Desemprego: a pior ameaça em qualquer crise

Município perdeu 399 empregos em julho. Alguns setores apostam na retomada do crescimento
sábado, 05 de setembro de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Desemprego: a pior ameaça em qualquer crise

Em qualquer uma das três esferas administrativas não faltam indicadores a respeito do momento difícil enfrentado pela economia nacional. Redução do Produto Interno Bruto (PIB), desvalorização da moeda, aumento da inflação, especialmente pressionada pelo custo da energia; e o pior e mais sério de todos os termômetros: aumento do desemprego.

A situação torna-se ainda mais séria quando se considera o contexto de crise política e de credibilidade, no qual o Executivo federal encontra dificuldades para negociar com o Congresso a aprovação de impopulares medidas contingenciais que, alega-se mesmo entre a base governista, não precisariam ser tão amargas caso a situação real não tivesse sido maquiada por motivações eleitorais.

Enquanto lá fora os mercados se assustam com os primeiros sinais de desaceleração da economia chinesa, por aqui, em nossa realidade municipal, o mês de julho contabilizou a perda de nada menos que 399 vagas formais no mercado de trabalho. Sinais preocupantes sim, mas que também abrem boas oportunidades a quem ainda tem capacidade — e coragem — de investir.

A esse respeito, A VOZ DA SERRA ouviu algumas lideranças sindicais, tanto patronais quanto de trabalhadores, que comentaram o atual panorama da economia brasileira. O resultado é o painel que se segue.

Sindvest: perecer ou criar

Para o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário (Sindvest), Marcelo Porto, a crise que vem se arrastando desde o ano passado é muito mais de credibilidade, e que acabou se tornando econômica. Segundo ele, uma veio primeiro e a outra, depois. “As pessoas passam a não comprar, começam a se segurar por medo. E isso cria, em nível coletivo, um pânico. As pessoas ficam com receio de investir, pensam duas vezes antes de comprar, principalmente os bens de valores mais altos.

A crise anterior, que se tem como parâmetro, foi em 2008 e em 2009, que no final das contas demonstrou que somente o pessoal que inovava, que criava e tinha um produto diferenciado é que conseguiu superar. Naquele momento houve casos de empresas que acabaram quebrando e outras que conseguiram crescer. A chave é justamente entender o mercado e perceber o que o cliente quer. Ele é muito mais seletivo e se tem que descobrir efetivamente o que as pessoas estão querendo. É mais trabalhoso, mas é uma oportunidade daqueles que são criativos de crescer.

Na Fevest, em função de tudo que estávamos ouvindo, tivemos que fazer um esforço muito grande no sentido de captar novos compradores. O número de compradores este ano foi quase três vezes maior que no ano passado. E qualificados. O que fez com que houvesse um aumento de movimento e vendas. Foi basicamente a estratégia, a criatividade do empresariado de antever as circunstâncias que fizeram com que a Fevest fosse um sucesso. A diretoria, de modo especial, muito preocupada, redesenhou e adequou a Fevest à nova contingência.

Nunca se demitiu tanto, mas também nunca se admitiu tanto. Muitas empresas, assim como aconteceu em 2008, estão fechando, com problemas seríssimos, e outras que estão vendendo como nunca venderam. Então passa pelo comprometimento não só do empresário, mas também por todas as pessoas que cooperam para que o produto chegue lá na frente. É, na realidade, um entender coletivo, onde desde a varredora do chão até a costureira, passando pelo administrativo até o dono, entender que não são tempos fáceis, mas são tempos que vamos superar como Nova Friburgo sempre foi uma história de superação. Esta é mais uma crise de muitas que nós iremos passar. Eu vejo Nova Friburgo como uma das cidades mais adaptadas para superar esse tipo de crise”.

Sindicato dos Vestuários: crise é política e afeta a economia

O assessor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Nova Friburgo, Edil Nunes, comentou que, hoje, o Brasil passa por uma crise política, que tem afetado diretamente a economia. Para ele, a falta de credibilidade da classe política vem dificultando a vida dos trabalhadores. Um exemplo é a apresentação de um ajuste que visa tirar direitos dos trabalhadores, como a nova lei do seguro desemprego, a tabela do PIS, terceirização, etc.

Edil observa que em Nova Friburgo o setor do vestuário tem se mantido na contramão do que está acontecendo no restante do país, vide notícia publicada na imprensa inglesa e neste jornal. “A última Fevest, por exemplo, teve um recorde de negócios alcançando a cifra de R$ 53 milhões, segundo o sindicato patronal. Houve uma redução de demissões de 23% em relação a mesmo período do ano passado (janeiro a agosto) e diversas empresas estão contratando. No entanto, algumas empresas que já estavam com problemas estruturais fizeram demissões e/ou fecharam as portas, porém as empresas sólidas continuam suas atividades normalmente”, afirma o assessor do Sindicato dos Vestuários.

Sindicato dos Metalúrgicos: patronal avança e nada é repassado aos trabalhadores

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Nova Friburgo, Anderson Ramos Taborda, disse que em 2014 a classe patronal conseguiu um avanço financeiro em suas empresas graças a incentivos fiscais, com isenções de impostos e outras vantagens.

“Diante deste quadro, 2014 foi um verdadeiro ano de faturamento para as empresas, sendo que nada foi repassado aos trabalhadores metalúrgicos e de outras categorias, pois o bolo foi absorvido somente pelos patrões. No início de 2015 começou a estourar no país a “crise”, mais política que econômica, gerada pelas descobertas das “falcatruas” das empresas estatais como a Petrobras, onde bilionárias somas em dinheiro foram desviadas a serviço de alguns “políticos” em suas campanhas e outras mazelas.

Com isso, o foco das corrupções vieram à tona com proporções jamais vistas de beneficiamento de corruptores e corrompidos, que diretamente influenciaram na queda de abertura de novos postos de trabalho e consecutivamente gerando cortes profundos de empregos, mostrando assim que os patrões, quando se sentem um pouco ameaçados, não pensam duas vezes onde irão atacar e, simplesmente, demitem. Não negociam aumentos salariais dignos de suas categorias e cada vez mais se beneficiam usando esta “crise” como saída para tentarem justificar o arrocho salarial em cima de quem? Dos trabalhadores.

E não são os trabalhadores que têm que pagar por esta crise”, encerra Anderson.

CDL e Sincomércio: crise existe, sim    

Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio), Braulio Rezende, a crise está aí. É um período de dificuldade de crédito, os bancos aumentaram muito os juros, as pessoas estão mais receosas em fazer suas compras.

“O problema que está afetando a questão econômica é porque existe também a crise política. Nós estamos vivendo um período conturbado na política. Mas, o problema maior da crise econômica é que o governo acabou de aprovar mais um aumento de carga tributária para as empresas. Os encargos dobraram. Isso porque o governo está sem recurso, gastou dinheiro demais, mas ele não diminui suas despesas, a quantidade de ministérios e de cargos em comissão é enorme, os nomeados são mais de 20 mil pessoas. Imagina o quanto representa isso mensalmente na folha. Para o governo aumentar tributos primeiro tem que haver o exemplo no próprio governo. É como a casa da gente. Se a gente ganha 10 não pode gastar 12. Tem que gastar menos para poder fazer uma poupança. E o governo no Brasil há muito tempo não faz isso. Ele aumenta a despesa e não está preocupado em reduzir o seu tamanho. E quando falta dinheiro, vai no mercado e aumenta o tributo. E isso vai para o bolso do consumidor. Se aumenta o preço, quem paga é o consumidor. 

Estamos vivendo um período de grande dificuldade, sim, dificuldade econômica, dificuldade política, que é muito grande e séria. A gente não sabe como vai acabar isso, se vamos ter um processo de impeachment ou não, se vai ter renúncia ou não. Agora, existem coisas que a gente não consegue entender. O governo está sem dinheiro e precisa aumentar os encargos das empresas. Mas está abrindo financiamento do BNDES para as montadoras de automóveis. Por que não abre para todo mundo? Por que só um setor específico e deixar os outros? Por que o comércio não pode ter acesso a esse tipo de financiamento também?

O comércio em Nova Friburgo está na mesma situação do comércio nacional. Nós tivemos o período do Dia dos Pais, que imaginávamos haver um crescimento de 4%, porque estava se demonstrando que no mês de agosto haveria melhora nas vendas, mas as duas semanas que se sucederam ao Dia dos Pais foram muito fracas. A gente já vê lojas fazendo promoção de inverno para tirar o estoque, porque a dificuldade para vender está muito grande. O consumidor está muito preocupado em não se endividar, em gastar, porque não sabe como vai ser o dia de amanhã. A incerteza é muito grande. E a mídia faz uma grande divulgação dessa crise toda.

Nós estamos hoje sem perspectivas de quando a situação deve melhorar. Eu estive na Confederação Nacional do Comércio, ouvindo a opinião de vários vice-presidentes do Brasil inteiro, e a dificuldade é exatamente essa: o governo não dá sinais claros do que está fazendo, não reduz sua despesa, não deu nenhuma demonstração até agora de que ele vai cortar na carne. Mas ele não mudou nada. Alguém ouviu falar em redução de ministérios? Em demissão de cargos de confiança? 

Pelo que eu ouço falar do Joaquim Levy (ministro da Fazenda), pelo que eu já vi de postura dele, até como secretário de Fazenda do Estado do Rio, que ele já foi, economista de renome internacional, eu não sei como ele está conseguindo se manter nesse cargo, contra o próprio partido da presidente da República — o PT é contra ele —, porque ele está tomando medidas impopulares, e o partido não quer isso. A taxação bancária é um absurdo. Os bancos públicos têm dinheiro, mas é caro, os empresários do comércio não têm acesso, não têm como tomar esse dinheiro. 

Nós estamos com uma dificuldade enorme de vender, em reduzir a nossa despesa, luz e telefone aumentaram. Quanto aos salários, somos obrigados a dar a correção do dissídio: como é que a gente aumenta a despesa e diminui a receita? É uma conta que não fecha. Estamos atravessando um período sem perspectiva de luz no fim do túnel. Como vai ser o final do ano, o ano que vem?
A gente ouve economistas que estão mais preparados tecnicamente para fazer essa análise, que dizem que só vai melhorar em 2017, se tais medidas forem tomadas... Mas a gente não vê nenhuma medida ser tomada pelo governo. Aumentar imposto, carga tributária, não é só isso que se tem que fazer para resolver. 

Não há dúvida que há uma crise econômica e política. Nós estamos vivendo um momento político muito sério. Como vai ser resolvido isso aí a gente ainda não sabe. Eu não tenho noção”.

Sindicato dos Comerciários: crise permanente

A presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Nova Friburgo, Terezinha Afonso Jordão, minimiza a atual crise ao afirmar que para o empregado a crise é permanente, devido ao arrocho por que passa a categoria o tempo todo. Na presidência desde 2012, sua gestão segue até 2017. Para ela, a crise sempre existiu e não é de agora. O aperto para os empregados do comércio não é de hoje e vem se prolongando há muitos anos. 

“O empregado sempre viveu em crise. Para minorar esse aperto da categoria, o Sindicato dos Comerciários tem procurado melhor índice de aumento de salário e oferecer aos trabalhadores e seus dependentes atendimento médico e odontológico, além de colônia de férias. Na última negociação com a classe patronal, o Sindicato dos Comerciários conseguiu reajuste de 11,07%, considerado por Terezinha como um dos melhores do estado, maior, inclusive, que do sindicato da capital, de 8,34%. Assim mesmo enfrentando todas as dificuldades de negociação com a classe patronal. “É muita luta para conseguir um pouquinho de aumento.

Para melhorar as condições do trabalhador do comércio de Nova Friburgo e região, o sindicato da categoria oferece atendimentos médico para cônjuges e filhos até 14 anos, e odontológico, extensivo aos cônjuges e filhos até 18 anos (com uma taxa adicional mensal). O desconto da contribuição negocial é na casa de 1.7% do piso (R$ 988). Os exames solicitados podem ser feitos na rede do SUS. Ainda há convênios com diversas entidades e colônia de férias em Araruama e Paraty (mais procuradas no final do ano)”, enumera. 

Terezinha frisa ainda que se há crise para os patrões, para os empregados “nem se fala”, pois a crise é constante. Para isso existe o sindicato e os empregados do comércio, segundo a presidente, deveriam se unir mais através dele, para que seja forte e possa oferecer sempre melhores condições de vida a todos. A categoria, salienta Terezinha, deveria contribuir em maior número com a mensalidade (R$ 16,80) para custear as despesas, como luz, água, telefone, funcionários, médicos, dentistas, todos registrados, com salários fixos mensais, sempre à disposição da categoria. 

Os atendimentos são bem utilizados pelos trabalhadores do comércio e seus dependentes, garante a presidente. 

  • Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Nova Friburgo, Anderson Ramos Taborda

    Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Nova Friburgo, Anderson Ramos Taborda

  • Presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Nova Friburgo, Terezinha Afonso Jordão

    Presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Nova Friburgo, Terezinha Afonso Jordão

  • Presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário (Sindvest), Marcelo Porto

    Presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário (Sindvest), Marcelo Porto

  • Edil Nunes, do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Nova Friburgo

    Edil Nunes, do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Nova Friburgo

  • presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio), Braulio Rezende

    presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio), Braulio Rezende

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