Friburguenses cortam gastos e tentam se adaptar aos tempos de recessão

Mudança de hábitos é saída para enfrentar a crise com bom senso e disciplina
sábado, 15 de outubro de 2016
por Ana Borges
(Foto: Arquivo A VOZ DA SERRA)
(Foto: Arquivo A VOZ DA SERRA)

A cada início de um novo dia, com um fiapo de esperança, ligamos a televisão para ver/ouvir as primeiras notícias, torcendo por qualquer fato novo que nos alivie do fardo em que se transformou o nosso cotidiano. Vã esperança. De supetão, somos informados que o panorama econômico continua sombrio, assim como há um ano, sem perspectivas de uma fresta de luz que seja, no fim do túnel. Para pessoa física ou jurídica, a angústia é a mesma.

Na verdade, todo dia recebemos as piores notícias sobre o tamanho e a duração da crise econômica no Brasil. Em quase todos os setores, cada vez mais se ouve falar em queda da demanda, postergação dos investimentos, corte de pessoas. Como as empresas devem reagir a esse cenário de forma a minimizar o impacto da crise e garantir a manutenção das suas operações a médio e longo prazos? E as pessoas, donas de casa, chefes de família, o que fazer para não sucumbir?

A fase da negação — quando os mais otimistas, e/ou os mais bem aquinhoados ainda achavam que a crise era passageira — vem sendo sepultada pelos desanimadores números apresentados diariamente pela economia, embora surjam aqui e ali notícias dando conta de investimentos estrangeiros já acertados. 

Mas a hora ainda é de encarar a realidade e assumir o controle da situação antes que as coisas se tornem tão críticas que não se possa mais controlar ou que o custo para assumir este controle seja maior do que o que se tem para proteger. 

Atrás dessa meta, o brasileiro tem feito das tripas coração para atravessar esse período que não dá mostras de retração, ao contrário, aponta para um alongamento da crise. Mas, o que pode ser feito para sobreviver nesses tempos turbulentos? Se você tem um comércio, uma indústria ou empresa de prestação de serviços, comece desapegando das tradições e nada de se acomodar. Uma das maneiras de sobreviver à crise econômica é saber se adaptar. 

Analistas econômicos aconselham: se o seu produto ou serviço não se enquadra no cenário atual, busque novas alternativas e até mesmo mercado. “Busque identificar novas tendências e oportunidades que possam estar surgindo nestes tempos de crise e parta para uma nova fase do seu negócio. Aproveite sua base instalada para conquistar novos mercados”, insistem. Resumindo: a melhor saída é seguir em frente. 

Quem faz o quê para driblar a crise

Em tempos de indefinição como esta, a população não tem como identificar de onde realmente vem essa crise: é econômica, política ou de segurança? Quem sabe tudo junto? Ou a culpa é da corrupção, a mãe de todas as desgraças que se abateram sobre o país? Seja qual for o mal, é a população mais pobre — como sempre — a que mais sofre. 

Nessa altura, é irrelevante que a “culpa” seja da política, da economia, ou da falta de segurança pública — o certo é que a crise se expandiu e atingiu famílias das várias faixas da classe média, e não se enxerga um caminho, por enquanto.

A dona de casa Gloria Schaffer Duarte Martins, 64 anos, esposa de médico, dois filhos graduados e empregados em outras cidades, moradores de ampla casa em bairro de classe média-alta (padrão Friburgo), por exemplo, deixou de fazer a tradicional “compra do mês” nos moldes antigos. 

Há cerca de seis meses ela vem aproveitando as promoções para fazer estoque e aboliu parte dos produtos de marca. Sua cesta básica virou um cesto, nutrido a qualquer momento, ao sabor dos preços de ocasião. 

“Estou fazendo o que chamam de malabarismo; ‘estou’ malabarista”, diz, rindo, “algo que nunca pensei que um dia seria. Ainda tenho certos produtos de marca na minha lista, mas cortei certos luxos, dispensáveis mesmo, como importados. Talvez corte mais um pouco, principalmente em produtos de limpeza. Como não posso abrir mão de certos empregados, porque casa exige cuidados extras, tenho que cortar no que não faz tanta diferença”, argumentou.

Desde maio, a família do dentista Waldo Souza Lima, 48 anos, vem apertando o cinto. A esposa e os três filhos adolescentes se adaptaram aos novos tempos. A variedade de guloseimas foi drasticamente cortada, lanchinhos no fim de semana com embutidos caros, patês, queijos, ricotas e similares, desapareceram da mesa. O lanchinho continua, mas com outros produtos, de marcas mais em conta, bolo caseiro, complementado pela providencial descoberta da deliciosa e barata tapioca. “Quem não gosta de beijú?”, pergunta Waldo, filho de cearense, citando ainda o típico cuscuz, feito de milharina. 

“Nós temos a vantagem de contar com uma culinária riquíssima, baseada na fartura de alimentos. Brasileiro sempre tem como substituir um prato, optar por outros alimentos, dependendo da safra, da estação, do clima. É um país continental, com solo propício para agricultura, todo ele aproveitável. No que diz respeito à minha família, não tem motivo pra chororô, a crise vai passar e devemos aproveitar essa fase difícil pra experimentar outros hábitos alimentares, outro estilo de vida”, sugeriu o profissional liberal, mais realista do que otimista, mas sem dramas.  

A advogada Renata Stutz Nakami, 36 anos, casada com um empresário e mãe de Mariana, de 10 anos, cortou mais programas de fim de semana do que propriamente consumo. “Nossa prioridade são os estudos. Não cogitamos trocar o colégio da Mariana, nem cortar o curso de inglês da família. Quanto aos alimentos, também não foi preciso fazer grandes alterações, mas estamos mais atentos aos nossos custos, à nossa renda mensal. Agora, saídas para jantar fora, ir até o Rio para assistir peças ou shows, diminuímos bastante desde o ano passado. E não estamos nada otimistas com o futuro mais próximo, nem no ano que vem. Estamos cautelosos com as nossas despesas e reservas”, revelou.       

Como fica o churrasco do fim de semana?

Segundo o IEA (Instituto de Economia Agrícola), o preço da carne deve continuar subindo até dezembro. O preço médio do traseiro bovino com osso, vendido pelos frigoríficos, no mercado atacadista paulista, pulou de R$ 10 o quilo, em agosto, para R$ 12,80, no início de outubro. O motivo: menos pastos, período de entressafra, que se estende por todo o segundo semestre do ano. Portanto, os preços só devem baixar em janeiro. 

A equipe de pecuária do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq), avalia que, até dezembro, o preço da arroba (cerca de 15 quilos) do boi gordo, que recuou de R$ 152 para R$ 151, deve chegar a R$ 158. “Sem pasto, o principal alimento do boi, é preciso dar outro tipo de ração, no caso, o milho, que está mais caro. Então, muito fazendeiro não confinou o boi por causa do custo alto. Com a oferta restrita, o preço da carne sobe”, divulgou o Cepea. E como fica o churrasco do fim de semana? Ficando. Do jeito que o brasileiro é, sempre haverá carne para fazer a festa. 

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