Delegada Grace Arruda: “Recentes denúncias de estupros em série são boatos levianos e maldosos”

Titular da Deam confirma dois casos efetivamente comprovados e investiga se estuprador pode ser a mesma pessoa
terça-feira, 29 de maio de 2012
por Henrique Amorim
Delegada Grace Arruda: “Recentes denúncias de estupros em série são boatos levianos e maldosos”
Delegada Grace Arruda: “Recentes denúncias de estupros em série são boatos levianos e maldosos”

Nas ruas de Nova Friburgo e também nas redes sociais o assunto do momento é o medo causado por uma suposta série de estupros de jovens e idosas, o que tem deixado muitas mulheres em pânico e até lhes obrigado a mudar a rotina. Nas escolas, desde que o assunto tomou proporção, muitas mães passaram a buscar suas filhas na saída das aulas. O maníaco seria um homem moreno, aparentando 30 anos, com uma cicatriz no rosto e que já teria atacado uma jovem numa rua do Paissandu (esta arrastada para um veículo e violentada à luz do dia), outra levada à força para um matagal e ameaçada de morte, e ainda uma idosa que após ter sido atacada em sua casa, na Chácara do Paraíso, teria sido assassinada barbaramente com um pedaço de madeira introduzido em sua genitália. Na conta do estuprador estaria também um crime de abuso sexual contra uma adolescente de 12 anos. Na última semana ventilou-se que o tarado seria irmão de Ibrahim de Oliveira, morto na década de 90, no distrito rural de Riograndina, acusado de uma série de crimes de necrofilia (relação sexual com cadáveres) contra mulheres, a maioria idosas.

Todos esses casos são de conhecimento da polícia, mas não há nenhum registro oficial deles na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) em Nova Friburgo. A delegada titular, Grace Arruda, garante que só há dois estupros comprovados e registrados com vítimas identificadas e investigações em curso, cujos inquéritos já somam mais de cem páginas. Os casos ocorreram em março e abril. A polícia deteve alguns suspeitos, mas eles não foram reconhecidos pelas vítimas: uma idosa de 73 anos, atacada numa rua do bairro Vila Amélia quando caminhava, pouco antes das 4h, em direção à fila para marcação de consultas médicas no posto Sylvio Henrique Braune, no Suspiro; e o segundo caso, numa rua do bairro Lagoinha, por volta das 6h30, quando uma operária da Fábrica Filó, com 40 anos, foi atacada quando ia para o trabalho. O maníaco arrastou-a para um matagal, onde praticou o crime sexual. Os dois casos ocorreram em dias de semana e as identidades das vítimas e os locais exatos dos estupros não foram fornecidos pela titular da Deam para não comprometer as investigações. Grace Arruda estuda a hipótese dos dois crimes terem sido cometidos pelo mesmo autor, mas as investigações até agora ainda não confirmaram isso.

“Além desses dois casos comprovados, denunciados, registrados e que estão sob investigação, as demais informações sobre uma onda de estupros em Nova Friburgo não existem. São boatos levianos e maldosos. Uma inconsequência. Soube que até retratos falados do estuprador já existiriam. É mentira. Só quem faz retrato falado é a Polícia Civil”, sustenta a delegada Grace Arruda.

Em meio à sensação coletiva de insegurança, a policial observa um ponto positivo: “Devido aos boatos a sociedade friburguense está mais alerta, antenada e preocupada com a segurança e o bem-estar. Uma sociedade que, com todo o direito, cobra respostas das autoridades. Vejo com bons olhos o fato de mães passarem a ir buscar filhas nas escolas, mulheres evitando andar sozinhas nas ruas à noite e mudando alguns hábitos”, observa a delegada.

 

“Prender o estuprador das duas mulheres só por um milagre”, diz delegada, que conta com apoio da população para denúncias. Anonimato será garantido

“Num universo de aproximadamente 200 mil habitantes, estou à caça de um ou de dois estupradores. É uma enorme dificuldade. Só um milagre de Deus. E eu acredito em milagres. Toda a equipe da Deam está empenhada na identificação deste pervertido sexual, mas, se não houver a colaboração da sociedade, encontrá-lo será difícil”, diz a delegada Grace Arruda, que garante o total anonimato a quem souber do paradeiro do tarado. Basta procurá-la pessoalmente na Deam. A delegada admite que além de todas as técnicas policiais de investigação tem orado a Deus para os dois casos comprovados de estupro sejam esclarecidos. “Deus vai manifestar sua justiça nesta situação de medo e sensação de insegurança que Nova Friburgo está vivendo. Deus sente também indignação por conta da maldade humana”, comenta a delegada.

Grace Arruda acredita ainda que a onda de boatos sobre a ação em série de um estuprador no município foi desencadeada, inocentemente, pelos próprios familiares das vítimas, que ao invés de procurarem imediatamente a Deam para denunciar, alardearam o ocorrido, dando origem aos boatos. “O melhor lugar para denunciar casos de estupros ou qualquer outra violência contra a mulher é a Deam, onde as investigações dos crimes sexuais têm prioridade”, diz Grace, lembrando que o estupro com vítima maior de 18 anos é considerado por lei como “crime de ação pública”, cuja representação e consequente investigação policial do autor só é feita se a vítima denunciar o caso às autoridades. Já nos casos de estupro em mulheres menores de 18 anos, a polícia deve agir independente da vontade da vítima.

 

Conselhos às mulheres que nunca são demais

A delegada da Deam orienta as mulheres quanto à necessidade de tomar mais cuidados em relação à segurança pública, evitando ser vítima de qualquer criminoso. Caminhadas, segundo Grace, só devem ser realizadas no período diurno, de preferência em locais com grande movimentação de pessoas. Nunca à noite, em ruas desertas e com pouca iluminação. Ao caminhar, sempre prestar atenção à abordagem de pessoas suspeitas. Nos casos de ameaça, sempre é bom gritar, fazer o maior barulho possível, pois os bandidos geralmente, segundo a delegada, detestam escândalos. Esta última dica, contudo, só vale se o criminoso estiver desarmado. “Se o bandido estiver armado, a ordem é sempre não reagir”, recomenda a delegada.

Nunca também se deve caminhar com bolsas abertas, ostentando joias ou celulares de última geração. Deve-se procurar falar ao celular em público, de preferência em shop-pings ou centros comerciais que tenham seguranças. Para as mulheres que tenham obrigatoriamente que passar por ruas ermas a pé de madrugada, na ida ou volta do trabalho, o conselho é fazer amizade com os moradores das casas daquele percurso, para, num caso de emergência, pedir ajuda. Em ruas ermas, deve-se caminhar somente pelas calçadas junto às casas, nunca próximo a terrenos baldios. Nas festas ou baladas, nunca se deve voltar para casa sozinha. Se não for possível retornar de carona ou com um grupo de amigos, espere no local até amanhecer.

Grace observa que nos casos em que a mulher seja violentada, por mais repugnante e chocante que seja o ato, assim que ela livrar-se do tarado deve procurar imediatamente a Deam sem tomar banho ou apenas lavar a genitália, pois assim facilita-se os exames periciais. A própria Deam, inclusive, encaminhará a vítima aos serviços de saúde pública para o recebimento de kits com medicamentos de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez indesejada.

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