A volta do umbigo de Diego Vieira

terça-feira, 12 de abril de 2011
por Jornal A Voz da Serra
A volta do umbigo de Diego Vieira
A volta do umbigo de Diego Vieira

Na última segunda-feira, 04, a editora Barba Negra (www.editorabarbanegra.com.br) fez um anúncio bastante esperado entre os criadores de quadrinhos nacionais que esperam uma chance de ver seus trabalhos publicados e amplamente divulgados: a revelação dos finalistas do Prêmio Barba Negra e Rio Comicon. Eles passam a concorrer a um prêmio de R$ 20 mil, com direito a lançamento na próxima Rio Comicon, no final do ano. Também serão anunciados outros prêmios de R$ 5 mil, mas não há garantia de que os selecionados sejam todos publicados.

A premiação foi anunciada na primeira edição da Rio Comicon, em novembro do ano passado, que trouxe para o Brasil autores de quadrinhos do mundo todo, como o italiano Milo Manara, a americana Melinda Gebbie e o inglês Kevin O’Neill (os dois últimos parceiros do roteirista Alan Moore em Lost Girls e A Liga Extraordinária) — que se reuniram a nomes do cenário nacional como Laerte, Rafael Grampá, Lourenço Mutarelli e os gêmeos Gabriel Ba e Fábio Moon. O resultado do evento foi um sucesso, fazendo os organizadores lançarem junto à editora Barba Negra o prêmio em questão.

Foram inscritos 402 trabalhos dos mais diversos estilos, com 672 participantes de todos os estados brasileiros, somando mais de 12 mil páginas de roteiro e mais de 1,6 mil páginas desenhadas — a inscrição previa projetos de histórias em quadrinhos com um mínimo de 96 páginas, com sinopse, trinta páginas de roteiro e quatro páginas finalizadas de quadrinhos. A seleção — verdadeira peneiragem, se levarmos em conta os dados acima — culminou com dezesseis projetos, enviados entre o final de 2010 e meados de fevereiro passado. Um desses projetos é A Volta do Umbigo, de Diego Aguiar Vieira e Antonio Eder Semião.

Olho maior que o umbigo

Enquanto Antonio Eder tem mais de vinte de anos de estrada no mundo dos quadrinhos e no mercado de publicidade, Diego é relativamente novato no metiê.

“Tenho histórias curtas publicadas em fanzines, jornais, revistas e sites desde 2003, mas esta é a primeira vez que corro o risco de ver meu trabalho publicado com essa pompa toda”, brinca o roteirista, que já teve seus quadrinhos publicados nas páginas do Light de A VOZ DA SERRA, onde também trabalhou como repórter não tem muito tempo.

“A experiência como jornalista foi ótima. Tanto que espero voltar um dia”, conta Diego, que deixou a redação para se aventurar como co-roteirista de um reality show Gospel, um período que ele considera “tortuoso e muito difícil, principalmente porque, de muitas maneiras, acabei não tirando quase nada de bom daquele trabalho”, diz, dando o assunto por encerrado — ou não tão encerrado assim, já que saiu do programa mas continua esperando ver a cor do dinheiro que lhe era devido.

Apesar de não se achar confortável para contar muito acerca da trama de seu projeto, Diego adianta que a história se passa no bairro onde cresceu — a Volta do Umbigo —, em Macuco. “Como a competição continua, acho injusto ou até mesmo fora da regra do jogo que eu fale aqui sobre a história, apesar de que, se essa entrevista tivesse acontecido alguns dias antes do resultado, eu muito provavelmente ficaria muito mais empolgado em falar a respeito da estrutura sobre a qual a planejei — do que da própria trama”, diz, dando a entender que A Volta do Umbigo pode conter possibilidades de leitura bem diferentes dos quadrinhos normais.

Ainda que não revele muito, Diego diz que a decisão de ambientar a história em sua cidade natal, mais precisamente no bairro onde vive desde a tenra infância, foi muito natural. “Veja bem, esta não é uma história autobiográfica. Nem semiautobiográfica. Longe disso. É, ainda sem revelar muito, mais uma investigação temporal, estética, que se passa aqui, respira aqui. Não acredito que meus vizinhos se reconhecerão nas personagens, tampouco nas situações; mas é, ainda assim, uma história muito íntima”, diz o autor, que revela ainda não ser esta a sua primeira história ambientada em Macuco.

“Um dos meus primeiros trabalhos com quadrinhos foi a roteirização de uma história baseada em um evento real, acontecido aqui, no começo da década de 70”, conta Diego, referindo-se ao trabalho A Fera de Macuco — história que levou um ano e meio para ser escrita e que deveria contar com cerca de 150 páginas. “Ela chegou a ser parcialmente ilustrada duas vezes. A primeira vez pelo Antonio Eder, que também desenhou a série Pássaros Artificiais, publicada no Light, e outra vez pelo Élcio Chicanoski, que chegou a publicar algumas páginas em seu blog pessoal, mas logo desistiu do projeto e, pelos nossos últimos contatos, também dos quadrinhos”. Diego conta ainda que a história, escrita quando estava no Ensino Médio, voltou a lhe interessar e, se ele encontrar tempo, corre o risco de ser re-escrita e, quem sabe, finalmente publicada.

“A Fera de Macuco é baseada numa história real. No começo da década de 70 Macuco ficou conhecida nacionalmente pelo avistamento, por parte dos moradores, de um lobisomem que aterrorizou a cidade. Minha avó diz ter visto o tal bicho, que teria devorado uma ninhada de cachorrinhos de seu vizinho. O meu pai também tem um par de histórias. A cidade está cheia de gente que teve alguma experiência sobrenatural nesse período”, conta Diego, lembrando ainda que a atenção atraída para Macuco gerou até filme. “Reginaldo Farias dirigiu e protagonizou uma película mentempsicótica, chamada Quem tem medo de lobisomem?, que usava as cidade de Cordeiro e Nova Friburgo como cenários, mas tinha como inspiração os eventos de Macuco”, explica.

Apesar de estar abraçando mais projetos do que acha ser possível efetivamente lidar, Diego afirma não ter um só pelo qual não sinta um profundo amor. “A Volta do Umbigo, é claro, tem sido minha menina dos olhos, mas tive uma conversa encantadora com amigos um tempo atrás e pode ser que engatemos a produção de um curta-metragem de animação que pode dar o que falar. Também estou me preparando para começar uma série de oficinas de produção de quadrinhos com alunos da rede estadual de educação, começando em Macuco e, se tudo der certo, se estendendo para municípios vizinhos. Isso fora a infinidade de roteiros de quadrinhos e cinema que tenho aqui, guardados, esperando acontecerem”, conta o autor, explicando que agora que finalmente mordeu o osso, dificilmente o largará.

Segue a lista dos 16 finalistas.

Em breve, a editora informará a data na qual será divulgado o vencedor.

A Desistência do Azul, de Leandro Mellite Moraes (SP).

A Volta do Umbigo, de Diego Aguiar Vieira (RJ) e Antonio Eder Semião (PR).

Achados e Perdidos, de Eduardo Damasceno (MG) e Luíz Felipe Garrocho (MG).

Aparecida Blues, de Biu (DF) e Stêvz (RJ).

As Crônicas Bizarras do Absurdyum, de Galvão (SC).

Barato 66, de Bruno Azevêdo (MA) e Luciano Irrthum (MG).

Bola Fora, de Paulo Gerloff (SC), Pablo Mayer (SC) e Diogo Cezar Correia (PR).

Duas Luas, de André Diniz Fernandes (SP).

Estudante de Medicina, de Cynthia Bonacossa (RJ).

Marcus, o Menino Vermelho de Marte, de Nestablo Ramos (DF).

O Pássaro da Boa Hora, de Plínio Fuentes (RJ).

Salalé, de Heitor Yida de Araujo Lima (SP) e Mateus Acioli Siqueira Aguiar (SP).

Severino, de Eloar Guazzelli (SP).

ST Bastard, de Leonardo Martinelli (MG) e Raphael Salimena (MG).

2112, de Brão (SP) e Cabelo (SP) e Daniel Araújo (SP).

Imaginário Coletivo, de Wesley Rodrigues (RS).

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