br ou dayane@avozdaserra.com.br.

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