Crise econômica deixa lojistas mais cuidadosos com seus negócios

Aumenta o “abre e fecha” de pontos comerciais por motivos diversos
sábado, 21 de janeiro de 2017
por Ana Borges
(Foto: Henrique Pinheiro)
(Foto: Henrique Pinheiro)

De acordo com o Clube de Diretores Lojistas do Rio (CDL/Rio), de janeiro a setembro do ano passado, 8.419 lojas fecharam as portas em todo o estado. Na comparação com o mesmo período de 2015 (quando 6.681 passaram o ponto), a alta foi de 26%, uma média de 1,2 loja por hora, ou melhor, pelo menos uma loja fechada por hora. Este foi o resultado da crise para o comércio do Estado do Rio nos primeiros nove meses de 2016. 

Na época, os especialistas alertavam para a tendência de piora no cenário com o iminente colapso econômico do estado, o que de fato veio a ocorrer logo depois. Desemprego aliado à falta de caixa para pagamento de servidores públicos, proposta de aumento de impostos, greves, protestos, tumultos, quebra-quebra de lojas, bancos, invasão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, vandalismo. O cenário, de maneira geral, acabou por se revelar bem pior do que o previsto. Resultado: mais dificuldades para planejar estratégias de vendas. 

Em Nova Friburgo, o cenário não tem sido diferente no que diz respeito à crise, com o fechamento recente de lojas. Não temos números oficiais das entidades e associações comerciais locais, mas saímos às ruas para conferir a situação e conversar com lojistas. Flagramos importantes pontos comerciais fechados, outros ainda funcionando com o aviso “passa-se o ponto”. Entre as que encerraram e/ou estão para encerrar suas atividades depois de décadas de funcionamento, estão as tradicionais Loja das Canetas e a Tiroleza, ambas na Avenida Alberto Braune. 

Vão deixar saudades...

A Tiroleza — 67 anos de existência —, fundada por dona Gabriela Hurnaus (hoje com 101 anos), ainda deve funcionar por cerca de dois meses para atender sua fiel clientela, que abrange várias gerações. Esse é o prazo que a filha, também Gabriela, acredita ser suficiente para liquidar o estoque. “Não há motivo ligado a questões econômica ou financeira, ou de outra natureza para fechar a loja, a não ser o cansaço. São décadas de trabalho, muito tempo dedicado ao comércio. Até pouco tempo ainda trazia minha mãe aqui para animá-la um pouco, mas agora, nem isso. Então, simplesmente achamos que é hora de parar, só isso”, alegou.    

Fechou também o Hotel Sanjaya, bem no centro da principal avenida, e nas transversais desapareceram butiques, videolocadoras, salões de beleza, e outros tipos de comércio, como uma lotérica. 

Na concorrida Ariosto Bento de Mello, a Brilho Perfumaria mudou de dono depois de 30 anos, mas não de linhas e marcas de produtos que sua seleta clientela está acostumada. Na mesma avenida, a tradicional Perfumaria Christine permanece aberta, depois de 40 anos, embora ocupe, agora, apenas uma loja em vez de duas como até pouco tempo. Encolheu, mas continua resistindo. 

Outras, não. Ao longo de suas calçadas com dezenas de lojas de grifes badaladas, flagramos portas arriadas, outras liquidando estoque para encerrar as atividades, e ainda algumas passando o ponto. Se vai melhorar ou não, só o tempo dirá. 

As populares estão chegando...

Por outro lado, um punhado de pequenas lojas de redes populares ocupam cada vez mais espaços no Centro. Já se estabeleceram por aqui lojas como a Vem que tem, Casa do Biscoito, Sai de Baixo, Superlar, Shop 15, etc. Enquanto isso, nomes de tradicionais famílias, símbolos do comércio local, estão desaparecendo: Lobianco, Mastrângelo, Amil, Yunes, Spinelli, Vassalo, El-Jaick, Dieguez, entre outras tão importantes quanto.   

Segundo Flávio Stern, presidente da Associação Comercial de Nova Friburgo (Acianf), “o fechamento de lojas tradicionais é sempre uma perda, especialmente para os consumidores fiéis desses estabelecimentos, mas ao mesmo tempo, muitas lojas estão abrindo, trazendo novidades para o comércio de nosso município”, observou Flávio.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) de Nova Friburgo, Braulio Rezende, confirma que o comércio da cidade vem sentindo os reflexos da crise que atinge todos os setores da economia brasileira. Ele não acredita, entretanto, que cada loja fechada tenha sido igualmente vítima da conjuntura atual.

“É verdade que o mercado está ruim para o comércio, as taxas de juros continuam muito altas, dificultando para os empresários obter dinheiro nos bancos, e o grande número de consumidores desempregados afeta as vendas. Só que este cenário não justifica tudo o que acontece com as empresas”, pondera.

Braulio Rezende destaca que há particularidades que devem ser levadas em conta ao se analisar a situação do comércio local. Ele relata que em Nova Friburgo lojas já fecharam e outras vão encerrar suas atividades devido à instabilidade econômica, mas também por problemas ou decisões pessoais. 

“Apesar de admitirmos que o momento é complexo para os negócios, não podemos generalizar e colocar a culpa de tudo na crise. Existem outras razões que pesam nestas horas”, argumenta, reiterando que está otimista quanto à melhora da economia em 2017.

 

Foto da galeria
O tradicional Hotel Sanjaya, no centro da cidade, fechou as portas (Foto: Henrique Pinheiro)
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