Dia de São Cosme e São Damião celebrado com muitos doces e alegria

Em um dos dias mais gostosos do ano para a garotada, conheça histórias de friburguenses que ajudam a manter a tradição
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
por Dayane Emrich
Dia de São Cosme e São Damião celebrado com muitos doces e alegria

Corre para lá, para cá, de olho nos portões e janelas das casas do bairro. “Ali, ali”, grita o menino. “Entra na fila!”, exclama o seu companheiro. Sob sol ou chuva, equipados com mochilas, bolsas e ou sacolas, todos os anos, centenas de crianças vão às ruas da cidade no dia 27 de setembro. Mas quem disse que elas estão a caminho da escola? A corrida aqui não é pela fila da merenda ou para ver quem termina o dever mais rápido. A disputa é pelos tradicionais doces de São Cosme e São Damião.

Já para os adultos, a data vai muito além de uma brincadeira e geralmente está associada ao pagamento de promessas.  É o caso da jornalista Patrícia Carvalho, de 44 anos, que distribui doces no Dia de Cosme e São Damião há 16 anos. “Tudo começou depois que minha filha nasceu prematura e tivemos várias complicações. Na época, um taxista que sempre me levava para o hospital para vê-la, disse para eu ter fé. Ele contou que seus filhos gêmeos também tiveram problemas de saúde por terem nascido prematuros e que fez uma promessa aos santos, o que fez com que os meninos se curassem. E assim foi comigo também”, contou ela.

Desde então, Patrícia doa cerca de 100 sacolinhas anualmente, recheadas com balas, pirulitos, bombons, entre outras guloseimas. “Mas não gosto de distribuir nas ruas, pois acho muito perigoso para as crianças. Antes meus filhos levavam para a escola, agora, dou os doces em orfanatos e creches da cidade”, explicou. A gerente de recursos humanos, Cristiana Paixão, também fez promessa aos santos pela saúde da sobrinha Jasmim e, até o ano passado, distribuiu doces na rua onde mora, no Perissê. “Ela nasceu prematura e, por isso, prometi que distribuiria os doces por cinco anos, caso ela se recuperasse. Graças a Deus e a ajuda de Cosme e Damião, tudo deu certo”, contou.

A aposentada Marly dos Santos, de 76 anos, mora em Conselheiro Paulino e é mais uma das friburguenses que ajuda a manter a tradição. Ela conta que há mais de 30 anos compra doces e os distribui no dia 27 de setembro. “Não fiz nenhuma promessa. Só sigo o exemplo da minha mãe e da minha avó, que sempre davam guloseimas”, relatou, destacando que pretende continuar fazendo a alegria das crianças: “enquanto eu puder, vou distribuir os doces. Geralmente, monto umas 100 sacolinhas, que entrego pelas 8h, no portão de casa. Faço de coração. Elas ficam felizes e eu também”, explicou.  

Apesar da queda nos preços, vendas são baixas

Os preços são, com certeza, um diferencial para atrair clientes. No entanto, apesar da redução nos valores das mercadorias em relação ao ano passado, que varia de 5% a 10%, os comerciantes do setor não estão muitos animados com a tradição religiosa de distribuir doces. Nas lojas de Friburgo, por exemplo, a procura por doces tem sido um pouco tímida, pelo menos até então. Mário Sérgio Abreu, proprietário de uma loja de doces no centro da cidade, explicou que reduziu o número de encomendas. “Estamos passando por um período de crise econômica. A maior parte das pessoas que distribui doces nessa data são idosos, aposentados, que estão com o pagamento atrasado. Por isso, não vendemos bem. Na verdade, reduzi os pedidos em 30%, em relação a 2016 e 2015”, disse.

Ele conta também que reduziu os preços para tentar atrair clientes. “Conseguimos diminuir o valor da caixa de muitas mercadorias. Assim, quem comprou para Cosme e Damião, ou ainda pretende comprar para outra data especial, encontrará produtos mais em conta”, afirmou, explicando que os doces mais vendidos nesta época são os tradicionais: suspiro, maria mole, doce de leite, de amendoim, balas sortidas e os pirulitos.

O comerciante e proprietário de uma loja de doces em Conselheiro Paulino, Renato Almeida também afirma que ainda não teve sucesso nas vendas este ano. “O movimento tem sido fraco nos últimos dias. A procura não é mais a mesma de antigamente. Aqui na minha loja, se vieram dez pessoas aqui pela manhã (de ontem, 25, procurando por doces especialmente para a data, foi muito", lamentou, explicando que: antigamente eram feitos até kits prontos para o dia São Cosme e Damião”.

Uma história de devoção

Apesar de no catolicismo a data em homenagem a Cosme e Damião ser celebrada hoje, 26, a maioria das pessoas celebra o dia dos irmãos em 27 de setembro (dia que os santos são cultuados no candomblé e na umbanda), por causa da tradicional distribuição de doces. Além disso, embora eles sejam considerados alguns dos santos mais populares da igreja católica, pouca gente conhece suas histórias de vida.

Cosme e Damião nasceram na cidade de Egéia, na Arábia, por volta do ano 260. Filhos de família nobre, sua mãe era muito cristã e lhes ensinou sobre a religião. Quando jovens, estudaram medicina mas, por causa da profunda formação cristã que tiveram, decidiram dedicar as suas vidas também a Jesus Cristo, através da evangelização e de ações de ajuda ao próximo. Uma das grandes características dos irmãos e que demonstra a enorme bondade dos dois, é que eles não cobravam por seus serviços médicos.

Na época, entretanto, eles foram acusados pelo imperador Diocleciano de feitiçaria, foram presos, torturados e condenados à morte por apedrejamento e flechadas. Conta-se que a pena foi executada, mas os santos irmãos não morreram e, por isso, o imperador ordenou que eles fossem queimados em praça pública. Para a surpresa de todos, o fogo não pegou e, os soldados então resolveram afogar os dois, o que também não funcionou, já que, como conta a história, eles foram salvos por anjos. Por fim, a mando do magistrado, os torturadores lhes cortaram as cabeças.

Por que doces?

Existem muitas explicações para a distribuição de doces ser tão comum no dia 27 de setembro. Em uma delas, conta-se que os irmãos, além de padroeiros dos médicos e dos farmacêuticos, são invocados como protetores das crianças, pela sua simplicidade e inocência. Por isso, na festa dedicada a eles, é costume distribuir balas e doces para as crianças. Em outra interpretação, conta-se que, além de não cobrar pelas consultas médicas, ao final de cada atendimento, davam aos doentes doces para diminuir a tristeza. Há ainda quem diga que a prática de distribuir doces é uma costume advindo da umbanda.

Segundo esta versão, Cosme e Damião são associados com os orixás-crianças, ibjis e erês, filhos gêmeos de Iemanjá, que atenderiam aos pedidos de uma pessoa em troca de doces. Daí a origem dos chamados "docinhos de São Cosme e São Damião".

 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade