A compreensão luterana do batismo

A coluna do pastor luterano Gerson Acker
sexta-feira, 01 de setembro de 2017
por Gerson Acker
A compreensão luterana do batismo

 

 

Palavra e Sacramento são elementos fundamentais da igreja cristã. Os sacramentos são as formas visíveis pelas quais Deus vem se manifestar às pessoas. Trata-se da Palavra acompanhada de um sinal visível, pois sem a Palavra de Deus, os elementos água, pão e o fruto da videira não são nada de especial. Agostinho de Hipona já dizia que o Sacramento é ‘Palavra visível’. Os sacramentos têm estreita ligação com a fé. Sem fé, de nada serve o Sacramento (Mc 16.16). Lutero, mediante fundamentação bíblica, reconheceu apenas dois sacramentos: batismo e santa ceia.

Existem dois perigos principais que podem macular a concepção correta dos sacramentos. Trata-se da visão ‘mágica’ e da visão ritualística para promoção humana dos sacramentos. Os sacramentos não têm efeito mágico, não curam ou salvam automaticamente. Antes, os sacramentos querem ser acolhidos em gratidão, confiança e transformados em motivos para “andar em novidade de vida” (Rm 6.1). Da mesma forma, os sacramentos não são costumes, atos de promoção humana, demonstrativos de fé ou meros ritos de passagem. Muito pelo contrário: o batismo e a santa ceia são ação única e exclusiva de Deus, independentemente do caráter pessoal de quem os ministra. Os sacramentos são dádivas de Deus que se destinam a todos e a todas, exceto aos que a si mesmo se excluem.

O batismo foi uma ordenança do próprio Jesus ressurreto (Mt 28.18ss, Mc 16.14ss). Analisando o Novo Testamento, observamos que os diferentes relatos não apresentam uma doutrina abrangente e uniforme sobre o assunto. Compreendemos que o batismo é o sacramento que integra a pessoa na comunidade cristã, fazendo com que seja um membro do corpo de Cristo (ICo 12.13). É o sacramento da iniciação cristã. Lutero dá uma grande ênfase ao Batismo, pois mediante ele ingressamos no sacerdócio geral de todos os crentes.

Entendido como ‘lavar regenerador’ (Tt 3.5), o ato batismal tem paralelos em ritos de purificação da Antiguidade, porém se diferencia pelo caráter passivo do batizando. É Deus quem age no batismo por graça tornando-nos seus filhos e filhas. É Ele quem “realiza o perdão dos pecados, livra da morte e dá a salvação eterna a todas as pessoas que crêem”, conforme escreve Lutero no Catecismo Menor. O batismo é o lugar onde se dá o renascimento (Jo 3.5), regeneração e renovação do ser humano (Tito 3.5), de tal forma que morremos e ressuscitamos com Cristo (Rm 6.3ss, Cl 2.12) e nos revestimos dele (Gl 3.27).

O batismo realizado em nome do Trino Deus acontece somente uma vez (Rm 6.10; Hb 10.10). Rebatismos só demonstram a desconfiança na obra de Deus, visto que o batismo não é a demonstração da fé do batizando, mas proclamação do senhorio de Jesus sobre a pessoa. Porém, o batismo precisa ser aceito em fé comprometida. Ele não age ‘ex opere operato’, como se fosse um ritual mágico que garante a salvação, mas é um veículo que Cristo usa para se transmitir às pessoas.

Há que sempre se recordar que batismo é graça e de que é extremamente perigoso fixar uma ordem cronológica entre batismo e fé. Por isso também, o batismo de infantes também é legítimo por documentar enfaticamente a gratuidade do dom de Deus.

No batismo é dado o Espírito Santo, ou seja, Deus concede aos seus filhos e filhas dons para serem colocados a serviço do próximo. Assim, o batismo é vocação para o discipulado, compromete a pessoa batizada a seguir os ensinamentos de Cristo. Por isso, é tão importante que o batismo seja rememorado e reafirmado constantemente.

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