Friburgo sem fronteiras: snowboard, aurora boreal e muita engenharia

"Enquanto no Brasil aprofundamos muito nas matérias sem mesmo saber para que estamos aprendendo, aqui eles tentam ao máximo aplicar o que aprendem"
sábado, 13 de junho de 2015
por Karine Knust
Na primeira parte da série Friburgo Sem Fronteiras contamos a história de Luana Matsuoka, que está aprimorando seus conhecimentos no Japão, por intermédio do programa Ciências sem Fronteiras, do governo federal. Neste fim de semana, você vai conhecer mais dois exemplos de friburguenses que foram para fora do país em busca daquele upgrade no aprendizado.

Conheci outro lado de mim, que com certeza ama viajar, conhecer gente e cultura nova”

Thiago Kirazian, estudante

A primeira viagem de hoje nos leva até o Canadá. Mais especificamente até a Carleton University, em Ottawa, capital do país da América do Norte. A instituição é uma das quinze na nação que abrigam os 6.531 estudantes brasileiros alocados pelo programa, e é o atual lar de Thiago Kirazian, de 21 anos. Ele é aluno do curso de engenharia mecânica da UFRJ e, desde agosto de 2014, está em terras canadenses. “Sempre tive a ideia de estudar fora do país. Sentia curiosidade sobre como seria viver em outro lugar com melhor infraestrutura, com outra cultura, outro clima, outra sociedade, outros princípios… E além de tudo, sempre acreditei em mais oportunidades no exterior”, conta o jovem.

Leia mais:

Estados Unidos - Onde tudo começou
Austrália - Um friburguense na terra dos cangurus
Inglaterra - Rumo à terra da Rainha
Irlanda - As frentes que aqui esfriam não esfriam como lá
Japão - Uma brasileira em busca da sabedoria oriental
Portugal - Mesmo fim, diferentes meios

Na América do Norte, além do Canadá, recebem estudantes brasileiros por meio do Ciência sem Fronteiras os Estados Unidos e o México. Um universo de 28.611 estudantes espalhados pelas 37 unidades destes três países. Thiago foi decidido, e logo optou por tentar uma vaga no Canadá. “A escolha do país foi rápida, cheguei a ficar em dúvida entre Canadá e Austrália. Mas o Canadá foi mais forte. Li também a respeito do mercado na minha área e tudo era muito favorável, inclusive se no futuro eu decida morar aqui. Sem contar que o Canadá sempre esteve entre os cinco melhores países para se morar nos rankings de qualidade de vida. Ah, e preciso dizer que snowboard, aurora boreal e a natureza daqui também me atraíram muito”, explica Thiago, que ressalta outros pontos do processo seletivo que favoreceram a ida para a América do Norte. “No edital do Canadá, você pode escolher três universidades em ordem de preferência. E caso não aceito, o aluno é enviado para outra opção. Eu pesquisei bastante, e segui o ranking das melhores faculdades para minha área. Fui aceito na minha segunda opção, que foi a Carleton University, uma grande universidade na capital.”

Canadian way of life

O Canadá possui população estimada de 35 milhões de pessoas, que utilizam o dólar canadense para as transações financeiras. Por lá, o que mais se fala e ouve pelas ruas é o inglês e o francês, devido à notável influência europeia. A economia é baseada no primeiro setor, com a exploração da agricultura, extração vegetal e exploração do petróleo. A temperatura oscila entre cerca de 20 graus positivos e 15 negativos, frequentemente. Mas apesar de todas essas características, foi algo bem humano que chamou a atenção de Thiago. “Tenho que admitir que as mulheres loiras de olhos claros que vi em todo lugar me chamaram muita atenção”, conta Thiago aos risos, que aproveita para valorizar a infraestrutura do país: “Bem, eu só tinha minhas malas e um mapa da cidade com um ponto no albergue que eu iria dormir até arrumar uma casa para morar, então achei que seria difícil chegar lá. Mas me surpreendi quando cheguei ao ponto de ônibus. Tinha o mapa pra cada linha de ônibus e o respectivo horário. E nem um minuto a mais e nem a menos, meu transporte chegou”.

Mas não foi só a cidade que impressionou Thiago. “No meu primeiro dia na faculdade eu participei de uma apresentação para os novos alunos. Fui muito bem instruído e me impressionei com a infraestrutura da universidade, assim como o incentivo aos esportes, e principalmente com a valorização, a confiança e a disponibilidade dos professores”, conta ele, que hoje já tem uma rotina muito bem definida: “De segunda a quinta eu acordo cedo, vou para a faculdade de ônibus, o que me leva sete minutos. Depois assisto às aulas, que podem ser tutoriais (resolver problemas da matéria), laboratórios (experimentos) ou aulas normais. Em seguida, almoço na faculdade e normalmente faço algum esporte ou academia logo em seguida. Temos horários abertos pra cada esporte, entre eles patinação no gelo, basquete, futebol, atletismo, squash, natação, hockey, futebol americano, baseball”, relaciona Thiago, que ainda acrescenta: “Ao entardecer normalmente curto ir para a biblioteca da faculdade, que é muito confortável para estudar e fazer os trabalhos e projetos. À noite cozinho a comida para o dia seguinte e durmo. De sexta a domingo, tento viajar e fazer uns programas diferentes. A única rotina nos meus fins de semana durante o inverno foi o snowboard, esporte pelo qual me apaixonei”.

Aprendendo na prática

Faltando oito meses para voltar ao Brasil, Thiago reconhece as diferenças do ensino entre os dois países e já percebe as mudanças que essa experiência lhe proporcionou: “Vejo o ensino aqui no Canadá de uma forma mais prática e aplicada. Tenho muito mais provas e em praticamente todas elas posso levar anotações da aula, livro e calculadora. A imagem que tenho é que enquanto no Brasil aprofundamos muito nas matérias sem mesmo saber para que estamos aprendendo, aqui eles tentam ao máximo aplicar o que aprendem”, explica ele. “Minha vida com certeza será diferente. Na verdade, eu já me considero diferente. Acho que essa experiência me ajudou a descobrir quem sou e criar pontos de vista totalmente diferentes do que tinha antes, na minha cabeça ‘pequena’. Criei muitos valores próprios e percebi que quando acho que conheço muito, não conheço nada. Na verdade, conheci outro lado de mim, que com certeza ama viajar, conhecer gente e cultura nova. Passei bastante perrengue e aprendi a me virar com muita coisa. Acho que está sendo um momento muito importante para minha vida e com certeza desejo isso também pros meus filhos no futuro”, concluiu.

  • Thiago Kirazian em frente à Carleton University (Arquivo pessoal)

    Thiago Kirazian em frente à Carleton University (Arquivo pessoal)

  • O friburguense costuma reservar os fins de semana para conferir os pontos turísticos do país (Arquivo pessoal)

    O friburguense costuma reservar os fins de semana para conferir os pontos turísticos do país (Arquivo pessoal)

  • Thiago curtindo as muitas belezas naturais canadenses (Arquivo pessoal)

    Thiago curtindo as muitas belezas naturais canadenses (Arquivo pessoal)

  • Os estudantes friburguenses Thiago Kirazian e Conrado Trigo (Infográfico de A Voz da Serra)

    Os estudantes friburguenses Thiago Kirazian e Conrado Trigo (Infográfico de A Voz da Serra)

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