Friburguense recém-formado em engenharia é destaque no Japão

Aluno da Uerj apresentou um projeto sobre software livre em evento internacional
domingo, 26 de abril de 2015
por ALERRANDRE BARROS
O engenheiro em TI Pedro Arthur Souza (Divulgação)
O engenheiro em TI Pedro Arthur Souza (Divulgação)
Pedro Arthur Souza enfrentou 30 horas de viagem dentro de um avião para apresentar um projeto de software livre do outro lado do mundo, no Japão. O estudante recém-formado em Engenharia da Computação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em Nova Friburgo, trabalhou cerca de três meses no sistema operacional FreeBSD, durante o Google Summer of Code, um projeto da gigante de tecnologia norte-americana que financia, por meio de outras organizações, jovens talentos na área de informática em todo o mundo. 

O software livre contribui muito para o avanço da ciência

Pedro Arthur Souza

“Foi uma correria quando soube que fui selecionado para apresentar o projeto. Eu estava fazendo o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e em menos de uma semana eu escrevi o paper (um resumo do projeto) e o enviei para a conferência AsiaBSDCon 2015. Eu não tinha visto, não tinha passaporte. O visto eu tirei três dias antes da viagem e a passagem também”, disse o estudante, de 23 anos, durante uma entrevista no campus da Uerj, na Lagoinha. 

O sistema operacional é um componente fundamental de um computador. Quando o usuário liga a máquina, poucos segundos após ocorre o processo de inicialização do sistema, denominado boot, que aciona a parte de hardware (placas, memórias, HD, drives, etc) e em seguida carrega os arquivos necessários para o funcionamento do sistema. Os itens são colocados na memória RAM e a tela inicial característica de cada sistema é exibida. A partir daí, o sistema operacional assume o comando do computador e o usuário pode usar o mouse, o teclado e outros periféricos que acessam as funcionalidades e aplicativos da máquina.

O Windows — que domina o mercado — o iOS, da Apple, e o Linux são os sistemas operacionais  mais conhecidos em todo o mundo. Mas existem outros tão bons quanto os citados acima. Pedro trabalhou em um deles, o FreeBSD, a versão para usuários comuns do OpenBSD, um dos sistemas operacionais mais seguros do mercado e muito utilizado em servidores que armazenam informações sigilosas e realizam serviços de grande importância que não podem ser interrompidos. Ambos são derivados do BSD, sistema operacional criado na década de 1990.

A contribuição de Pedro

“Um sistema operacional é gigante. Eu trabalhei numa parte pequeninha, mas eles gostaram bastante do resultado. O que eu fiz foi atualizar o boot para uma linguagem de programação mais recente. Essa alteração ainda não foi integrada no sistema operacional porque alguns desenvolvedores do sistema precisam ver se está funcionando direito. Eles têm intenção de colocar a mudança que eu fiz no sistema e disponibilizá-lo para o público”, explicou o estudante, que ainda esclareceu que o FreeBSD ficou melhor para os desenvolvedores. “A linguagem que usavam no sistema era antiga e muito complicada de entender. O desenvolvedor que gostaria de adicionar alguma coisa nova tinha dificuldade nessa parte. Com a minha atualização, o desenvolvedor terá facilidade para adicionar coisas novas na parte de boot”, explicou.  

Assim como o Linux, o FreeBSD é um software livre. Esses programas de computador podem ser usados, copiados e distribuídos livremente, e qualquer usuário pode acessar o código-fonte (a “receita” do sistema) e até modificá-lo. Em um software proprietário, como é denominado o Windows e o iOS, por exemplo, o código-fonte é secreto, e copiar o programa é pirataria, portanto, crime. Apesar de muitas pessoas pensarem o contrário, o mercado do software livre é lucrativo para o desenvolvedor. “A gente não ganha dinheiro só com software pago. No software livre, em vez de você vender o código, o programa, você vende o suporte, a gente vende a funcionalidade. Muitos softwares fechados usam o software livre para construir o fechado. Eu acho que o software livre contribui muito com o avanço da ciência e no uso do dia a dia das pessoas. Um exemplo disso é o Android”, disse Pedro, apontando para o meu celular. “Hoje, muita gente tem o celular com o Android porque é um software livre, construído comunitariamente. Se fosse um software fechado, o custo seria maior para as pessoas e talvez não fosse tão difundido como é hoje”, explicou. O Android é o sistema operacional móvel mais usado no mundo. 

Seis dias em Tóquio

Pedro viajou para Tóquio no dia 9 de março, e ficou seis dias na capital japonesa com todas as despesas pagas por uma organização ligada à Universidade de Ciências de Tóquio, uma das mais prestigiadas da Ásia. “Hotel, passagem e alimentação foram pagos por eles. Eu não gastei quase dinheiro nenhum. Os primeiros dias de conferência foram para o pessoal conversar sobre os projetos, conhecer e assistir outros trabalhos. No último dia, eu apresentei o meu projeto em inglês. Meu inglês não é tão bom, mas eles não são muito rígidos”, contou o estudante. “A apresentação foi tranquila. Eu conhecia o projeto de cor e salteado.”

Essa não foi a primeira vez que Pedro participou do Google Summer of Code. Em 2012, o estudante, o irmão gêmeo dele (que também se formou Engenharia da Computação pela Uerj) e mais dois amigos se inscreveram no programa, mas só Pedro não foi aprovado. Apesar disso, o estudante trabalhou junto com os amigos nos projetos deles. No ano passado, o grupo tentou novamente e, dessa vez, Pedro conseguiu a bolsa e trabalhou no projeto que o levou à Ásia. “Neste ano eu vou tentar de novo. Eu me inscrevi para duas organizações”, disse o estudante. O Google Summer of Code acontece durante o verão norte-americano (junho até setembro) e incentiva jovens desenvolvedores a colaborar com o melhoramento de softwares de código aberto que beneficiem a comunidade. O programa é todo online. Os estudantes desenvolvem atividades diárias pela internet com a orientação de um mentor e recebem U$ 5.500 (mais de R$ 15 mil) para trabalhar durante os três meses no projeto. No ano passado, o programa do Google selecionou 1.296 participantes de diversos países, que colaboraram na construção de programas de 190 organizações de diversas partes do mundo.

Pedro mora no Alto Olaria e sempre estudou em escolas públicas de Nova Friburgo. Ele entrou na Uerj por meio do programa de cotas implantado em 2003 pela universidade. “Por mais que seja triste, o nível da escola pública e o da particular são completamente diferentes. Além da cota, se você não fizer um curso por fora para tentar melhorar, você não consegue entrar na universidade pública. Eu e meu irmão fizemos um preparatório rápido para a prova, que nossa tia conseguiu no Externato Santa Ignez. Sobre as cotas, eu acho que a gente não deve julgar ninguém, mas acho que privilegia quem não merece, mas também ajuda quem merece e precisa. Está equilibrado”, opinou. Pedro e o irmão dele, Caio, agora cursam juntos o mestrado em Modelagem Computacional também na Uerj.

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TAGS: tecnologia | software livre | inovação | UERJ | Nova Friburgo
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