Dificuldades financeiras teriam levado Real a vender Faol

Gratuidade e altos índices de manutenção da frota em Friburgo estariam por trás da troca de comando. Prefeitura diz não ter sido notificada
segunda-feira, 15 de maio de 2017
por Alerrandre Barros
Ônibus da Faol perfilados (Foto: Jordan Silva)
Ônibus da Faol perfilados (Foto: Jordan Silva)

Dois dias depois de o site de A VOZ DA SERRA ter noticiado com exclusividade, no sábado  13, a venda da Faol para um novo grupo, a Prefeitura de Nova Friburgo afirmou nesta segunda, 15, ainda não ter sido notificada do negócio. Conforme informações reveladas ao jornal, a Friburgo Auto Ônibus Ltda (Faol) foi repassada para um consórcio formado pelas viações Coesa, Pavunense e Expresso Recreio, ambas com operação no Rio de Janeiro e na Região Metropolitana. O Grupo Real repassou o controle da concessionária para o novo conglomerado porque anda com dificuldades financeiras, agravadas sobretudo pelo modelo de gratuidade em Friburgo e os altos custos de manutenção da frota que circula pela cidade. É a segunda vez que a empresa é vendida nos últimos cinco anos.

Em nota, a prefeitura limtou-se a informar: “O contrato de concessão determina que o Executivo seja notificado sobre isto. Portanto, o poder concedente está aguardando notificação oficial da concessionária”.

A lei federal 8.987/1995, que regula as concessões e permissões da prestação de serviços públicos, proíbe mudar a composição de concessionáriaa sem autorização pública, sob risco de anulação do contrato. Na Faol, ninguém quis comentar o assunto. A Real também não foi encontrada para esclarecer e dar mais detalhes sobre a venda.

A mudança no comando da Faol foi comunicada à diretoria durante uma reunião na última sexta-feira, 12, na sede da concessionária, no distrito de Conselheiro Paulino. O boato se espalhou pela cidade e foi confirmado por A VOZ DA SERRA. Paulo Valente é o novo executivo da companhia. A notícia da venda pegou muita gente de surpresa, inclusive no governo, entre funcionários da empresa e nos sindicatos que representam a concessionária e empregados do setor.

Enquanto o prefeito Renato Bravo aguarda a notificação oficial da Faol, o presidente da comissão que acompanha a fiscalização dos serviços públicos e concedidos da Câmara Municipal de Nova Friburgo, vereador Janio de Carvalho (PSDC), disse que também não sabia que a Faol seria vendida. “Não sabíamos disso. Na próxima quarta-feira, 18, vamos encaminhar um ofício à empresa para que esclareça algumas informações”, disse o vereador.

A Real adquiriu a Faol em junho de 2012 como estratégia de ampliação do grupo, que já atuava no Rio de Janeiro e em São Paulo. Logo depois que assumiu a companhia friburguense, a Real começou a ter prejuízos que, segundo uma fonte da empresa, se intensificaram com a gratuidade para idosos a partir dos 60 anos, ofertada na cidade, além dos custos de manutenção.

Segundo dados divulgados pela Faol em março deste ano, 38% de passageiros não pagam a passagem em Nova Friburgo (4% de gratuidade para pessoas com deficiência; 16% gratuidade para estudantes da rede pública municipal e estadual; e 18% de gratuidade para pessoas acima de 60 anos de idade), totalizando mais de cinco milhões de passagens gratuitas por ano.

Nos últimos anos, empresas do grupo tiveram que injetar dinheiro na Faol. A situação do Grupo Real piorou após Olimpíadas, porque a empresa perdeu dinheiro com a redistribuição de linhas no Rio devido à inauguração da Linha 4 do metrô e do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). Já em Friburgo, no início deste ano, o governo implantou a integração plena com única passagem no município e deu um reajuste de 6,7% na tarifa, que subiu de R$ 3,70 para 3,95. A Faol queria R$ 4,20.

Resta saber se o novo consórcio, composto por empresas pequenas, vai injetar dinheiro suficiente para garantir o funcionamento sustentável da companhia e adquirir 10 novos ônibus com ar-condicionado, em contrapartida ao reajuste. A Faol controla o serviço de transporte público na cidade desde a década de 1950, quando foi fundada. A concessionária tem pouco mais de 1150 funcionários, 160 ônibus e é responsável por cerca de 100 linhas que cruzam as zonas urbana e rural. O contrato de concessão do serviço à empresa vence em setembro de 2018.

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