Bom Jesus existe, apesar de ignorado

Moradores do loteamento no alto do Jacina lutam pela legalização e melhorias dos serviços
quinta-feira, 02 de maio de 2013
por Vinicius Gastin
Bom Jesus existe, apesar de ignorado
Bom Jesus existe, apesar de ignorado

Há pouco mais de duas décadas, a primeira casa foi construída na rua acima do ponto final do ônibus no Loteamento Jacina. Ao longo dos anos o local ganhou novas moradias e se transformou no Loteamento Bom Jesus. O crescimento acelerado levou a localidade a dividir-se em Bom Jesus I e Bom Jesus II, separados por uma bifurcação ao final da Rua Thomaz. A demarcação foi o único lampejo de planejamento em meio à falta de fiscalização. Os pouco mais de mil habitantes convivem com o contraste entre a tranquilidade e a falta de perspectiva de melhorias. O fato de não ser legalizado pela Prefeitura impede que sejam feitos os investimentos necessários para a urbanização do loteamento, localizado a cerca de seis quilômetros do centro da cidade. Os lotes demarcados anunciam novas casas e os problemas tendem a ser agravados.

“Nós já cansamos de pedir à Prefeitura, a todos os governos que passaram nesses últimos anos, e nada foi feito. Nós queremos pagar os impostos, não fazemos questão, apenas reivindicamos as melhorias a que temos direito”, argumenta o morador Leandro Venturino.

De fato, os problemas começam na Rua Thomaz, a de acesso à localidade, a partir da curva que separa o Jacina do Bom Jesus. Os buracos tomam contam da íngreme e estreita rua sem calçamento, levando os moradores a dividirem o espaço com os carros. As portas de algumas casas, inclusive, saem diretamente no asfalto. Em frente ao número 14, o esgoto corre a partir de um buraco e incomoda aos moradores. Em resposta às reclamações, a Águas de Nova Friburgo garante que enviou uma equipe ao local e nada foi encontrado. A empresa afirmou ainda que está proibida de fazer novos investimentos enquanto a legalização não for consumada. “Apesar disso, nós pagamos a conta de água normalmente”, afirmou uma moradora que preferiu não se identificar. 

Ao percorrer o bairro não é difícil perceber a precariedade do sistema de manilhamento. Na Rua A, quadra B, uma enorme vala se abriu por conta das chuvas e dificultou o acesso de pessoas e veículos às respectivas casas. A falta de legalização por parte da Prefeitura frustra os pedidos de reparos e os moradores se uniram para promover algumas melhorias. “O poder público cansou de nos prometer melhorias. Alguma coisa foi feita há dez anos, quando esse asfalto, que hoje está ruim, foi colocado e uma linha de micro-ônibus disponibilizada. Nós queríamos apenas o material para fazer as obras”, pede Fabio Venturino, morador há 15 anos, que revela a intenção de unir esforços novamente. “Estamos medindo a rua e calculando a quantidade de material. Vamos reunir os vizinhos, dividir as despesas e fazer o que for possível.”

A situação descrita é recorrente em toda a extensão do Bom Jesus. O acesso pela trilha da Rua A, que liga o Bom Jesus I ao II e serve como atalho para o bairro Rui Sanglard, torna-se difícil pela irregularidade do terreno. Algumas manilhas espalhadas revelam a intenção de resolver parte do problema. “Essa trilha, inclusive, poderia ser mais bem explorada. Uma rua bem construída poderia ligar o Loteamento ao Rui Sanglard e seria uma opção para desviarmos das ruas estreitas da Chácara do Paraíso”, comenta Fabio.

Para esta sugestão virar realidade, um longo caminho ainda precisa ser percorrido. Algumas questões básicas, como os problemas no fornecimento de energia elétrica, precisam ser resolvidos. Não há sequer postes no local e a energia chega a muitos imóveis através de gambiarras. “Nós temos apenas um padrão legalizado, que atende a quase todos os moradores”, descreve um morador da Rua das Conquistas, a principal do Bom Jesus I. No local, a estrada sem calçamento sofre com os efeitos da erosão e a situação piora a cada chuva. “Mesmo quando não chove, o caminhão de lixo, por exemplo, não consegue passar por aqui”, afirma um morador.

CARTAS ENTREGUES EM UMA MERCEARIA

A falta de legalização acumula transtornos aos moradores do Bom Jesus e interfere na qualidade de outros serviços. Os Correios, por exemplo, não entregam cartas nos pontos mais altos do loteamento. As correspondências são entregues em uma mercearia localizada na Rua Thomaz e as pessoas precisam se deslocar até o comércio para apanhá-las. “Além disso, não há policiamento regular e os postos médicos mais próximos são o Hospital Raul Sertã e a UPA”, diz um morador. 

A reportagem de A Voz da Serra entrou em contato com a Prefeitura, mas não obteve resposta sobre as perspectivas de legalização e consequentes melhorias na localidade. 

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