Com a palavra, o deputado estadual Wanderson Nogueira

Em entrevista exclusiva, o friburguense analisa seus dois primeiros anos na Assembleia Legislativa
quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
por Gabriel Braga
Com a palavra, o deputado estadual Wanderson Nogueira

Dois anos intensos, de muita resistência, foi como o deputado estadual Wanderson Nogueira definiu sua atuação na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Nesta entrevista, ele fala de seus dois primeiros anos de mandato, e revela detalhes de suas batalhas, da defesa de seus ideais e dos programas que elaborou. E ainda de sua opção pela vida pública e da falta que sente da terra natal, Nova Friburgo. Confira.

Como o senhor analisa o seu segundo ano de mandato como deputado estadual?
Foi bem mais complexo do que o primeiro ano. Este foi um ano de resistência, durante o qual, a todo o momento, tínhamos que fazer a defesa dos direitos que foram conquistados ao longo dos últimos anos. Foi um tempo de profunda crise e recessão. Já no início do nosso mandato, alertávamos o Estado sobre esta situação. Mas, ao mesmo tempo, tivemos a possibilidade de mostrar que outros caminhos são possíveis. Foi assim através do Supera Rio, cuja abertura aconteceu em Nova Friburgo. Fomos a outras regiões do estado, apresentando medidas que confrontam, inclusive, com o pacote de maldades apresentado pelo governo do estado com a possibilidade de aumento de arrecadação e salvamento do estado. 

Houve algum momento que o fez sentir que conseguiu fazer a diferença como parlamentar, nestes primeiros dois anos?
Acho que o primeiro foi o Supera Rio. Foi um momento ímpar. Principalmente porque a gente trouxe mais de 10 deputados, inclusive o presidente Jorge Picciani, ao município de  Nova Friburgo, quando tivemos a possibilidade real de colocar o interior do estado como foco e como possibilidade do ressurgimento do Rio de Janeiro. E através do Supera Rio, para mim ficou muito clara a alteração de destino, quando conseguimos aprovar a nota fiscal fluminense e a redução da verba de publicidade do Estado numa economia de mais de 50 milhões de reais, o que possibilita, por exemplo, o pagamento pelos próximos 12 meses do aluguel social. 
Agora, a representação fez extrema diferença principalmente nas discussões que travamos com relação a  incentivos fiscais e ICMS. Nós fomos extremamente vitoriosos na proteção, principalmente, da cadeia produtiva da Região Serrana, com as microcervejarias e com o setor metal-mecânico. Se não estivéssemos lá, provavelmente perderíamos estas conquistas. No entanto, nós não só as asseguramos como chamamos a atenção do parlamento para o fato de que dizer que incentivo fiscal é ruim, está errado, e dizer que incentivo fiscal é bom, está errado. A gente precisa separar o joio do trigo e por isso o avanço da CPI vai trazer   transparência a esta questão. 

A crise no Estado parece não ter precedentes. Na sua opinião, como chegamos a isso? E, dentro do quadro atual, como é possível revertê-la?
A crise nasce principalmente pelo erro de planejamento, ou seja, má gestão. Má gestão, incompetência aliada à corrupção é o tripé que coloca o estado do Rio de Janeiro nesta crise profunda. Para reverter esta situação, o estado precisa, necessariamente, de uma mudança de rumo. Reconhecer aqueles caminhos que deram certo e continuar, mas, na maioria deles, promover uma inversão completa tratando iguais como iguais — não se pode tratar desiguais como iguais. E essa mudança de foco deve resultar em quê? Na possibilidade do Rio de Janeiro ter aumento de arrecadação, com quem realmente está dividindo esta conta, e não a população. Mais do que isso, acho que o Estado precisa olhar para o interior. O interior precisa voltar a ter um foco de inovação tecnológica. E essa inovação tecnológica depende, não tenho dúvidas, diretamente do interior do Estado. Se não percebermos estas questões, vamos prolongar ainda mais esta crise, para além de 2017. 

O senhor teve um papel importante na CPI dos Autos de Resistência, chegando até a presidir a votação do relatório final. Como foi a experiência de lidar com algo desta magnitude?
Essa CPI tem o foco muito direto na capital e na região Metropolitana. Eu acabei saindo um pouco da visão do interior para um problema grave da capital e da região Metropolitana. Foi uma experiência fantástica mas ao mesmo tempo assustadora, porque você começa a mexer com a estrutura de segurança do estado. Mais do que uma CPI para tratar dos autos de resistência, ela trata da lógica da segurança do Estado do Rio. Onde o próprio secretário Beltrame [ex-secretário estadual de Segurança Pública] admitiu, quando eu o confrontei levantando a questão de que estávamos “enxugando gelo”. Que a gente precisa avançar e focar em diversos outros fatores para parar de ficar jogando dinheiro fora, como faz o Estado do Rio. E mais do que isso, é uma guerra. A gente vive uma guerra e, como tal, é matar ou morrer. Estão morrendo policiais, inocentes, e bandidos estão sendo penalizados sem direito a julgamento. Eu acho que basicamente a CPI tratou da segurança pública do estado do  Rio de Janeiro e é uma Comissão propositiva porque ela apresenta uma série de demandas, não só a nível estadual como também a nível nacional.  

O senhor se reuniu recentemente com o prefeito eleito Renato Bravo para discutir alguns temas, entre eles o Hospital do Câncer. Tendo em vista as dificuldades do Estado, como avalia as chances reais da conclusão deste projeto?
Antes da crise, fui criticado pelo prefeito Rogério Cabral quando eu disse que esta obra não seria concluída no prazo, isto é, julho de 2016, e tampouco no prazo de dezembro de 2016, como infelizmente se provou. Porque há uma série de burocracias a serem vencidas e, mais do que isso, eu percebo uma certa morosidade por parte do Estado. Porque construir pode até parecer simples, mas no funcionamento, o Estado vai ter dificuldade de manter a unidade nesta atual crise que se encontra. Então, eu estou propondo uma força-tarefa entre eu, o deputado [federal] Glauber [Braga], o prefeito Renato Bravo, de forças políticas e quem mais  queira participar. Vamos à secretaria estadual de Saúde e, posteriormente, ao Ministério da Saúde, na tentativa de acelerar, não só as obras do Hospital do Câncer, como seu funcionamento. Qual a minha ideia? É a federalização do Hospital do Câncer. Eu não vejo o Estado em condições, hoje ou num futuro próximo, de bancar este hospital. Por isso eu sinto que há uma morosidade às vezes até proposital para adiar esta obra. Acontece que, quem tem câncer, tem pressa. Nós também temos pressa e por isso eu acho que 2017 há de ser um ano em que esta força-tarefa, de união de correntes políticas diferentes, será fundamental para darmos uma solução para o Hospital do Câncer. 

Um outro tema levantado foram os 200 anos de Nova Friburgo, em 2018. Algum projeto específico foi decidido para este marco? 
Para os 200 anos, o Renato [prefeito eleito Bravo] está propondo montar uma espécie de comissão para analisar todos os projetos deste evento. Isto na esfera municipal. Eu discuti muito com ele sobre a minha preocupação de que este acontecimento vá além de uma festa. Que seja a oportunidade de criarmos um marco que deixe um legado para o município. Ou seja, comemorar o bicentenário mas de olho no que virá em seguida. Que cidade nós queremos depois dos 200 anos? Eu já estava planejando para o ano que vem, mas quero fazer de forma conciliada com a prefeitura, para não ser uma coisa isolada, algo como “Nova Friburgo 200 anos: o legado”. Ou seja, queria que todos, nós e a população, definíssemos quatro ou cinco legados, principalmente na área de desenvolvimento do turismo. Que a gente busque junto ao governo do estado, a própria Alerj, o governo federal, a iniciativa privada e até no exterior, os recursos para que tenhamos os legados desse aniversário. Esse legado é um projeto no qual vamos mergulhar no ano que vem. Mas, primeiro, queremos perceber o que a prefeitura pretende para não fazermos uma ação isolada das intenções do executivo.

E o cidadão Wanderson, tem alguma proposta para o que poderiam ser estes legados?
Acho que isto tem que ser decidido com grande participação popular, acima de tudo. Mas eu acho que os legados têm que ser na área de turismo. Equipamentos turísticos para fortalecimento da cidade e crescimento econômico nesta esfera. Eu acho que a gente deve batalhar por 3 a 5 projetos, e temos que estar pensando na Cidade da Cerveja, na Praça das Flores, Pórtico, um mirante para observar a Baía de Guanabara, no estilo do que há na China. Mas acho que tudo tem que ser decidido com a população. Símbolos que levantem a autoestima da população local mas que possam fortalecer o crescimento econômico através do turismo. 

Com pelo menos mais dois anos de mandato, tem algum projeto que contribua para o desenvolvimento da região e que gostaria de ver implementado?
Batalhamos muito pela questão dos incentivos fiscais. Mas com a crise que o estado vive, demos uma recuada. Reiniciamos este debate, de incluir Friburgo na lista das cidades com incentivos fiscais, no começo do ano. Isto gerou uma mega discussão que acabou apontando para esta revisão completa de isenções e incentivos fiscais. Meu maior sonho agora, nestes últimos dois anos, é ver implementada a proposta do Supera Rio da Câmara Integrada de Desenvolvimento. Implementada em todas as regiões. Mas nós vamos começar agora com um projeto-piloto no Centro-Norte fluminense. É como se os municípios pudessem se consorciar e debater com o braço do estado a questão do desenvolvimento econômico, de maneira integrada. Nem tudo só para um, nem tudo só para outro. Que possamos ver a região como uma coisa só e que este município possa se fortalecer em todos os sentidos, seja nos circuitos turísticos, na implantação de indústrias, na implementação de políticas de saúde. Integrar o desenvenvolvimento, para mim, é uma das grandes saídas para a crise do estado.

Por fim, quem o acompanha em sua coluna A VOZ DA SERRA sabe que o senhor é um friburguense apaixonado pela cidade. Há dois anos vivendo entre a serra e a capital, o que mais sente falta de Nova Friburgo, no seu cotidiano carioca?
Que pergunta, hein?... (risos). Eu sinto muita falta de Friburgo. Mas, ao mesmo tempo, a capital tem sido, para mim, uma espécie de faculdade para me preparar mais, melhorar, para poder realizar tudo o que sempre sonhei para a minha cidade. Mas, eu sinto falta do clima, das montanhas, das pessoas. Mas, alguém tem que estar lá e essa é minha tarefa: defender os interesses da população, dos patrimônios que não têm um dono, são de todos. Defender essas pessoas me fortalece ao mesmo tempo que sinto falta delas. É na saudade que eu tenho disso tudo que a gente consegue fazer as provocações que têm que ser feitas na capital.

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