Se na época dos nossos pais sucesso era fazer carreira em uma boa empresa, para a nova geração a eterna busca por bons resultados e felicidade profissional tem ganhado um novo nome: empreendedorismo. De acordo com pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), feita no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), em dez anos, a taxa total de pessoas que criaram seus próprios negócios no Brasil aumentou de 23%, em 2004, para 34,5% em 2015. Destes, 52% estão na faixa de 18 a 34 anos. Ainda segundo a pesquisa, de cada 100 brasileiros que começam um negócio próprio, 71 são motivados por uma oportunidade.
Viviane Botelho, de 24 anos, Gustavo Coelho e Victor Gomes, ambos de 25 anos fazem parte deste grupo. A amizade os uniu e o desejo de conquistar a independência financeira os transformou em sócios. Mas, o começo da carreira como empreendedores foi bem diferente. Viviane, por exemplo, é formada em jornalismo e antes de dar início aos seus próprios trabalhos, só tinha tido experiências profissionais em estágios na área. Mesmo sem nunca ter pensado em empreender, a jornalista e editora de imagem deixou diversas oportunidades tentadoras na Cidade Maravilhosa para agarrar o desafio de criar seu próprio negócio.
Diferente de Viviane, Gustavo começou a perceber que nasceu para o negócio quando ainda era adolescente. Diagnosticado hiperativo com 12 anos, o jovem foi orientado pelo médico a investir em alternativas que ocupassem a sua atenção. Entre o basquete e os trabalhos manuais, Gustavo se encontrou na arte, criou uma marca de bolsas e acessórios que levavam seu nome e com 18 anos montou sua primeira loja. O espaço era tão cool, que gerou o interesse de muitos empresários e Gustavo começou a ser procurado para dar consultorias. A crise e a percepção de um novo e amplo mercado fez com que o empreendedor deixasse o comércio e se transformasse em consultor de marketing e moda.
Ainda neste grupo, está Victor Gomes. Com vários trabalhos de carteira assinada, o designer e programador percebeu na crise a chance de mudança profissional. A instabilidade financeira fez com que ele se transformasse de funcionário regularizado em freelancer de seu antigo chefe. Quanto mais trabalhava, mais conquistava novos clientes até se tornar um empreendedor.
O start para unir os amigos também no ambiente profissional foi em 2016, com a criação de um canal no Youtube, o ‘Tia Márcia quer falar’. Atualmente, além de produzirem canais, o grupo se dedica a uma série de ocupações. “Começamos com trabalhos paralelos, todos nós tínhamos os nossos próprios clientes, e continuamos com alguns, mas criamos um combo de serviços juntos e começamos a sentir o mercado se movimentando a nosso favor em novembro de 2016. A gente se completa muito. Eu tenho uma visão para o marketing e moda, a Viviane é editora de imagem e jornalista e o Victor é design e programador. Somos uma produtora, agência de marketing, visual merchandising com foco em mídias sociais e damos consultoria a empresas físicas e e-commerce”, conta Gustavo.
Meu escritório é na... casa!
Um bom computador, um smartphone e uma conexão confiável à internet. Grande parte dos trabalhadores modernos não precisa de muito mais do que isso para cumprir as tarefas do dia a dia. E é nessa facilidade que se encontra uma nova modalidade de rotina de trabalho que se tornou preferência para muita gente, principalmente para aqueles que estão empreendendo: o home office.
É na casa do Gustavo que o grupo se reúne para cumprir parte do trabalho. Além da tranquilidade do ambiente e da flexibilidade de horários, a equipe conta que há ainda muitas vantagens nessa opção. “Estamos percebendo que o mercado está seguindo mais o caminho do home office, da liberdade, da terceirização. E isso é bacana para todo mundo: pra nós, porque conseguimos ter uma gama enorme de clientes e trabalhar para um monte de gente bacana que a gente escolhe, e para o próprio cliente que contrata uma equipe com custo operacional muito menor porque não pagamos funcionários, luz, água, coisas que oneram o valor final”, diz Gustavo.
Para Viviane, outra vantagem de um ambiente de trabalho flexível é a possibilidade de se adequar a rotina do próprio cliente. “A partir do momento que você tem um espaço físico você se limita. O dono de uma empresa geralmente não tem disponibilidade para reuniões em horário comercial. E aí, quem trabalha com flexibilidade consegue suprir essa questão. Nós vamos até a casa do cliente, nos reunimos em cafeteria e atendemos na hora que ele puder”, conta.
Visão de mercado, iniciativa e muita força de vontade
Quem passa pela Rua Prefeito José Eugênio Müller durante a tarde certamente já se deparou com um simpático rapaz com roupa social e acompanhado de um carrinho próximo ao Senai. Paulo José de Almeida Junior, 39 anos, começou a empreender quando ainda estava na casa dos 20 e poucos anos. Sem medo de se arriscar, ele já foi montador de móveis, carpinteiro, tecelão e, hoje, se aventura no ramo da panificação. Criado em janeiro deste ano, o food cart Donuts Club já caiu no gosto de muita gente e é difícil parar para bater um papo com Júnior sem ser interrompido por alguém em busca de comprar alguns de seus deliciosos donuts.
A ideia de vender o doce não foi por acaso. Júnior conta que primeiro foi preciso encontrar algo que ainda fosse escasso no mercado e possível de investir. “Era tecelão e surgiu uma oportunidade de pegar uma lanchonete na Ponte da Saudade. Queria colocar alguma opção diferenciada para vender porque lanchonete tem várias por aí. Já mexia com panificação como curioso e a partir daí eu e minha esposa começamos a pesquisar as possibilidades. Foi aí que concluímos que o donuts poderia ser uma boa opção. É uma coisa diferenciada e difícil de achar na cidade”, diz o empreendedor.
Apesar dos donuts com receita originalmente americana chamarem a atenção da clientela, Júnior conta que só a iguaria não era capaz de manter a lanchonete de portas abertas. Foi aí que surgiu mais uma ideia: transformar o doce em seu empreendimento principal. “A lanchonete ficou apenas três meses aberta, precisávamos vir para o Centro, mas pagar por uma loja era inviável. Voltamos a pensar no que fazer e chegamos a conclusão de que como estava em alta o estilo pensamos em fazer um food cart. O resultado tem sido ótimo, bem maior do que quando tínhamos lanchonete e isso me surpreendeu”.
Que o negócio tem dado certo, não há dúvidas, mas Júnior e a esposa, Gisele Rodrigues, querem mais. “Já fiz muitas coisas, já trabalhei com carteira assinada e tudo mais. Mas sinto uma vontade muito grande de crescer e inovar. Aqui eu tenho essa possibilidade. O que eu produzo eu vendo e já não estou dando conta. Muita gente até já procura contratar a gente para festas, mas ainda não temos uma produção estruturada para atender a demanda. Agora, a ideia é transformar o negócio em franquia”, almeja ele.
O segredo
Ainda segundo pesquisa divulgada em 2015, ter o próprio negócio é o terceiro maior sonho do brasileiro, atrás de comprar a casa própria e viajar pelo país. Mas é preciso reconhecer que a tarefa é árdua e demanda profissionalismo, comprometimento e dedicação. Para Gustavo, Viviane e Victor, o segredo também está na confiança e no amor.
“O que nos liga é a nossa amizade de anos, a confiança que temos um no outro e, principalmente, o fato de que respiramos trabalho, não temos corpo mole”, conta Viviane. “As pessoas se limitam a profissão, só que essa geração percebeu que a gente não é profissão, a gente é habilidade. É preciso fazer de tudo um pouco”, acrescenta Victor. “Se entender é o principal. Olhar para dentro e descobrir o que gosta de fazer, o que faria apaixonado, o que faria de graça. De todos, esse é o grande segredo. Sucesso e dinheiro são consequências de um trabalho bem feito e movimento gera movimento. Quando você começa a fazer as coisas, as pessoas te veem e passam a conhecer o seu trabalho e aí você começa a se descobrir também. Talvez coisas que você nunca pensou em fazer e o que faz de melhor. Saber o que você faria de graça é justamente aquilo que você faria para o resto da sua vida”, conclui Gustavo.
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