Fernando Bonan analisa a Copa do Mundo no Brasil

Jornalista da Nova Friburgo AM e da Transamérica fala sobre organização do mundial, manifestações e estádios, além da expectativa sobre o desempenho brasileiro na Copa
terça-feira, 17 de junho de 2014
por Jornal A Voz da Serra
Fernando Bonan analisa a Copa do Mundo no Brasil
Fernando Bonan analisa a Copa do Mundo no Brasil

Felipe Basilio

Vinte e seis anos de jornalismo e uma história na rádio esportiva. Um dos principais nomes da imprensa friburguense, Fernando Bonan cobrirá sua terceira Copa do Mundo como locutor da Rádio Transamérica e coordenador da equipe de esportes da Nova Friburgo AM. Bonan conversou com A VOZ DA SERRA e avaliou situações que envolvem o mundial no Brasil, como manifestações e estádios que dificilmente serão aproveitados após a competição. O jornalista também apontou um jogador que poderia ser aproveitado pelo técnico Felipão para a Copa e deu palpite sobre a final, apostando na recuperação de uma Seleção que não foi tão bem na primeira rodada. 

 

A VOZ DA SERRA: Em relação ao processo de organização da Copa do Mundo, como você analisa tudo o que aconteceu durante esse período, inclusive as manifestações que se intensificaram no ano passado?

Fernando Bonan: Tivemos muito tempo. Foram sete anos desde que a Fifa anunciou que o Brasil seria sede, para que chegássemos hoje com a ansiedade de saber se obras ficariam ou não prontas, se a mobilidade urbana seria satisfatória. Muitas coisas foram deixadas para depois da Copa, faltou organização. Infelizmente, deixar tudo para a última hora faz parte da nossa cultura, não é de agora. Em sete anos, acho que poderíamos ter chegado no ano passado com tudo organizado. Estádios foram construídos e reformados, o funcionamento está bom, mas a mobilidade deixa a desejar. Tínhamos tempo de finalizar tudo para não passar esse aperto e essa vergonha de ter obras que deveriam ter ficado prontas e não ficaram.


E por que a Copa se tornou o foco dessas manifestações?

Se a pessoa quer fazer um protesto, ela vai fazer um evento onde há poucas pessoas e não existe aquele apelo de público? Tendo um outro que vai chamar a atenção do mundo todo, o mundo todo estará ali, naquele país, várias emissoras de rádio e TV, além de jornais, vão cobrir aquele evento, não há nada melhor para fazer as reivindicações. Mas que seja de forma pacífica. Não o que vimos no dia da abertura da Copa, com muita violência. Em algumas cidades, observamos o exagero até da Polícia Militar. Cito um caso de uma abordagem em que pegaram o cidadão, imobilizaram-no e depois o atacaram com spray de pimenta nos olhos. Isso é covardia e gera violência, não é o certo. Acho que o momento é de manifestar, sim, mas não de fazer baderna.


Que tipo de legado moral a Copa do Mundo pode deixar para o Brasil, para aqueles que gostam e os que não gostam de futebol?

Um dos grandes legados é a própria divulgação das belezas naturais do Brasil. Isso levanta a nossa autoestima. Divulgamos que somos um povo feliz, um povo simpático, agregador. Nosso legado moral será relacionado à visibilidade do nosso país. A cerimônia de abertura foi linda, divulgamos nossa cultura. O Brasil não é só índio ou samba, nós temos muita coisa linda pra ser mostrada.


Temos alguns estádios que foram construídos em locais que não possuem apelo das torcidas dos estados, como nas sedes de Cuiabá, Manaus, Natal e Brasília. Como estes estádios devem ser utilizados de forma efetiva após o mundial?

O caderno de encargos da Fifa determina oito sedes para a realização de uma Copa do Mundo. Quem definiu quatro sedes a mais foi o governo brasileiro, justificando que o território é extenso. Foi uma decisão política. Infelizmente, vamos ter elefantes brancos, não serão utilizados da maneira que deveriam ser. Por exemplo: temos o Castelão, o Maracanã, o Mineirão, que são referências, mas em outras vão ter que fazer shows, levar times de grandes centros para jogar lá. A Arena das Dunas é linda, mas não tem apelo. Em Brasília, a mesma coisa. 


Muitos comentaristas afirmam que a Seleção Brasileira não emploga, não encanta mais como há alguns anos. Mas, durante esta Copa do Mundo, nós observamos muitas pessoas com bandeiras nos carros, roupas em verde e amarelo... Como você avalia esta relação entre a seleção e o povo brasileiro?

Nós temos essa cultura, de enaltecer as coisas do nosso país, a nossa bandeira, as nossas cores... Muitos jovens têm o Neymar como ídolo. Essa coisa de vestir a camisa da seleção não é mais massificada como deveria ser. Ali está o amor pela bandeira, pelo nosso país. 


Qual a diferença da identificação dos torcedores da Copa de 94, por exemplo, para o torcedor de 2014?

Lá em 1974, quando eu comecei a acompanhar futebol, nós tínhamos os jogadores jogando no Brasil. Quando a gente tem os caras jogando perto, se cria essa relação de idolatria, diferente de quando os jogadores atuam longe. Antigamente, era muito raro o jogador brasileiro jogar fora do país, e tínhamos uma seleção de atletas que jogavam aqui, o que empolgava muito mais. Era muito mais próximo do torcedor, que se motivava mais. Hoje, os jogadores com 12, 15 anos já vão para a Europa.


O que a realização da Copa do Mundo no Brasil pode proporcionar no jornalismo brasileiro de um modo geral?

Existe uma preparação diferenciada, uma capacitação. Quem não tem uma língua estrangeira passa a fazer um curso. O profissional passa a acompanhar o dia a dia dos outros países e seus campeonatos, busca adquirir mais cultura. Existe um grande intercâmbio de informações. O profissional se prepara não apenas para transmitir, mas para aprender com os outros jornalistas.


A Seleção Brasileira venceu o primeiro desafio contra a Croácia por 3 a 1. O que você espera do time brasileiro na sequência do mundial e quem faltou na lista do Felipão?

Eu estava assistindo à abertura do mundial e, de repente, a televisão focou no Kaká. Todos os jogadores foram abraçá-lo e cumprimentá-lo. O Kaká vestiu as roupas do Brasil e foi pro estádio, diferente do Pato, por exemplo, que foi pra Europa com a namorada. Ele era um jogador que poderia ser aproveitado, um camisa dez que muitos clubes não têm. Acho que poderia ter uma oportunidade. A seleção, pra mim, sempre foi uma das favoritas para ganhar o mundial. Os jogadores se conhecem, se esbarram quase todo fim de semana nos campeonatos europeus, isso facilita muito. O torcedor brasileiro entendeu que precisa abraçar esta seleção. O Brasil tem todas as condições de ganhar a Copa do Mundo.


Qual seu palpite para a final da Copa do Mundo?

Brasil e Espanha, reeditando a final da Copa das Confederações, e o Brasil vence por 2 a 0.



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TAGS: futebol | Copa do Mundo
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