Jovem friburguense representará município na Alerj

Estudante de escola pública desde o ensino fundamental, Leorrane Pereira da Costa fala sobre suas expectativas para o cargo
sexta-feira, 14 de julho de 2017
por Karine Knust
Leorrane Pereira da Costa (Foto: Arquivo AVS)
Leorrane Pereira da Costa (Foto: Arquivo AVS)
Num país onde as mulheres ocupam menos de 15% das cadeiras legislativas, Nova Friburgo vê uma jovem menina sendo eleita para compor o Parlamento Juvenil da Alerj. Em sua 11ª edição, o projeto criado em parceria com a Secretaria estadual de Educação (Seeduc) e da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude visa aproximar os jovens do parlamento fluminense, ampliar a consciência política e formar novas lideranças.

"Depois dessa experiência, acredito que serei melhor”
Ao todo, 97 estudantes terão a responsabilidade de representar seus municípios na sede do legislativo estadual. Os candidatos eleitos visitarão projetos sociais, realizarão cursos de oratória e comunicação, participarão de programações culturais, além de apresentar projetos de lei, debater e propor melhorias em políticas públicas. As propostas serão votadas e as seis aprovadas poderão virar lei no Estado.  

Um desses estudantes é Leorrane Pereira da Costa, de 16 anos. A jovem, que é aluna do 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Augusto Spinelli, no Cônego, vai representar Nova Friburgo na edição deste ano do Parlamento Juvenil, após disputar com quatro meninos e ser eleita com 39% dos votos.  

Em entrevista para o A VOZ DA SERRA, a jovem falou sobre seu planos e expectativas para a nova empreitada. Estudante de escola pública desde o ensino fundamental, Leorrane sonha em ser biomédica, mas vê na política a grande oportunidade de fazer a diferença.

A VOZ DA SERRA - Por que o interesse em participar do Parlamento Juvenil? O que te motivou a tentar uma candidatura?

Leorrane Pereira da Costa - Essa não é a primeira vez que me inscrevo, também tentei em 2016, mas não fui eleita. No ano passado, resolvi participar porque achei muito legal ter a possibilidade de elaborar um projeto que pode vir a se tornar uma lei estadual. Não custava tentar, né? Mas acabei ficando em terceiro lugar. Esse ano o deputado Wanderson Nogueira foi à escola mostrar novamente o que era o Parlamento Juvenil e como tinha sido o processo eleitoral em 2016. A princípio, fiquei com muita vontade de participar, mas estava resistente em me inscrever porque sabia que a rotina seria cansativa. Foi quando um amigo, que participou da edição de 2014, conversou comigo e disse que eu iria gostar e que essa seria uma oportunidade interessante não só para minha vida acadêmica como também para quando eu terminar a escola. Aí decidi fazer a inscrição de novo.

E esse ano você conseguiu! Como acontece a seleção?

Os alunos que desejam se candidatar devem fazer a inscrição no site e já começar a elaborar seus próprios projetos de lei. No caso de escolas com mais de um candidato, acontece a eleição do 1º turno, em que a própria escola vota em quem quer que os represente. Se em alguma escola, como na minha, não houver mais de um candidato, o aluno inscrito passa para o segundo turno direto. Nesta segunda etapa, a votação é aberta para todas as escolas. Os candidatos eleitos na primeira fase vão às demais instituições para falar sobre seus respectivos projetos, realizar debates e pedir votos. A partir disso, é feita a eleição, pela internet.

Quais as principais diferenças da sua candidatura de 2016 para essa de 2017?

Mudei a estratégia. Meu primeiro projeto era em relação a segurança. A ideia era criar uma lei em que fosse obrigatória a ronda diária de policiais e guardas municipais em bairros com maior número de moradores. Esse ano, pensei em algo voltado para os estudantes do ensino médio das escolas públicas. Acredito que isso fez a diferença.

Qual o teor do projeto que você vai apresentar à Alerj?

O projeto pretende criar uma lei que, através de parceria entre Município, Estado e União, possibilite a esses alunos a oportunidade de fazer estágios em órgãos públicos como forma prática de um teste vocacional. Isso para que o estudante possa ter contato prático com a área que pretende se profissionalizar e, assim, possa concluir se é realmente aquilo que ele quer fazer depois que sair da escola. Muita gente mostrou interesse porque uma das nossas maiores dúvidas nessa fase da vida é justamente sobre qual carreira seguir. Ter um contato prático com a profissão que nos interessa antes de tomar uma decisão pode fazer toda a diferença nesse sentido.

E como você chegou a ele? Onde nasceu a ideia?

Troquei ideias com alguns amigos e professores. Meu professor de português deu a ideia de aliar estágio ao meu projeto. Inicialmente, a ideia era fazer algo ligado a eventos culturais, mas acabei descobrindo que já existia um projeto ligado a isso e que não é colocado em prática. Foi aí que falei do estágio para o meu diretor e ele me incentivou a focar nisso.

Você foi a única candidata mulher em Nova Friburgo a concorrer ao Parlamento Juvenil este ano. Como foi essa experiência e como se sente em participar de um ambiente onde a representatividade feminina ainda é muito pequena?

Quando eu percebi que só estava concorrendo com meninos, confesso que fiquei aflita e pensei que sofreria algum tipo de ataque machista. Achei que ouviria que “lugar de mulher não é na política” ou coisas do tipo, que não receberia votos dos meninos e até das demais meninas das escolas. De fato, sofri um pouco de assédio, mas consegui me posicionar bem. Resolvi focar na ideia de que essa era uma oportunidade não só de mostrar que a gente pode fazer o que quiser, como também mostrar que a mulher faz diferença na política. Me sinto muito feliz e, ao mesmo tempo, com uma responsabilidade grande de aproveitar essa chance.

Vivemos um momento no Brasil em que as pessoas têm aversão a políticos, uma grande crise de representatividade. Como você se sente em relação a isso? Você tem vontade de seguir carreira política?

Eu pensava da mesma forma que todo mundo. Sempre olhando para o político com desconfiança. Tinha uma mente bastante fechada e não me interessava pela área até conhecer o parlamento. Depois que conheci, comecei a ter interesse por debates políticos e por acompanhar a vida de alguns representantes dentro e fora do ambiente de trabalho. Comecei a pesquisar o histórico de alguns parlamentares, observar suas condutas e mudei meu pensamento em relação a essa classe. Nem tudo que acontece é exatamente o que a grande mídia mostra. Em relação a seguir carreira, eu ainda não sei. Estou começando a me interessar por essa área agora, mas ainda não pensei em tudo que isso envolve. Sei que será uma experiência muito importante e que vai contar muito para a minha vida profissional, independentemente da carreira que vou seguir.

Diz-se que o jovem é o futuro da nação. Você sente essa responsabilidade?

Sinto muita responsabilidade. Sempre digo que independentemente de quem ganhasse a eleição e se o projeto chegaria à mesa do governador ou não, vamos representar todos os alunos com muito orgulho e mostrar que Nova Friburgo não é só mais um município do Estado do Rio, mas que tem estudantes preocupados com o futuro do país e que querem fazer a diferença. Hoje sei que tenho que tomar cuidado com o que eu falou e faço porque é como se tivesse me tornado um espelho para os jovens. Tem gente que fala que vai ser meu sucessor ano que vem e que vai participar do parlamento porque viu em mim uma capacidade que querem seguir. Não só em relação à política, mas também para mostrar que o jovem é capaz de elaborar coisas concretas e positivas.

Quais são suas expectativas para o Parlamento Juvenil?

Estou bastante ansiosa e acho que só vou acreditar que ganhei quando estiver lá, em novembro. Ainda parece que estou vivendo um sonho. Não imaginei que iria ganhar, estava desacreditada, mas queria ter a oportunidade de fazer a diferença, tanto como mulher quanto como estudante. Agora estou ansiosa para que isso aconteça. Mesmo se minha lei não for aprovada, já vai ter valido a pena. Vou aprender muitas coisas, ter contato com muitas pessoas diferentes, ver a política de outro ângulo. Sou uma Leorrane agora, mas, depois dessa experiência, acredito que serei melhor.

 

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