Ao volante do ônibus, um motorista para lá de gente boa

Machado esbanja simpatia e não dá a partida enquanto idosos, grávidas e mães com bebê no colo não se acomodam
sábado, 18 de novembro de 2017
por Guilherme Alt
Machado: “Esperar um ou dois minutos para que uma senhora mais idosa se acomode, ou alguém que esteja com bebê no colo se sente, ou até retardar a saída do veículo porque eu estou vendo que tem alguém correndo para pegar o ônibus é um dever”
Machado: “Esperar um ou dois minutos para que uma senhora mais idosa se acomode, ou alguém que esteja com bebê no colo se sente, ou até retardar a saída do veículo porque eu estou vendo que tem alguém correndo para pegar o ônibus é um dever”

“O Machado é ótimo”.

“Ah, que bom que é o Machado quem está vindo ali, gosto sempre de ir com ele”.

“É o Machado, né? Então hoje eu chego em casa cedo”.

São falas pescadas no ponto de embarque e desembarque da linha 404 (Cônego/ Cascatinha/ Interpass), em frente à Igreja São João Batista. Poucos minutos ao lado de passageiros esperando o ônibus foram suficientes para identificar a relação que Cláudio Machado tem com eles.

Ao abrir a porta do ônibus, os cordial “boa tarde” ou “boa noite”, sempre acompanhado de um sorriso, recepciona quem sobe os degraus. Muitos retribuem o cumprimento, outros, mais íntimos, apertam sua mão, perguntam pela família, e batem um papo rápido antes de passar a roleta.

“Precisamos de pessoas com esse bom humor do Machado. Eu pego o ônibus já tarde da noite para trabalhar, às vezes chego estressada e, quando entro no ônibus, só o boa noite do Machado já me deixa mais relaxada”, conta dona Maria de Lurdes.

Os elogios são constantes, e o sorriso no rosto também. E assim Machado vai fazendo amigos durante o trajeto de ida e volta até o Cascatinha.

“Ano passado estava grávida, já com a barriga grande, o ônibus lotado. Era perto das 18h30. Assim que eu passei a roleta, achei que o ônibus iria dar aquela arrancada e me preparei para não cair. Para minha surpresa, ele não saiu. Machado pediu que alguém cedesse o lugar para que eu pudesse sentar. Só depois de estar acomodada e em segurança o ônibus seguiu viagem”, contou a vendedora Carolina Faria.

"Estava indo para o ponto, mas estava um pouco longe ainda. Nesse momento o ônibus passou e o ponto estava vazio. Mesmo assim o ônibus parou no ponto, ninguém desceu,  ninguém subiu. Quando entrei no ônibus, era o Machado que estava dirigindo. Ele havia me reconhecido, sabia que estava indo para o ponto e ficou me esperando”, contou o ajudante de pedreiro José Carlos Pereira.

Gestos como esses são comuns no dia a dia de quem pega ônibus com Machado. As histórias de seu modo gentil de tratar as pessoas, da paciência com idosos e portadores de  necessidades especiais e da maneira de cumprimentar cada um dos passageiros faz com que o trajeto não seja apenas rotineiro.

“Quando eu estou dirigindo eu represento a minha empresa, então eu passo a ser o rosto do meu patrão naquele ônibus. Preciso representar bem a empresa que me contrata, mas não só isso: preciso deixar o passageiro confortável. Eu sei que muitos tem problemas, estão cansados após um dia de trabalho, então o que eu puder fazer para facilitar a vida deles enquanto estiverem dentro do ônibus, eu vou fazer”, diz Machado.

Nos casos já citados Machado não acha que seja uma questão de gentileza, mas sim uma questão de educação e obrigação. “Esperar um ou dois minutos para que uma senhora mais idosa se acomode, ou alguém que esteja com bebê no colo se sente, ou até retardar a saída do veículo porque eu estou vendo que tem alguém correndo para pegar o ônibus é um dever do motorista. Tratar as pessoas bem é fundamental. Um simples  bom dia  pode fazer com a vida de um passageiro fique melhor”.

Chamar pelo nome é outro diferencial do “Motorista Gentileza”. “Fica uma relação mais pessoal. Você passa a fazer parte da vida do passageiro. Teve uma noite que eu vi um passageiro que sempre pegava ônibus comigo, ele estava de cabeça baixa olhando para o celular no ponto e não me viu. Eu parei o ônibus por conta própria e falei: E aí, não vai para casa, não?. Esse tipo de relação que tenho com o pessoal e a reciprocidade deles é muito boa. Dinheiro é para você manter a família, mas você ganhar o sorriso e a simpatia do pessoal que você transporta e que muitos aqui são meus vizinhos é ainda melhor”.

 

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