Greve do professores estaduais: como será a reposição das aulas?

Paralisação dos educadores caminha para os 90 dias e ainda não há prazo para término
quarta-feira, 25 de maio de 2016
por Karine Knust
O Colégio Estadual Jamil El-Jaick é o único do município ocupado por alunos durante a greve dos educadores que chega a três meses na semana que vem (Foto: Lúcio Cesar Pereira)
O Colégio Estadual Jamil El-Jaick é o único do município ocupado por alunos durante a greve dos educadores que chega a três meses na semana que vem (Foto: Lúcio Cesar Pereira)

Na próxima semana, a greve de professores da rede estadual de ensino completará três meses. De acordo com representantes do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe), em Nova Friburgo, o número de professores grevistas tem oscilado, mas supera os 50%. Com poucos avanços nas negociações e sem previsão de término, um dos maiores questionamentos agora é quanto à reposição das aulas. De acordo com os grevistas, ainda não foi definido como as aulas perdidas durante a greve serão repostas, já que há possibilidade de não haver dias letivos ou sábados suficientes este ano para a compensação.

“A reposição tem que ser feita, obviamente, mas a forma como isso ocorrerá ainda não foi definida. Existem estratégias de reposição de conteúdo que não necessariamente funcionam seguindo os dias letivos. Precisamos primeiro respeitar a demanda das unidades escolares, individualmente, vendo o melhor para pais, alunos e professores para, a partir daí, chegar a uma conclusão. É preciso discutir como as coisas serão feitas e não impor um formato, como o de aulas todos os sábados, feriados ou férias, por exemplo. Existem alternativas de se fazer reposição sem prender o aluno na unidade durante esse período, o ciclo pedagógico de disciplinas é uma delas”, afirma o professor em greve Diogo Coelho.

De acordo com o docente, esse método, chamado de ciclo pedagógico, alterna o quadro de horários pré-existente, mediante acordos entre os professores, para que a disciplina possa ser passada sem muitas interrupções, gerando maior aproveitamento das aulas. 

Com receio de perderem o ano letivo devido à paralisação, alguns alunos têm solicitado transferência para outras unidades estaduais onde o percentual de professores grevistas é menor. “Estou terminando o ensino médio e tenho medo de ter que perder minhas férias para estudar ou ainda não conseguir passar de ano. Por isso, preferi ser transferida para uma escola em que as aulas estejam acontecendo”, revelou uma aluna da rede que preferiu não se identificar. Uma migração de estudantes também foi percebida pela Secretaria Municipal de Educação. “Não temos um levantamento quantitativo. Mas temos tido uma procura pequena para turmas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental”, informou a pasta através de nota.

Para Diogo, essa mudança pode ser reflexo de influências negativas por parte do governo estadual. “Já ficamos sabendo, pelos próprios pais, que estudantes estão sendo incitados pela coordenadoria regional a fazer essa transferência com o pretexto de que se não fizerem serão reprovados. Nossa intenção não é, de forma alguma, prejudicar os alunos”, afirmou o docente.

Ocupação também prossegue

Seguindo o exemplo de escolas estaduais da capital do estado, estudantes do Colégio Estadual Jamil El-Jaick ocuparam a unidade em apoio à greve dos professores. O movimento completou um mês no último dia 18 e, de acordo com organizadores, também não tem prazo para terminar. Com grupos articulados, a ocupação parece estar rendendo resultados positivos para o espaço. Há equipes de limpeza, cozinha, portaria e até jardinagem. As conquistas e as reivindicações que ainda precisam ser atendidas podem ser acompanhadas por um quadro constantemente atualizado que foi colocado no pátio da escola.

No fim do mês passado, a Secretaria Estadual de Educação anunciou o recesso escolar para as escolas ocupadas. Os cartões Riocard dos alunos chegaram a não ser recarregados nessas unidades por alguns dias, mas o benefício já voltou a ser concedido.

Desde que teve início, a mobilização conta com diversas atividades culturais, pedagógicas e esportivas. Para atender os alunos que estão se preparando para o Enem e outros vestibulares, por exemplo, foi criado o “Pré-Ocupa”, um pré-vestibular social que dá acesso às disciplinas necessárias para os exames. De acordo com os organizadores, as aulas são gratuitas, abertas à comunidade e acontecem de segunda a sexta-feira, das18h às 20h. Mais informações sobre o movimento e as atividades realizadas estão disponíveis na página criada pelos próprios alunos — “Ocupação Jamil El-Jaick” — no Facebook.

Reivindicações

Na última terça-feira, 24, o sindicato da categoria, Sepe, realizou uma nova assembleia. Na ocasião, os professores decidiram, por unanimidade, manter a greve por tempo indeterminado. Um dos pedidos é que o governo "abra as contas do estado" para informar que serviços vai priorizar diante da crise, já que, segundo os docentes grevistas, o governo do estado não vem se esforçando para cumprir a pauta de reivindicações da categoria.

Na última segunda-feira, 23, o sindicato divulgou nota em seu site oficial repudiando uma afirmação do governo do estado que informou já estar negociando o fim da greve. “O Sepe também contesta o governador em exercício Francisco Dornelles, que disse ter acordado com o sindicato o fim da greve. Em momento algum a diretoria do sindicato negociou o fim da greve nas audiências com o governo. A diretoria do Sepe sempre deixou claro ao governo que quem decide o fim da greve é a assembleia de profissionais”, esclareceu a nota. 

No próximo dia 2 de junho, quando a greve completa 90 dias, haverá nova assembleia para discutir os rumos da paralisação. Neste mesmo dia, após a plenária, os profissionais farão um ato de protesto em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, em Laranjeiras, no Rio.

Apesar de já terem conquistado algumas de suas reivindicações, os professores pedem mais mudanças: “Cabe ao governo ter uma consciência de que esse modelo vigente de gestão educacional e pedagógica não deu certo. É preciso fazer essa autocrítica e escutar quem lida direta e rotineiramente com essa situação, que são os professores, alunos e a comunidade escolar. O Saerj, por exemplo, gera um gasto de verba muito alto e não traduz a realidade do ensino”, afirma o professor Diogo Coelho, que ainda concluiu: “O governo afirma que está em crise por isso não atende algumas das nossas reivindicações, mas outras categorias tiveram aumento. Há dois anos não temos sequer o reajuste da inflação. Uma das alternativas seria incorporar os auxílios no salário. Sabemos que existe sim uma forma de atender as reivindicações sem ter prejuízos financeiros”.

A VOZ DA SERRA entrou em contato com a Secretaria Estadual de Educação para saber sobre as reivindicações e a situação dos alunos em relação a reposição das aulas, mas até o fechamento desta edição não obteve respostas.

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