Glauber Braga e Jair Bolsonaro trocam acusações na Câmara

Deputados discutiram durante sessão sobre a “cusparada” de Jean Wyllys
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
por Alerrandre Barros
Sessão do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (Foto: TV Câmara)
Sessão do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (Foto: TV Câmara)

Os deputados federais Glauber Braga (Psol) e Jair Bolsonaro (PSC) trocaram acusações durante sessão do Conselho de Ética da Câmara, nesta terça-feira, 9, sobre o caso do deputado Jean Wyllys (Psol), que durante a sessão do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 17 de abril deste ano, cuspiu em Bolsonaro. Wyllys justificou que reagiu aos insultos do parlamentar, que o teria chamado de “queima-rosca”, “bichinha” e “veadinho”.

Durante a sessão, em que testemunhas da “cusparada” foram ouvidas pelo conselho, Bolsonaro negou ter ofendido Wyllys. Ele contou que disse apenas “Tchau, querida”, expressão que estava sendo utilizada pelos deputados favoráveis ao impeachment, e se disse vítima de perseguição.

“Está na cara que é perseguição política. Já respondi a uns 30 processos aqui, o suficiente para me rotular como mau-caráter. Eu peço renúncia do meu mandato se aparecer algo que eu tenha chamado ele (Wyllys) disso ou daquilo”, disse Bolsonaro.

O clima esquentou quando Glauber Braga afirmou que Bolsonaro mentiu quando disse que nunca insultou Jean Wyllys. O deputado friburguense leu uma nota em que o deputado do PSC teria ofendido Wyllys com um comentário homofóbico durante sessão, em maio de 2015, na Câmara, e lembrou que mentir durante sessão pode derrubar um deputado, como aconteceu com o ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha. Bolsonaro não gostou e insinuou que Braga e Wyllys “vivem um caso de amor”.

“O deputado não precisa ficar nervoso por ter feito aqui uma colocação de uma mentira. Eu presenciei por inúmeras vezes o deputado Jair Bolsonaro em comissões, atrás do deputado Jean Wyllys, falando todo tipo de xingamento fora dos microfones, exatamente para fazer com que provas contra si não existissem. O senhor está mentindo, as palavras proferidas pelo senhor aqui são mentirosas”, acusou Glauber Braga.

Bolsonaro disse que Braga não teria moral porque era defensor da guerrilha armada do período da ditadura e reclamou da forma como ele o encarava. “Não faça essa carinha, não... Jean Wyllys vai gostar”, provocou. Glauber rememorou polêmicas envolvendo o deputado do PSC, como quando disse que Maria do Rosário (PT) “não merecia ser estuprada”. Irritado, Bolsonaro atacou o parlamentar do Psol, dizendo que ele “não tem caráter”.

“Não vais me tirar do sério. Ser acusado de qualquer coisa tendo em vista o seu caráter é motivo de orgulho para mim. Faça esse biquinho quando estiver com o Jean Wyllys, ele vai gostar muito dessa carinha”, debochou Bolsonaro, novamente fazendo insinuações de cunho homofóbico.

“A mentira levou ao nervosismo”, rebateu Glauber Braga.

Os depoimentos das testemunhas sobre a ‘cusparada’ começaram a ser colhidos nesta quarta-feira, 9, pelo colegiado. O relator do processo, Ricardo Izar Jr (PP-SP) ouviu os deputados Alberto Fraga (DEM-DF), Chico Alencar (Psol-RJ) e Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) para apurar se Jean quebrou o decoro parlamentar. Na próxima semana serão ouvidas testemunhas de defesa de Wyllys. Cabe ao Conselho de Ética arquivar ou dar continuidade ao processo.

Apologia à tortura

Mais tarde o Conselho de Ética livrou Bolsonaro do processo apologia à tortura. O deputado foi acusado do crime após dedicar seu voto à favor do impeachment de Dilma Rousseff ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido pela Justiça como torturador durante a ditadura militar. Foram 11 votos para arquivar o processo e apenas um a favor do andamento da representação.

Na sessão foi acolhido o voto do deputado Marcos Rogério (DEM), que defendeu o direito de Bolsonaro dizer o que pensa. Ele sustentou que o artigo 53 da Constituição Federal estabelece que deputados e senadores são “invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos” e que por isso não é “razoável” censurar um parlamentar. 

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