Filhas de Bamba não deixam a cadência morrer

Giselle e Nathalia Lutterbach herdaram do pai a paixão pelo samba de raiz e fazem sucesso na região
sábado, 21 de abril de 2018
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)

“Na minha casa todo mundo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba”. Martinho da Vila já cantava essa pedra há algumas décadas. Em família de sambista, as filhas são de bamba. Giselle e Nathalia Lutterbach, de 29 e 22 anos, respectivamente, aprenderam em casa o amor pelo samba. No sangue da família, que começou com o pai, Devaldo Silva, o Papagaio, o talento e o amor pelo ritmo fez com que as duas ganhassem os palcos em várias cidades.

Neste domingo, 22, elas se apresentam no bar do pai, o Cantinho do Papagaio (Rua Alexandre Bachine - Córrego Dantas), a partir do meio-dia. O show faz parte da III Feijoada de São Jorge.

As Filhas de Bamba vieram ao estúdio de A VOZ DA SERRA tocar “Contramão”, de autoria delas, e falar um pouco sobre o trabalho da dupla.

 

AVS: As Filhas de Bamba estão sempre tocando em vários lugares da cidade, com o samba de raiz. O samba nunca perdeu a essência, o que comprova, também, o sucesso de vocês.

Nós crescemos ouvindo o samba de raiz e por isso a gente tende a tocar mais essa vertente do estilo, mas isso não impede de termos um jeito inovador de fazer samba. É a nossa identidade. O samba das Filhas de Bamba tem muito a nossa cara.

Como foi o início da carreira?

Nós crescemos fazendo isso. Nosso pai é sambista e sempre lidamos com a música em casa. Crescemos cantando e tocando os instrumentos. Isso fez com que a gente, meio que sem querer, mas automaticamente, incluísse o samba como parte da nossa vida.

O Cantinho do Papagaio se transformou na casa de vocês.

Foi ali que a gente aprendeu cada nota, cada detalhe de música. Meu pai é um cara completo. Gosta muito da arte, de todos os ritmos, mas o samba é realmente o que mexe com o nosso coração.

Quais são suas influências musicais?

Crescemos ouvindo muito Zeca Pagodinho, Clara Nunes, Seu Jorge, Paulinho da Viola, Samba da Nova Geração e Dona Ivone Lara, que infelizmente deixou o mundo do samba de luto na última semana.

Por conta dessa grande perda, vocês programam alguma homenagem a ela, a Primeira Dama do Samba?

Com certeza. No show que iremos fazer este fim de semana, preparamos um set especial só com sucesso de Dona Ivone Lara. Será nossa homenagem a ela.

Ela foi uma fonte de inspiração para muitas mulheres sambistas, mas de todos os estilos. Para vocês, também?

Foi sim, nós ouvimos muito durante a nossa infância. A Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro votou e aprovou que o dia 13 de abril, aniversário de Dona Ivone Lara, será considerado o Dia da Mulher Sambista.

O que falar do legado deixado por Dona Ivone Lara?

Ela deixa um legado maravilhoso de músicas e conquistas. A primeira voz feminina que lutou contra o preconceito e abriu as portas para todas nós. Que bom que ela viveu bastante e esteve entre nós por muito tempo.

Subir ao palco é um ato de resistência?

Vemos que existe um respeito muito grande quando o público vê o nosso trabalho acontecendo. Antes de começarmos a tocar fica aquela desconfiança. Falar que isso não existe é hipocrisia, existe sim. Existe muita mulher sambista, tem muita voz maravilhosa da nova geração e nós estamos trilhando esse caminho também.

E no caminho certo, porque o que não falta é a presença de vocês em vários eventos.

Graças a Deus. Nós somos de Friburgo, mas moramos um tempo em Rio das Ostras e foi lá que a carreira das Filhas de Bamba começou a ficar mais séria. Quando voltamos para cá o pessoal ficou curioso para nos ver tocar e a partir daí os convites não pararam de surgir. No início é só arte e depois quando vai ficando mais sério, você passa a viver da música. O que nós queremos é atingir o maior número de pessoas possíveis e que elas curtam o nosso som.

Nos shows de vocês o público não fica parado. Canta junto e participa. É o que vocês esperam de uma apresentação?

O nosso show é pura energia e é isso que significa a roda de samba , você estar perto do público e perceber o esse público precisa naquele dia. Nós queremos não somente mostrar a nossa cara, mas o nosso trabalho, enviando sempre uma energia positiva para as pessoas e ver o que elas esperam da gente.

O bom da roda de samba é isso, poder estar perto do público e não em cima do palco, longe deles...

A roda de samba acaba sendo um momento quente e um momento de troca entre o artista e o público. As pessoas no Cantinho do Papagaio se sentem em casa porque damos essa liberdade. Todo mundo pode chegar, ninguém paga para entrar. Nós queremos que as pessoas sintam essa vibração do samba porque o samba transmite muita mensagem.

O samba nunca deixou de estar na evidência, mas ultimamente tem crescido muito a procura por eventos desse estilo?

Sentimos que o pagode, o samba, estão voltando a ter destaque na mídia por conta das grandes rodas que acontecem no Rio de Janeiro e em São Paulo, todas lotadas, com movimento muito legal. E nós estamos tentando trazer para Friburgo essa sensação, o samba carioca, o samba de raiz.

A música sertaneja tem ganhado destaque nos últimos anos. Esse destaque, sob a ótica de vocês, torna mais difícil ou não afeta em nada que o samba também fique em destaque?

Tem lugar para todo mundo. O sertanejo está em alta e os cantores estão de parabéns. Os cantores sertanejos são muito unidos, eles não disputam público, se unem. O samba deu uma esfriada em algum momento porque teve uma disputa de grupos de quem tinha mais público, mais CD lançado, quando na verdade era preciso juntar esses grupos.

A mescla de estilos é aprovada pelo público?

Muito aprovada.  Nossos shows são muito democráticos. Nós temos que tocar  o que toca o coração das pessoas. Tem gente que fala que em rádio não toca música legal, mas toca música boa sim. Temos que perder esse preconceito com música nova. Temos esse lema de vir com uma nova roupagem e tocando um pouco de tudo. A galera jovem vai dançar e o pessoal mais antigo, gosta também.

E o que público mais pede nos shows?

Ouvimos muito o público pedir outros estilos e embarcamos nessa onda, tentando agradar e tocamos essas mais pedidas, mas nos nossos shows é de lei ter sucessos de Zeca Pagodinho, Cartola, Ivone Lara, Clara Nunes, Arlindo Cruz, João Martins, Renato Milagres. Temos músicas autorais, também. Quem nos acompanha sabe que nos shows sempre tem essas mais pedidas.

 

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