Escolas estaduais de Nova Friburgo têm a luz cortada

Suspensão por falta de pagamento pode prejudicar realização de provas do concurso público municipal
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
por Alerrandre Barros e Flávia Namen

A crise econômica do governo estadual já afeta algumas escolas da rede em Nova Friburgo. Na quinta-feira, 10, o fornecimento de energia elétrica de pelo menos cinco colégios estaduais foi cortada porque há cerca de sete meses o governo não paga as contas de luz. Sem verbas, a merenda dos estudantes mudou para reduzir os gastos com gás de cozinha e os serviços de limpeza são realizados em dias alternados. O corte de energia pode prejudicar a realização do concurso público 2015, já que neste domingo, 13, está prevista a aplicação das provas para os candidatos de cargos de nível fundamental.

Pelo menos quatro escolas que tiveram a luz cortada são polos do concurso da Prefeitura, cujo cronograma não pode ser adiado porque os contratos de trabalho dos funcionários temporários vencem no início do próximo ano, segundo o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado pelo governo municipal com o Ministério Público. A Prefeitura disse que pedirá à Energisa que forneça energia elétrica no dia das provas, até que o governo estadual resolva o problema com a concessionária de energia.

A energia elétrica foi cortada nos colégios estaduais Canadá, em Olaria; Professor Jamil El-Jaick, no Centro; Vicente de Moraes, no Prado; Augusto Spinelli, no Cônego e no Ciep 480 Professor Luiz Carlos Veronese, no distrito de Conselheiro Paulino. Mas outras escolas podem ficar sem luz nos próximos dias. “Aqui nós temos energia elétrica, mas estou sabendo que há uma lista de escolas que terão a luz cortada aos poucos por causa do atraso no pagamento das contas”, disse uma fonte de A VOZ DA SERRA que trabalha na rede estadual de educação em Nova Friburgo.

A concessionária de energia elétrica Energisa confirmou que todas as escolas estaduais do município podem ficar sem luz devido ao atraso no pagamento das contas pelo governo do estado. “A empresa ofereceu ao governo estadual, ao longo dos últimos meses e por diversas vezes, possibilidades de parcelamento e renegociação da dívida referente às contas. No entanto, devido à inadimplência de elevado valor e que cresce a cada mês, foi necessária a suspensão do fornecimento de energia de algumas escolas do estado, que está sendo feita gradativamente. Essas medidas poderão atingir as 26 escolas da rede estadual em Nova Friburgo e, caso a inadimplência se mantenha, não restará à empresa outra alternativa”, informou a concessionária em nota.

Mas não é só luz que falta nas escolas estaduais. A crise no governo do estado do Rio de Janeiro já fez a merenda das 1.290 escolas da rede ser trocada para baixar as contas de gás de cozinha. As refeições com arroz, feijão, carne e legumes foram substituídas por lanches com biscoitos, bolos e sucos. A limpeza nos colégios está sendo feita somente em alguns dias da semana, porque os salários dos funcionários terceirizados também estão atrasados.

“Como os alunos do turno da noite farão as provas de recuperação no final do período letivo? Como serão feitos os conselhos de classe? O funcionamento das escola fica prejudicado porque não temos como usar os computadores para lançar as notas dos alunos no sistema de informática”, critica o professor da rede estadual e vereador Pierre Moraes.

Projeto poderá impedir que escolas tenham a luz cortada por falta de pagamento

Ontem, 10, o deputado estadual Comte Bittencourt anunciou que irá propor, no início do próximo ano, um projeto de lei para impedir que serviços essenciais, como a energia elétrica e a água, sejam cortadas das escolas públicas por falta de pagamento dos governos. “Nós estamos acompanhando o caso a já acionamos a Secretaria Estadual de Educação (Seeduc) para que o problema seja resolvido”, disse o parlamentar.

Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informou que está negociando com a Energisa para restabelecer o serviço nas unidades escolares que estão sem energia elétrica. “A Seeduc ressalta, no entanto, que as escolas estão funcionando normalmente”, diz o texto.

Falta de verbas também motiva estudantes do IPRJ a fazer trote solidário

A crise financeira do estado também motivou um protesto inusitado que chamou a atenção de quem passou quinta-feira, 10, pela Praça Dermeval Barbosa Moreira. Estudantes do Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ-Uerj), campus Nova Friburgo, promoveram um trote solidário nas imediações do Centro de Turismo para arrecadar alimentos não perecíveis e contribuições em dinheiro junto à comunidade. As doações irão compor cestas natalinas destinadas aos terceirizados da instituição, que estão com os salários atrasados. A iniciativa mobilizou cerca de 20 estudantes e contou com panfletagem e cartazes de protesto contra a inadimplência no governo Pezão.

O sentimento de indignação quanto aos problemas que a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) vem enfrentando nas unidades da capital e do interior estavam expressos nos folhetos e cartazes pendurados pela praça. “Fim de ano chegando e a gente assim, oh, sem salário e sem décimo terceiro”, destacava uma frase contida no panfleto. Nos cartazes, apelos para o pagamento imediato dos salários e bolsas de auxílio aos estudantes além de mais investimentos na estrutura do IPRJ. O corte de 26% no orçamento para 2016 também foi criticado no folheto.

A ação na praça somou-se à arrecadação que vem sendo feita pelos alunos desde a semana passada nas ruas da cidade. “Aqui no IPRJ temos 50 terceirizados sem receber e os alunos se uniram numa campanha solidária para montar cestas básicas para esses funcionários e suas famílias. Temos cerca de 800 quilos de alimentos doados e já contabilizados e estamos próximos de bater a nossa cota. O que sobrar será destinado a outras unidades ou entidades assistenciais da cidade", disse o estudante do curso de Engenharia Mecânica Arthur Moura, que também integra o Centro Acadêmico do Instituto Politécnico (Caip) lembrando que as aulas no IPRJ estão paralisadas desde o início do mês, a exemplo do que ocorre no Rio e em outras unidades da instituição.

Foto da galeria
A iniciativa mobilizou cerca de 20 estudantes e contou com panfletagem e cartazes de protesto quanto aos problemas que a Uerj enfrenta (Foto: Flávia Namen)
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