Alex Mandarino: “Eu aprendi a ler com quadrinhos”

Confira a entrevista com o autor do romance O Caminho do Louco, primeiro livro da trilogia Guerras do Tarot.
sábado, 28 de janeiro de 2017
por Diego Aguiar Vieira
Alex Mandarino (Foto: Divulgação/Natacha Lopez)
Alex Mandarino (Foto: Divulgação/Natacha Lopez)

Alex Mandarino é escritor, tradutor e músico. Formado em Comunicação, trabalhou como jornalista ao longo dos anos de 1990 e 2000 escrevendo sobre quadrinhos, games, tecnologia e cultura pop até abandonar a profissão para escrever ficção. É autor do romance O Caminho do Louco (AVEC, 2016), primeiro livro da trilogia Guerras do Tarot. Também atua como tradutor (Discworld, de Terry Pratchett; Star Wars; China Miéville; William Gibson) e músico, nos projetos Chip Totec e Terra Incognita (este em parceria com a artista Leandra Lambert).

Light: Você traduziu parte de uma das grandes séries da história dos quadrinhos, Os Invisíveis, de Grant Morrison. Essa obra parece trazer uma grande influência sobre você, tanto em seus trabalhos musicais, quanto no nome da sua e-editora e no seu livro, O Caminho do Louco. As influências dos quadrinhos param por aí?

Alex: Os Invisíveis são meus quadrinhos favoritos e uma enorme influência. Várias guinadas e decisões tomaram forma para mim após a leitura desta série. Eu aprendi a ler com quadrinhos. Minha mãe lia para mim revistas da Marvel e da Disney, quando eu tinha cerca de dois, três anos de idade. Eu pedia que ela lesse passando o dedo sob as linhas, para que eu acompanhasse. Um belo dia reclamei que ela tinha pulado um dos balões e li o texto em voz alta. Ela percebeu ali que eu tinha aprendido a ler, juntando as letras aos fonemas. Gosto de dizer que fui alfabetizado pela minha mãe e pelo Hulk.

A partir daí nunca mais parei de ler — e não só quadrinhos. Marvel foi uma influência grande na minha infância e pré-adolescência, principalmente Barry Smith, Jack Kirby, Frank Miller, John Byrne, Steve Englehart, Frank Brunner, Mike Ploog, Mike Zeck, Ross Andru. Gosto muito da Era de Bronze, a Marvel do final dos 60 até o final dos 70. Por sua vez, minha adolescência foi marcada por editoras como a Vertigo e a Fantagraphics. Trabalhos como Invisibles, do Morrison; Monstro do Pântano, do Alan Moore; Sandman Mystery Theatre, do Matt Wagner; Locas, de Jaime Hernandez, entre vários outros, são de importância fundamental para mim em termos de narrativa, visão de mundo e senso estético.

Seu livro tem uma estrutura de jornada iniciática que se assemelha a muitas obras, principalmente as dos quadrinhos, e não apenas no desenvolvimento dos personagens, mas também nas cenas de ação. Será que podemos encarar o baralho de tarô como uma história em quadrinhos?

Acho que meu senso narrativo é fortemente influenciado pelos quadrinhos, principalmente parte do ritmo. Também devo muito ao cinema, mas as cenas de ação são uma tentativa de traduzir para o texto a cadência de games como GTA, só que filtrada pelo fluxo de consciência de autores como Burroughs e Kerouac. Enfim, uma mescla de narrativa pop com a experiência formal literária.

O baralho de tarô, com sua trajetória contada através de cenas retratadas em molduras, com certeza pode ser considerado um precursor dos quadrinhos.

O segundo livro da trilogia, O Laço do Enforcado, sai esse ano. Será que veremos as personagens migrarem para outras mídias, como os quadrinhos e curta-metragens para a internet?

Há a ideia de criar quadrinhos com os personagens do universo de Guerras do Tarot, principalmente os Arcanos maiores (Mago, Sacerdotisa, etc) e o Superintendente Ciaran. Também quero mostrar outras encarnações do grupo, em outras épocas, seja em quadrinhos ou contos. As cartas estão na mesa.

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