Casos cariocas

Por Carlos Emerson Junior
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Casos cariocas
Casos cariocas

A essa altura da vida, acho que todo mundo concorda que o assunto recorrente dos cariocas é a violência urbana. Eu mesmo, morador de Nova Friburgo, ainda não consegui me livrar desse hábito e cada encontro com meus queridos conterrâneos é sempre uma oportunidade para compartilhar alguns casos, todos rigorosamente verídicos, é claro!

Esse aqui, por exemplo, aconteceu com uma amiga que prestava serviços voluntários em uma organização de educação e orientação aos pacientes de doenças crônicas. Ela estava mudando de residência e, após a reunião mensal do grupo, recolheu várias caixas de papelão e alguns jornais velhos para “embalar a louça”, como gostamos de falar. Pôs tudo em um daqueles sacos pretos de lixo de 100 litros, amarrou a ponta e pegou o ônibus para casa.

Cansada, amarrotada e descabelada, adormeceu. De repente, despertou com os já tradicionais gritos de guerra dos marginais:

— Perdeu! Perdeu! Tia, passa o celular, a bolsa e o relógio, rápido, rápido!

Um assalto! Ainda atordoada pelo sono e agarrada ao saco preto cheio de papelada, ficou olhando para cara do bandido, incapaz de esboçar qualquer reação. Para sua surpresa, o outro comparsa se aproximou e falou para o colega:

— Deixa a tia em paz, agora vai roubar catadora de lixo? Tá maluco? Não perde tempo com ela não.

E assim foi. Limparam os passageiros, o trocador, o motorista e saíram correndo rua afora. Nossa amiga quase desmaiou de tanto medo, mas ficou quietinha, só na dela. Seu celular, relógio, dinheiro, documentos e a bolsa estavam dentro do tal saco preto.

Estão vendo o que acontece quando julgamos os outros pela aparência?

E tem mais um outro, desta vez com uma cirurgiã de plantão em um hospital da rede pública. O serviço seguia devagar, quase parando e até a turma do ambulatório estava tranquila: uma dor de barriga aqui, uma febre acolá e um bêbado para distrair.

Repentinamente foi chamada na emergência: chegara um garoto, com mais ou menos uns 18 anos, magro e esperto. Sangrava bastante e um exame rápido constatou três tiros, um na mão, outro no abdome e o terceiro no ombro. A médica, experiente com esse tipo de ocorrência, logo verificou que as três balas atingiram de raspão, sem provocar grandes danos. Mas ele tinha que ser atendido imediatamente.

O policial de serviço se aproximou, indagando o que tinha acontecido. O moloque, lúcido e esperto, chorava copiosamente:

— Doutora, eu não estava aprontando nada, juro! Estava na laje soltando pipa lá na comunidade quando fui atingido por essas balas perdidas.

— Pô, cara, fala sério, três balas perdidas? Sua comunidade deve ser no Iraque, não é? Tá bom, moleque, vamos consertar esse estrago. Depois você se entende aí com os homens.

Esse ganhou na loteria e não sabe!

O último caso não aconteceu comigo, não conheço os personagens e nem sei se é verdade, mas como foi motivo de muitas gargalhadas em uma roda de bar, vamos lá!

No meio da noite o cidadão acordou com alguém andando sorrateiramente no quintal de sua casa. Levantou e ficou atento aos ruídos que vinham de fora, até levar um baita susto com uma silhueta passando pela janela do banheiro.

Correu para o celular e ligou para a polícia explicando a situação. Perguntaram se o ladrão estava armado ou no interior da casa. Respondeu que não e foi informado que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que mandariam ajuda assim que fosse possível.

Pensou um pouco e ligou novamente:

— Olá, eu telefonei agorinha mesmo pedindo ajuda porque tinha uma pessoa rondando no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro de uma escopeta calibre 12, que fez um estrago danado no sujeito!

Três minutos depois surgiram cinco viaturas da polícia, um helicóptero, duas equipes de TV e uma ambulância de resgate dos bombeiros. O ladrão foi preso assustadíssimo, sem entender absolutamente nada. O oficial que comandava a operação chamou o morador da casa e indagou:

— Pensei que o senhor tivesse dito que tinha matado o ladrão.

— E eu pensei que o senhor tivesse dito que não havia ninguém disponível.

Pano rápido!

carlosemersonjr@gmail.com

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