Embrapa trabalha na disseminação de nova forma de cultivo de tomate

Produtores de Nova Friburgo já trabalham com o Tomatec
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
por Eloir Perdigão
José Ronaldo: Tomatec surgiu em função de uma demanda ambiental
José Ronaldo: Tomatec surgiu em função de uma demanda ambiental

Que tal ter à mesa um tomate cultivado de forma sustentável, saudável, livre de pragas? Isso é possível com o programa Tomatec, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que mantém um escritório em Nova Friburgo, na Avenida Alberto Braune 223, prédio anexo à prefeitura. Produtores rurais de diversas regiões do estado aderiram a esse programa, inclusive de Nova Friburgo.

O engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa e também produtor José Ronaldo de Macedo explica que o Tomatec surgiu em função de uma demanda ambiental e de uma necessidade. Ele conta que, em 1995, a equipe da Embrapa trabalhava com áreas de conservação de microbacias e em Paty do Alferes, no Vale do Café, Sul fluminense, o tomate era a principal cultura. A degradação do ambiente era grande, incluindo aí o assoreamento dos rios, uso inadequado e contaminação por agrotóxicos, aração morro abaixo e uma série de práticas incorretas. A falta de orientação dos produtores gerava o uso indiscriminado de agrotóxicos.

E o sistema Tomatec surgiu justamente para organizar o sistema de produção do tomate, focando a conservação do solo, baseado no plantio direto, práticas de conservação, utilização do uso da água e do adubo através de fertirrigação e passou a produzir o tomate na forma vertical, com fitilho, tendo como base o manejo integrado de pragas (MIP), que indica ao técnico o momento exato de fazer a pulverização e qual produto usar e na quantidade certa.

A fase final do sistema consistiu no ensacamento das pencas de tomate—com sacos de papel glassine, impermeável, o mesmo usado para a produção de goiaba—, que teve dupla função: proteger o fruto do ataque das brocas (evitando a aplicação de qualquer produto de controle de brocas) e uma barreira física contra os resíduos de agrotóxicos. O processo permite colher 100% dos frutos. Com isto foi resolvido o problema da degradação ambiental com esse sistema de produção, que permitiu conservar o solo e produzir um fruto saudável.

Satisfação na mesa do consumidor

José Ronaldo salienta que a população quer consumir um produto sem resíduos de agrotóxico, o que já começa a tornar-se possível com a adoção do Tomatec. A questão ambiental fica por conta dos técnicos, e a equipe da Embrapa tem a preocupação de conservar o meio ambiente, com a redução do número de aplicações de agrotóxicos, com o manejo e conservação do solo, que atende ao produtor e aos anseios do sistema de produção.

Ao consumidor oferta-se um produto de qualidade através da rede de supermercados Zona Sul, na capital do estado. A rede foi, segundo José Ronaldo, um divisor de águas para o sistema Tomatec. Reconheceu o valor do produto, pois remunera muito bem os produtores, de forma satisfatória, inclusive com preço mais acessível ao consumidor. Mas a procura acabou sendo maior que a oferta. “Nós estamos com um problema agradável”, diz José Ronaldo, entre risos. É preciso aumentar a produção em tempo hábil para atender a esse aumento de demanda. O pesquisador crê que em cinco meses os produtores poderão atender a rede Zona Sul em sua plenitude. Por enquanto, só os supermercados da rede carioca vendem o Tomatec, mas o produto poderá chegar a outros supermercados.

Em Nova Friburgo

O programa Tomatec foi desenvolvido em Nova Friburgo pela primeira vez em 2010. Mas a produção da lavoura do casal Lindon Johson Ferreira e Margarete Satsumi Tiba Ferreira, na região de Fazendo do Rio Grande, no distrito de Campo do Coelho, que seria lançada no mercado, foi soterrada pelo desastre de 2011. A produção foi perdida na ocasião. Mas eles não desistiram e tornaram a cultivar com essa tecnologia e hoje são produtores fundamentais do sistema. Outras produções friburguenses de destaque do Tomatec são das irmãs Silvana e Marilda, da comunidade de Salinas; e de Carlos Dantas, produtor em estufa, também da região do 3º distrito.

Outros produtores do Tomatec no estado são o próprio José Ronaldo, em Tanguá; André, em Teresópolis; Arilton, em Trajano de Morais; e Roberto Ferreira, em São Sebastião do Alto, um grande produtor no distrito de Valão do Barro. De acordo com José Ronaldo, há perspectiva de aumento de demanda do Tomatec, inclusive para atender aos interesses de comerciantes de Campinas-SP.

Encontro latino-americano

O pesquisador da Embrapa adiantou uma boa notícia. Está sendo organizado para 15 de dezembro deste ano um encontro latino-americano, com a presença de diversos produtores, representantes de países da América Latina, com a proposta de que conheçam o Tomatec e levem essa tecnologia para seus países. E o evento será em Nova Friburgo, em data e local ainda em aberto.

A escolha de Nova Friburgo para a realização desse encontro sobre o Tomatec se deve ao fato de o município ser um dos precursores e estar na frente em número de produtores de tomate com essa tecnologia. O patrocínio é da Syngenta, empresa multinacional de produção de agrotóxico, que incorporou o conceito de “produzir mais com menos”, que vem a ser a mesma tecnologia do Tomatec, ou seja, produzir mais (tomates) com menos (agrotóxico, menos adubo, uso mais eficiente da água, sem erosão). “É um ‘menos’ mais amplo. Nosso enfoque não é só o agrotóxico, e sim, menos problemas ambientais no geral”, finaliza José Ronaldo.

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TAGS: tomatec | tomate | agricultura | agrotóxico
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