Homens, libertem-se!

Campanha incentiva os homens a deixarem os estereótipos para trás
segunda-feira, 25 de julho de 2016
por Ana Blue
Projeto Men-Up, do fotógrafo Rion Sabean (www.rionsabean.com/men-ups)
Projeto Men-Up, do fotógrafo Rion Sabean (www.rionsabean.com/men-ups)

Amigo homem: você pode ser um cara sensível. Pode brochar. Você pode chorar, pode saber de cor o nome de divas da música, pode usar rosa choque, pode ser maquiador, bailarino, dono de casa e ter pavor de futebol. Pode preferir rosé à cerveja, sushi à churrascada. Pode ter muitas amigas sem dormir com nenhuma delas, como pode simplesmente não estar a fim de ninguém. E acredite: ganhar um chocolate faz bem pra você também — qualquer dia do mês.

Enfim, num momento tão repleto de intolerância — e, ao mesmo passo, de reflexão — por que não dar voz a todos os lados? Esse é o preceito do movimento “Homens, libertem-se”, que estimula os homens a romperem os estereótipos e padrões de comportamento que igualmente os aprisionam.

A iniciativa, idealizada pela atriz Maíra Lana, é uma parceria do coletivo mo[vi]mento/MG-RJ com o controverso grupo de teatro The Living Theatre, de Nova York, e teve suas primeiras intervenções artísticas realizadas em 2014. As ações, desde então, buscam provocar reflexões sobre as opressões vividas pelos homens, por sua condição. Nesses eventos, a cargo de grupos de teatro de vários estados, são distribuídas saias-cangas com o símbolo no movimento. Artistas como o músico Paulinho Moska, os cartunistas Laerte e Miguel Paiva, os atores Lúcio Mauro Filho, Marcos Breda e Álamo Facó, o escritor Nelson Motta e a historiadora Mary Del Priore estão entre as personalidades que apoiam a ação.

Homens, libertem-se!

Pouco a pouco, os pensamentos fechados se desconstroem. Assim como as mulheres chegam gradativamente a muitos lugares inimagináveis para elas em outros séculos, os homens também têm ocupado espaços que antes não pareciam projetados para eles. Então, a fim de invocá-los a refletir sobre as formas como o machismo os prejudica, a campanha composta por artistas, atores e voluntários acredita ser possível estimular os homens, independentemente da sexualidade, a entenderem os estereótipos impostos por uma sociedade sustentada por um sistema que premia e favorece o patriarcado. Até que ponto o homem deve se encaixar nesse modelo fixo e restrito, indicado pelos papéis sociais a que nos acostumamos, mas não devíamos? Não é hora dele mesmo se libertar do machismo que nos conduziu até aqui?

Basta olhar em volta. Dos homens que você conhece, quantos não se limitam aos padrões de “macho alfa”? A psicóloga Christina Montenegro afirma, em seu livro “Homem ainda não existe”, que o grupo masculino é o único que não se organizou para discutir questões de gênero. Quase todas as reações contra a dominância de gênero, vindas dos homens, são individuais — e não coletivas, como é muito mais comum ver acontecer entre as mulheres, que já há muito tempo discutem questões de gênero e papel social. Ter que corresponder a determinados estereótipos não deixa de ser uma forma de opressão — que também deve ser combatida. Aproveitemos, então, o dia do homem — no Brasil, como bem lembrou Alzimar Andrade na crônica ao lado — para promover essa reflexão: quando derrubaremos, de fato, os muros que nos mantêm separados e, por vezes, inimigos? 

Manifesto "Homens, libertem-se!"

– Quero o fim da obrigatoriedade ao Serviço Militar.
– Posso broxar. O tamanho do meu pau também não importa.
– Posso falir. Quero ser amado por quem eu sou e não pelo que eu tenho.
– Posso ser frágil, sentir medo, pedir socorro, chorar e gritar quando a situação for difícil.
– Posso me cuidar, fazer o que eu quiser com a minha aparência e minha postura, cuidar da minha saúde, do meu bem estar e fazer exame de próstata.
– Posso ser sensível e expressar minha sensibilidade como quiser.
– Posso ser cabeleireiro, decorador, artista, ator, bailarino; posso me maravilhar diante da beleza de uma flor ou do voo dos pássaros.
– Posso recusar me embebedar e me drogar.
– Posso recusar brigar, ser violento, fazer parte de gangues ou de qualquer grupo segregador.
– Posso não gostar de futebol ou de qualquer outro esporte.
– Posso manifestar carinho e dizer que amo meu amigo. Quero viver em uma sociedade em que homens se amem sem que isso seja um tabu.
– Posso ser levado a sério sem ter que usar uma gravata; posso usar saia se eu me sentir mais confortável.
– Posso trocar fraldas, dar a mamadeira e ficar em casa cuidando das crianças.
– Posso deixar meu filho se vestir e se expressar ludicamente como quiser e farei tudo para incentivá-lo a demonstrar seus sentimentos, permitindo que ele chore quando sentir vontade.
– Posso tratar minha filha com o mesmo grau de respeito, liberdade e incentivo com que apoio meu filho.
– Posso admirar uma mulher que eu ache bela com respeito, sem gritaria na rua e me aproximar dela com gentileza, sem forçá-la a nada.
– Eu sei que uma mulher está de saia – ou qualquer outra roupa – porque ela quer e não porque está me convidando para nada.
– Eu sei que uma mulher que transa com quem quiser ou transa no primeiro encontro não é uma vadia, bem como o homem que o faz não é um garanhão; são só pessoas que sentiram desejo.
– Eu nunca comi uma mulher; todas as vezes nós nos comemos.
– Eu não tenho medo de que tanto homens como mulheres tenham poder e ajo de modo que nenhum poder anule o outro.
– Eu sei que o feminismo é uma luta pela igualdade entre todos os indivíduos.
– Eu nunca vou bater numa mulher, não aceito que nenhuma mulher me bata e me posiciono para que nenhum homem ou mulher ache que tem o direito de fazer isso.
– Eu vou me libertar, não para oprimir mais as mulheres, mas para que todos possamos ser livres juntos.
– Eu fui ensinado pela sociedade a ser machista e preciso de ajuda para enxergar caso eu esteja oprimindo alguém com as minhas atitudes.
– Eu não quero mais ouvir a frase “seja homem!”, como se houvesse um modelo fechado de homem a ser seguido. Não sou um rótulo qualquer.
– Quero poder ser eu mesmo, masculino, feminino, louco, são, frágil, forte, tudo e nada disso. E me amarem e aceitarem, não por quem acham que eu deva ser, mas por quem eu sou. E por tudo isso, não sou mais ou menos homem.
– Quero ser mais que um homem, quero ser humano!
– O machismo também me oprime e quero ser um homem livre!

(Coletivo mo[vi]mento/MG-RJ)

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: Moda & Comportamento
Publicidade