Água: abundância não significa eternidade, muito menos infinitude

Depois de um período de seca entre 2014-2015, safra de Nova Friburgo se recupera em 2016
domingo, 22 de maio de 2016
por Ana Borges
Rio Macaé, Ponte dos Alemães (Foto: Regina Lo Bianco)
Rio Macaé, Ponte dos Alemães (Foto: Regina Lo Bianco)
De maneira geral, acredita-se que a água é um recurso renovável, eterno, infinito. Apesar dos claros sinais climáticos apontando para problemas de escassez devido a estiagem, como o que afetou o reservatório de Cantareira, em São Paulo, ano passado, entre outros em todo o país, a população resiste em aceitar esta nova realidade. Basta que chova o suficiente para uma recuperação apenas razoável do volume de água nos reservatórios para as pessoas voltarem a praticar antigos e reprováveis hábitos. E consumo irresponsável aliado ao desperdício e à poluição significa déficit global de água. Problema invisível apenas para quem não quer ver.

A água é um promotor de desenvolvimento de Nova Friburgo”

Selmo Santos, secretário municipal de Agricultura

Segundo a ONU, cada ser humano consome direta ou indiretamente quatro litros de água por dia, enquanto o volume de água necessário para produzir nosso alimento diário é de pelo menos dois mil litros. Isso explica por que aproximadamente 70% da água consumida no mundo vão para a irrigação (outros 20% para a indústria e 10% para as residências). E cerca de um terço da população mundial vai sofrer os efeitos da escassez hídrica nos próximos anos.

A análise do ciclo completo de uso e reuso da água aponta o desaparecimento de mananciais como poços, lagos e rios, e destaca a pouca atenção dada à diminuição das reservas subterrâneas.

Recursos hídricos de Nova Friburgo

Nova Friburgo conta com recursos hídricos em abundância nas bacias que abrangem a região. Seu relevo é responsável pela formação de vários canais de drenagem, que, somada a altos índices de precipitação, origina um grande número de riachos, córregos e rios. Essa fartura, longe de ser invisível, é distribuída por todo o município e favorece sobremaneira sua produção agrícola, que recebe 90% de água vinda dos rios. Dependendo da região, os lavradores coletam água de nascente, formam um lago e direcionam seu conteúdo para um poço, e através de bombas chega às plantações.    

No entanto, não há garantia quanto à disponibilidade de água. “Ano passado, por exemplo, houve uma séria escassez no município, que se refletiu em toda a safra de hortifruti. A seca afetou a produção em 20%, no período entre 2014/2015. Em compensação, de 2015 para 2016, a situação se regularizou e voltamos a ter água suficiente para a irrigação, e este ano os agricultores não têm do que se queixar. A colheita foi boa e a fase ruim ficou para trás”, avaliou o secretário municipal de Agricultura, Selmo Santos. Porque choveu, porque ainda chove, apesar de tudo, por enquanto...

A roda-d’água que gira o comércio

A perspectiva de bons negócios para a agricultura familiar no município é alvissareira, segundo o secretário. “A nosso favor temos a força das famílias na lavoura e sabemos que devemos muito dos bons resultados à quantidade de água existente em nosso chão, porque aqui chove bem. A quantidade aliada à qualidade de nossas frutas, flores, verduras, legumes, folhas, se deve, sem dúvida, à fartura de água na região”, reitera.

Selmo Santos gosta de repetir que a nossa água fomenta o comércio local, pois, segundo ele, “90% do que se produz em Friburgo fica em Friburgo”. E completa: “Esse dinheiro não compra casa em Miami, Cabo Frio ou Rio das Ostras. O agricultor friburguense compra casas, terras, carros, roupas, sapatos, eletrodomésticos aqui, quer dizer, o faturamento que a agricultura gera fica na economia local. A água é um promotor de desenvolvimento de Friburgo”, enfatizou Selmo.   

O secretário considera que, por ser um estado pequeno, o Rio de Janeiro tem uma agricultura familiar consolidada, assim como os estados do Sul, forjados na intensa imigração europeia e, portanto, com forte característica familiar. Também se consolidou no Nordeste, em família, embora, economicamente e socialmente falando, por outras razões. Já o Centro-Oeste não acompanhou essa tendência. Lá, a produção é extensiva, de monocultura de soja, milho e gado de corte, em uma topografia plana e de grandes dimensões.

“De volta à nossa realidade, prevalece em nosso estado o tamanho da produção desses incontáveis e pequenos grupos, que registra o seguinte: 92% de tudo que é comercializado no Ceasa-Rio é resultado da agricultura familiar praticada em todo o Rio de Janeiro. Esses pequenos trabalhadores rurais, como se formiguinhas fossem, dão uma contribuição inestimável para a economia fluminense”, salientou o secretário, para encerrar com uma simples e direta pergunta-resposta: “E o que move tudo isso? A água”.  

Difícil imaginar Friburgo seca. Veja por quê:

O município de Nova Friburgo é banhado pelas bacias dos rios Grande e Bengalas, dos ribeirões de São José e do Capitão, e do rio Macaé. Os principais rios que cortam o centro da cidade são Santo Antônio, Cônego e Bengalas — este último se forma após o encontro dos primeiros.

O Cônego nasce da junção dos córregos Caledônia e Bambuaçú e do rio Cascatinha, no mesmo bairro. Percorre os bairros Cascatinha, Santo Antônio, Cônego, Olaria, Bela Vista, em sua parte baixa, e Centro. Já o Santo Antônio nasce no Debossan, corta as localidades de Mury, Ponte da Saudade, Bairro Ypu e Centro, e juntamente com o Cônego forma o Bengalas.

O Rio Bengalas, durante seu percurso entre o centro da cidade e o município de Bom Jardim recebe as águas dos pequenos córregos que vêm das partes altas da cidade, principalmente dos bairros Braunes, Tingly e ainda as águas dos córregos do Relógio, dos Inhames e do Córrego d’Antas. Deságua no rio Grande, no distrito de Banquete (Bom Jardim).

O Rio Macaé nasce na localidade de Verdun, distrito de Mury e segue rumo leste do município, em direção a Lumiar. Em Lumiar, recebe as águas de vários rios, como o Bonito e o São Pedro. Ele possui diversos trechos cheios de cachoeiras, o que propicia a prática de esportes radicais, como o rafting, boiacross e a canoagem, que fazem de Lumiar um dos mais importantes redutos de esportes radicais do estado, sede de competições como os circuitos estadual e nacional de Canoagem.

Os ribeirões de São José e do Capitão nascem no distrito de Amparo, cortando grande área rural da localidade. O Capitão deságua no São José, que por sua vez deságua no Grande, já na cidade de Bom Jardim.

O Rio Grande nasce na Serra do Morro Queimado na localidade de São Lourenço (3º distrito de Nova Friburgo), Campo do Coelho (zona rural da cidade). Rio que banha as áreas rurais da cidade cortando bairros como Conquista, Campo do Coelho, Rio Grande de Cima, e o distrito de Riograndina, o rio Grande é um dos mais importantes afluentes do Paraíba do Sul, que nasce em São Paulo e deságua em São João da Barra, no norte fluminense, cortando os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro.

  • Foz do Rio Bonito (Foto: Regina Lo Bianco)

    Foz do Rio Bonito (Foto: Regina Lo Bianco)

  • Rio Macaé, Estada Serramar (Foto: Regina Lo Bianco)

    Rio Macaé, Estada Serramar (Foto: Regina Lo Bianco)

  • Rio Bonito (Foto: Regina Lo Bianco)

    Rio Bonito (Foto: Regina Lo Bianco)

  • Rio Macaé (Foto: Regina Lo Bianco)

    Rio Macaé (Foto: Regina Lo Bianco)

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TAGS: água | Meio Ambiente | agricultura
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