Chuvas de verão: estamos preparados?

Confira entrevista exclusiva com o coordenador da Defesa Civil municipal, coronel João Paulo Mori
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
por Karine Knust
(Foto: Amanda Tinoco)
(Foto: Amanda Tinoco)
Após o forte temporal que assustou moradores de Nova Friburgo na última segunda-feira, 16, A VOZ DA SERRA conversou com o coordenador da Defesa Civil municipal, coronel João Paulo Mori, para saber como o município tem se preparado para o verão — período de maior incidência de chuvas. Confira.

Esse verão, devido ao fenômeno El Niño, será imprevisível. Não sabemos se haverá seca extrema ou chuvas intensas"
A VOZ DA SERRA: O que a chuva da última segunda-feira nos diz sobre o preparo da cidade para o verão? Acredita que passamos por um teste?
Mori: Infelizmente a meteorologia é uma ciência imprecisa. A chuva de segunda-feira foi muito localizada e rápida. Choveu uma média de 50 a 60 milímetros, que é considerado um volume forte, e por precaução entramos em estágio de atenção. Nossa maior preocupação, no entanto, é a chuva acumulada. Se houver várias pancadas de chuva em dias consecutivos, aí sim devemos começar a nos preocupar. Acho que não podemos avaliar esse temporal como um teste. Foi uma chuva muito forte, mas as consequências eram esperadas. A quantidade de chuva que caiu em menos de uma hora foi sim muito grande, mas se a água demorasse de duas a três horas para baixar, aí sim poderíamos dizer que a situação era complicada e que os bueiros estavam muito entupidos, mas depois de 15 minutos que a chuva parou, a água baixou.

Como são definidos os estágios de alerta?
Já fizemos vários estudos e reuniões com órgãos como o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento de Alertas de Desastres Naturais), para chegarmos a milimetragem correta que define quando devemos entrar em cada estágio — atenção, alerta ou alerta máximo —, mas ainda não há um consenso. Por isso, atualmente, esses alertas estão muito a critério dos municípios. Nós ficamos observando as áreas, compilando informações e quando avaliamos que há casos em diversas regiões, começamos a avisar a população.

A Defesa Civil é avisada sobre a possibilidade de temporais por órgãos especializados?  Como isso acontece? Também há parcerias entre secretarias?
Temos dois órgãos principais que mantemos contato que são o Cemaden nacional e o estadual. Lá existem meteorologistas e geólogos de plantão 24 horas que nos contatam por e-mails e telefone. E assim como eles nos informam, nós também informamos chuvas que eles podem não estar captando de lá, como foi o caso do temporal de segunda-feira. Nosso trabalho é conjunto e constante. Além disso, temos uma sala de crise em que as principais secretarias municipais se reúnem para organizar as ações quando necessário. São cinco as pastas diretamente ligadas a nós: educação, obras, serviços públicos, saúde e comunicação social.

A população pode receber alertas e avisos da Defesa Civil pelo celular, no entanto, o número de cadastrados ainda é pequeno. Como os interessados devem fazer para ficarem informados?
Somos privilegiados porque ainda somos os únicos a possuir esse tipo de serviço. Temos 11.411 usuários cadastrados. Desde que foi criado, o sistema já enviou mais de 300 alertas dos mais variados níveis. Para receber o SMS de alerta, basta se cadastrar no site www.alertaviacelular.com.br. Infelizmente não são todas as operadores que disponibilizam o serviço, mas as de maior abrangência no município, cerca de 95%, fazem parte (Tim, Vivo e Oi).

Como a Defesa Civil está se preparando para este período de chuvas? Haverá reforço de equipe?
Foi preciso acontecer a tragédia para que as coisas mudassem em relação ao preparo dos municípios. Não existia Cemadem, nem tampouco meteorologistas e geólogos de plantão. Também não tínhamos viaturas, carros de som, sirenes. A Defesa Civil está muito mais preparada. Acredito que se tivéssemos o que temos hoje de preparo, conhecimento e expertise, em janeiro de 2011 não teria morrido tanta gente. O grande problema naquele tempo foi a falta de aviso. Temos 80 agentes comunitários espalhados pelo município, já fizemos mais de 100 simulados desde 2011.

Acredita que a população está preparada para casos de alerta?
Os testes das sirenes continuam acontecendo, os simulados também. Infelizmente, a participação da comunidade sempre foi pequena. De qualquer forma, acreditamos que todos que moram em área de risco sabem o que devem fazer. Mas vale frisar a importância de adquirir rádio de pilha e lanternas para que possam ficar informados e preparados.

Com a sua experiência de 34 anos nessa área, é possível ter uma previsão de como será este próximo verão?
Esse verão, devido ao fenômeno El Niño, será imprevisível. Não sabemos se haverá seca extrema ou chuvas intensas. Hoje estamos preparados para uma tragédia como a de 2011, torcendo para que ela não aconteça. O trabalho da Defesa Civil é como plano de saúde e seguro de carro, é preciso ter bons serviços por precaução, mas torcendo para nunca precisar usá-los.

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TAGS: chuvas | Defesa Civil
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