Em meio a crise, alunos cogitam sair do Instituto Politécnico da Uerj

Início das aulas do segundo semestre de 2016 foi adiado pela quarta vez
sexta-feira, 03 de fevereiro de 2017
por Alerrandre Barros
Faixas pretas foram afixadas em sinal de luto no IPRJ (Fotos: Henrique Pinheiro)
Faixas pretas foram afixadas em sinal de luto no IPRJ (Fotos: Henrique Pinheiro)

A incerteza sobre o início das aulas no Instituto Politécnico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IPRJ-Uerj), em Nova Friburgo, pode causar a evasão de estudantes nos próximos meses. No fim da semana passada, a instituição adiou pela quarta vez o segundo semestre letivo de 2016, atrasado pela greve do ano passado e previsto, agora, para começar no dia 13 de fevereiro.

“O grande problema dessa situação é a incerteza. Ninguém sabe se a condição da Uerj vai ser regularizada, e se sim, quando”, desabafa o estudante do quarto período de engenharia da computação, Marcus Vinícius de Oliveira Correia. “Isso compromete qualquer plano que alunos, professores e técnicos possam fazer para o futuro. Eu estou vendo um fluxo grande alunos pensando em sair da Uerj e, inclusive, eu também cogito essa possibilidade”.

Marcus mora em Nova Friburgo desde que nasceu, há 20 anos, mas há muitos estudantes do Instituto Politécnico que vêm de outras cidades e passam por dificuldades, porque dependem de uma bolsa paga pelo governo para permanecer na universidade. “A situação de quem é de fora de Friburgo é terrível, por causa das despesas com moradia, alimentação, etc”, disse.

A frustração de estudantes com a crise na universidade começa a aparecer nas estatísticas do vestibular. O número de inscritos nas duas últimas seleções para o IPRJ caiu 21,8%. Em 2015, 225 candidatos se inscreveram para concorrer a uma das quarenta vagas no curso de engenharia de computação. Em 2016, o número foi menor, 180. O mesmo ocorreu com engenharia mecânica: 365 inscritos em 2015, mas apenas 281 em 2016. O curso oferece 80 vagas em Nova Friburgo.

A VOZ DA SERRA pediu dados sobre a evasão estudantil no IPRJ, mas a direção da unidade não estava na cidade na última sexta-feira, 3, para comentar o assunto.

No ano passado, estudantes viram seus planos serem atrasados em cinco meses por causa da greve de docentes e técnicos-administrativos. Os servidores cruzaram os braços por mais de 150 dias em protesto contra a situação de penúria da universidade. A paralisação atrasou o início do segundo semestre de 2016, que desde então já foi adiado quatro vezes, porque, segundo o Fórum de Diretores, a instituição não pode começar as atividades sem recursos.

A Uerj tem uma dívida de R$ 360 milhões com servidores, cujos salários vêm sendo depositados com atraso e em parcelas, fornecedores e empresas que prestam serviços de limpeza, manutenção e vigilância. No IPRJ, o fornecimento de água e luz só não foi cortado por determinação da Justiça. O atraso nos repasses do governo do estado está impedindo o pagamento de bolsas, prejudicando projetos de pesquisa no instituto. Os técnicos e professores voltaram a cruzar os braços no mês passado.

“O governo não paga as empresas em dia, por isso ocorrem pequenos atrasos no pagamento dos terceirizados. Apesar disso, eles estão trabalhando normalmente no instituto. Os servidores, porém, ainda não receberam o décimo terceiro. Fica difícil funcionar nessas condições”, desabafou o diretor do IPRJ, Ricardo Barros, em janeiro.

No prédio do instituto, na Vila Amélia, foram afixadas faixas pretas em sinal de luto e cartazes com mensagens de protesto. Nas redes sociais, alunos, ex-alunos e professores estão compartilhando depoimentos com a frase “Não ao fechamento da Uerj” e a hastag #UerjResiste em protesto contra a situação de abandono da universidade. Na última semana, a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo (Acianf) divulgou nota em favor da instituição.

O governo estadual afirmou que tem concentrado esforços na busca de soluções para a superação do atual quadro de graves dificuldades enfrentadas pela instituição. No fim do mês passado, Pezão fechou acordo de ajuda financeira com o governo federal. Em troca de empréstimos para minimizar o déficit nas contas e da antecipação de rendas futuras de royalties do petróleo, o governo fluminense deverá entrar em um programa de ajuste fiscal pelos próximos três anos. O pacote austero, porém, depende da aprovação do Congresso e da Alerj

 

Foto da galeria
Cartazes com mensagens que defendem universidade e criticam o governo
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