Iphan e ICMBio vistoriam eucaliptos da Praça Getúlio Vargas

Técnicos dos órgãos produzirão terceiro laudo sobre estado das árvores. Visita foi marcada por protesto do grupo de ativistas que acompanha as ações de revitalização
sexta-feira, 03 de julho de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Três especialistas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto Chico Mendes de Preservação da Biodiversidade (ICMBio) fizeram, na tarde desta quinta-feira, 2, uma rápida visita de reconhecimento dos eucaliptos da Praça Getúlio Vargas, no centro de Nova Friburgo. Eles compõem a equipe que produzirá um novo laudo sobre o estado das árvores centenárias, depois que foram identificadas irregularidades nos dois estudos técnicos que orientaram os cortes de eucaliptos durante a operação realizada no início do ano pela Prefeitura. 

A partir de agora teremos mais uma instituição de credibilidade (ICMBio) envolvida

Alexandre Sanglard, arquiteto

“A partir de agora teremos mais uma instituição de credibilidade (ICMBio) envolvida. Com isso, poderemos dar continuidade a entendimentos e quaisquer esclarecimentos. Este foi mais um passo muito importante e, em breve, com o novo laudo em mãos, esperamos avançar o mais rapidamente possível com o projeto”, observou o arquiteto da Prefeitura, Alexandre Sanglard. A gerente da Fundação Dom João VI, Lilian Barreto, também participou do encontro.

Em maio, um estudo produzido por integrantes do movimento social “Abraço às Árvores – SOS Praça Getúlio Vargas” apontou que a quantidade de árvores que deveriam ser cortadas é muito diferente no laudo produzido a pedido da Prefeitura por técnicos da Universidade Estácio de Sá e no laudo da Technische, empresa contratada pelo Iphan para realizar o estudo técnico. “O laudo do Iphan sugere que 52 árvores sejam cortadas a mais do que o laudo da Estácio. A diferença é de quase 50%. Isso é, cientificamente, muito grave”, disse o arquiteto e ativista Alessandro Rifan durante reunião realizada na Câmara de Vereadores.

O método usado pelos técnicos nos dois primeiros laudos foi o da análise visual, ou seja, o interior das árvores, chamado cerne, não foi avaliado pelos especialistas da Estácio e do Iphan. “Nós consideramos esse método raso. O que nós queremos é um laudo do risco de queda, que seja feita uma radiografia das árvores”, esclareceu Rifan. Diante dos fatos, o superintendente regional do Iphan, Ivo Barreto, se comprometeu a realizar o terceiro laudo.


Ativistas não foram convidados para a vistoria

A visita dos técnicos do ICMBio e Iphan foi marcada por um protesto de integrantes do grupo  “Abraço às Árvores – SOS Praça Getúlio Vargas”. O movimento social não foi comunicado e convidado para acompanhar a visita dos especialistas dos órgãos. Na audiência pública realizada em maio na Câmara, foi acordado que todo o processo seria acompanhado e discutido com a participação de membros do movimento social. Nesta sexta-feira, 3, os ativistas divulgaram uma nota de repúdio. 
Os integrantes do grupo, formado por moradores de Friburgo, foram responsável pela mobilização que culminou com a investigação da operação de poda e cortes das árvores da Praça. Na ocasião, o Ministério Público Federal (MPF), em Nova Friburgo, abriu dois inquéritos para investigar o caso e um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) foi assinado pela Prefeitura. 

O grupo quer evitar que outras árvores sejam cortadas sem necessidade durante as atividades do projeto de revitalização da Praça. Eles ainda pedem rigor na apuração dos fatos e que os responsáveis respondam pelas irregularidades na operação. Mas, a pauta principal do grupo é que a revitalização mantenha as características originais do projeto do paisagista francês, Auguste François Marie Glaziou — o mesmo que projetou os jardins do Nova Friburgo Country Clube, a Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, e o jardim do Museu Imperial, em Petrópolis. A Praça Getúlio Vargas foi tombada como patrimônio histórico pelo Iphan, em 1976, em razão do projeto de Glaziou.

A VOZ DA SERRA entrou em contato com o Iphan e a Prefeitura para que comentassem a reclamação dos manifestantes, mas até o fechamento desta reportagem o e-mail não havia sido respondido. 

Leia a nota de repúdio na íntegra 

“O grupo ‘Abraço às Árvores – SOS Praça Getúlio Vargas’ vem ao longo de aproximadamente um mês tentando se comunicar com o escritório do Iphan no Rio de Janeiro, conforme telefones repassados pelo órgão, mas sem retorno. Desde o último encontro, o grupo não recebeu comunicado algum sobre as próximas reuniões do Grupo de Trabalho, acordada entre os membros do grupo, Iphan e representantes da Comissão de Patrimônio da Câmara Municipal.

A Prefeitura Municipal de Nova Friburgo, desde que se iniciaram as derrubadas arbitrárias e ilegais dos eucaliptos tombados, nunca se colocou à disposição do movimento para o diálogo, e ainda costuma lançar notas falsas dizendo que estaria havendo diálogo com o grupo. 

Em última nota, o setor de comunicação da Prefeitura (Secom) diz que representantes da comunidade fizeram parte das discussões em vistoria realizada no dia 2 de julho. Segundo a nota, “para o arquiteto do EGCP, Alexandre Sanglard, o encontro de hoje foi extremamente produtivo”. O grupo rechaça esta nota, pois se trata de informações falsas. Foi justamente o contrário. Membros do grupo, sabendo da visita através de publicação em jornal local, se deslocaram até a praça; e de forma pró-ativa abordaram os representantes institucionais presentes. Não houve um encontro produtivo conforme diz o arquiteto da Prefeitura, e sim uma abordagem crítica do grupo questionando a continuidade de posturas excludentes e mentirosas, que ainda perduram, como a falta de diálogo, a falta de comunicação, a falta de transparência, e mais recentemente a falta de cumprimento do acordo pactuado em audiência pública com o grupo. 

O grupo “Abraço às Árvores – SOS Praça Getúlio Vargas” rechaça qualquer tentativa de manobra e de exclusão da participação popular nesse processo que definirá o futuro do mais importante patrimônio histórico, cultural e afetivo do lugar.”  

 

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