Especulação imobiliária no Cônego preocupa moradores

Devido ao grande número de construções, população teme que o bairro perca sua principal característica: a qualidade de vida
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
por Dayane Emrich
Especulação imobiliária no Cônego preocupa moradores ( Fotos: Amanda Tinoco e Lúcio Cesar Pereira)
Especulação imobiliária no Cônego preocupa moradores ( Fotos: Amanda Tinoco e Lúcio Cesar Pereira)

O Cônego é um dos bairros mais famosos de Nova Friburgo. Conhecido pela tranquilidade, pelo cenário bucólico, natureza exuberante e pelas diversas opções de bares e restaurantes — principalmente os da Rua Deolinda Thurler —, o local é um dos polos gastronômicos da cidade. No entanto, apesar da aparente calmaria, o conhecido "Baixo Cônego” vive tempos de grandes impasses, e entre as dúvidas e receio de alguns dos moradores do bairro está o destino incerto do Casarão do Cônego e de um terreno próximo à Rua José Silva da Silveira, onde, como tudo indica, será construído um novo condomínio. 

O Casarão é uma construção de forte apelo cultural, pois conta parte da história da fundação do bairro e da cidade, já que era a sede da antiga Fazenda do Cônego. Segundo Stella Villela, moradora do bairro há 32 anos, o casarão — localizado na Rua Barão de Lucena — está fechado há mais de sete meses e, recentemente, foi posto à venda. Agora, a grande preocupação de parte dos moradores do Cônego é se a construção será demolida e, por isso, apelam para que o poder público tome posse do prédio e o transforme em um museu ou centro cultural. "Eu acho que o casarão deveria ser tombado. Ele é patrimônio cultural da cidade”, afirma Stella, que aos 67 anos de idade diz que a história de Nova Friburgo está se perdendo aos poucos. 

Outra questão muito discutida e causadora de grandes polêmicas tem sido a construção do futuro condomínio no local, o qual seria composto por sessenta residências. O terreno fica localizado próximo a um córrego e também possui mata nativa — e, por esse motivo, para parte da população local o espaço deveria ser utilizado para a construção de um parque municipal destinado ao lazer dos friburguenses. É o que conta Lílian Marília Carvalho de Araújo, 58 anos de idade e moradora do Cônego desde 2006. "Quem não gostaria de ter um parque para andar de bicicleta, caminhar, passear com a família?”, disse ela. 

Opinião semelhante tem Cláudia Coelho Fontes, 47, que reside no Cônego há 11 anos. "Eu acho que a melhor opção para o terreno seria a construção de um parque. Imagina a confusão que vai ser se construírem sessenta casas ali? Daqui a pouco a beleza da cidade some, todo o nosso verde vai embora”, diz ela, que acrescenta: "O Cônego sempre foi um bairro residencial muito tranquilo. Não acho certo ‘entupir’ de casa. Não que eu seja contra as pessoas morarem aqui, mas se tiver mais gente, tem que haver também mais investimento”, falou.

Há 40 anos vivendo no bairro, o advogado Gilberto Pacheco Rodrigues, 46, afirma que ficou surpreso e preocupado com o projeto. "Um dos meus medos é de que a água do bairro acabe, pois nesses últimos dias já tivemos problemas. Imagina com mais sessenta famílias”, falou.

O crescimento repentino e desordenado do bairro é de fato o principal alvo de reclamações dos moradores do bairro. Stella, por exemplo, diz ser contra a verticalização do Cônego e afirma que, se continuarem a serem feitos novos prédios e obras, se mudará do lugar. Ela diz ainda que acha impossível que a construtora responsável pelo projeto do condomínio consiga realizá-lo dentro das normas e leis. "Tem um riacho dentro do terreno e mata nativa”, explicou ela, se referindo à lei que exige que construções tenham mais de quinze metros de distância do leito de rios e sobre a lei de uso de solo, a qual prevê que 20% de um terreno seja destinado a área verde. 

Stella afirma ainda que o Cônego não suportará a chegada de tantas pessoas. "São 60 residências. Imagine que sejam duas pessoas, pelo menos, em cada casa. Vão ser mais 120 pessoas. São mais carros, mais consumo de água, de luz.”

Segundo o vereador José Sebastião Rabello, mais conhecido como Zezinho do Caminhão, os assuntos começaram a ser debatidos durante a discussão do Plano Diretor do bairro. Sobre o Casarão, Zezinho afirmou não saber se o imóvel está ou não à venda e disse que o pouco que se sabe é fruto de suposições. Ele falou ainda que o bairro está crescendo muito, mas sem qualquer infraestrutura, o que compromete a qualidade de vida dos moradores — antes, um grande atrativo. "As pessoas estão muito assustadas pelo que vem acontecendo no Cônego. Depois do incidente climático em 2011, se implantou uma especulação imobiliária e criou-se a ideia de que o lugar mais seguro de Nova Friburgo é o bairro. Inclusive, os valores dos terrenos e imóveis no local se tornaram assustadores”, disse ele. 

Já sobre a construção do condomínio, o vereador explica que acha difícil reverter o projeto, já que as residências já estão sendo reservadas, e acrescentou: "É um prejuízo para Nova Friburgo, pois é mais uma área que poderia ser preservada. Infelizmente, eu não tenho poder para conter isso, mas manifesto minha opinião contrária a essa quantidade de obra que está sendo feita no bairro. Eu não sou contra o progresso, mas acho que ele tem que vir com bom senso e agregando qualidade de vida à população.” 

A construtora, entretanto, alega que todo o projeto está dentro da lei. "Somos de Nova Friburgo, crescemos e vivemos aqui. O condomínio está totalmente legal, segue as regras e em nenhum momento pensamos em criar algo que comprometesse a qualidade de vida do bairro”, defende o assessor da empresa, ressaltando que o terreno em questão é uma propriedade particular, de uma família do Rio de Janeiro, que, segundo ele, concordou em construir menos unidades para preservar ao máximo o meio ambiente e valorizar, inclusive, o bairro. 

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