A dimensão histórica de Deccache

Um artigo de Fábio Nicoliello, autor do livro “Esperança FC: 100 Anos”
sexta-feira, 20 de maio de 2016
por Fábio Nicoliello
A dimensão histórica de Deccache

Antonio Felippe Deccache (1930-2016) foi muito mais do que um grande desportista. Trata-se de um benemérito desta terra, deixando um exemplo de que o sonho coletivo é, sempre, possível.

Os seus feitos memoráveis à frente do extinto Fluminense A.C. e do respectivo substituto, o Friburguense A.C., são de conhecimento público. Antes de existirem cursos de especialização e MBAs em gestão esportiva, Deccache já implementava seus conhecimentos científicos em Administração e Economia para dirigir as entidades esportivas às quais se vinculou.

“Sem espaço não há progresso.” Ele repetia sem cessar a frase, como uma marca de sua trajetória como dirigente esportivo. Sob o primado, iniciou a “Era das Fusões” em fins da década de 1950, quando assumiu o cargo de Procurador do antigo Esperança F.C.

O procurador de um clube era um legítimo superintendente, cuidando de todo o dia a dia. Muito antes dos atuais MBAs em gestão esportiva, liderou uma ampla reestruturação administrativa com vistas à liquidação do passivo e à geração de novas fontes de receitas.

Foi o primeiro cartola local a introduzir a economia do entretenimento na cidade. Com a realização de um show no Estádio Coronel Oscar Machado — onde, atualmente, situa-se um condomínio residencial de alto padrão — levantou recursos para saldar o passivo tributário esperancista e deixou o clube em uma confortável situação econômica, passando do estado de insolvência para um confortável superávit.

Mesmo de fora, exerceu influência sobre o esmeraldino de Luiza Carpenter. Já nos anos 70, preocupado com os planos alvirrubros de se fundir a outra entidade (no caso, o Esporte Clube Filó), foi fundamental no convencimento do empresário espanhol Jose Alvarez Gomez (1903–1976) sobre a incorporação do Esporte Clube Conselheiro Paulino pelo Esperança F.C., fato ocorrido em 1974.

Naqueles tempos, o Fluminense A.C. já despontava como a grande potência esportiva. O Azulino investia, maciçamente, em modernização de estrutura, contando com um parque esportivo sem igual no interior do estado. Note-se que o Estádio Eduardo Guinle, até 1990, figurou entre os quatro maiores estádios do estado, perdendo, apenas, para o Maracanã, São Januário e Raulino de Oliveira, em Volta Redonda.

Seu grande desejo de formar uma entidade esportiva da cidade, acima das fanáticas paixões clubísticas, não se consumou. O Esperança F.C. optou por se fundir ao Friburgo F.C. em 1979, em um sinal de bipolarização do futebol local. Desse modo, liderou a coalização para a fusão com o Serrano F.C., de Olaria, formando o Friburguense A.C.

O Friburgo F.C. tentou e foi bicampeão da Segunda Divisão Estadual, jamais alcançando a elite. O fato, contudo, é que o pioneirismo de Deccache fez do Friburguense Atlético Clube o único time profissional da cidade até hoje.

Enfim, Nova Friburgo está mais pobre. Mais pobre de paixão, mais pobre de amor, mais pobre de sonho... Mas, sobretudo, saudosa: saudosa de Antônio Felippe Decache, o maior dirigente do futebol friburguense de todos os tempos.

Vá em paz, Deccache! Repouse na eternidade, na certeza de que por onde o senhor passou, o local nunca mais foi o mesmo.

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