Dirigindo com os pés: o freio

terça-feira, 27 de junho de 2017

Conforme dissemos em nosso encontro anterior, a utilização dos freios (reativos) está diretamente ligada ao uso que se faz do acelerador (ativo). À exceção de descidas ou situações imprevisíveis, a grande maioria das vezes em que o pedal do meio é utilizado, alguém acelerou mais do que precisava ou deveria, abrindo mão de economia e segurança. Por isso mesmo, é o freio — e não o acelerador — o melhor medidor do desperdício de combustível.

O ciclo é fácil de ser compreendido. A energia química armazenada no combustível é (parcialmente) convertida em energia cinética pelo motor. E quando essa conversão é excessiva e o veículo encontra-se veloz demais para a situação que se apresenta, então esse excesso precisa ser convertido em energia térmica através da atuação dos freios. A partir daí, na imensa maioria dos casos, ela será dissipada na natureza, e não poderá mais ser recuperada. A exceção fica por conta de alguns dos veículos mais luxuosos e caros do mercado, que já são equipados com sistemas de recuperação de energia que convertem o calor dos freios em eletricidade, que por sua vez alimenta motores elétricos que devolvem parte da energia cinética na próxima vez em que o acelerador é utilizado.

O desperdício de combustível, no entanto, é o menor dos males neste cenário. O grande problema do uso excessivo do acelerador é que ele coloca o motorista em situações nas quais passa a depender da atuação dos freios para que evite um acidente. E freios, é bom que todos saibam, não são infalíveis.

Atuação

Ao contrário do acelerador, que atua sobre o motor, os freios agem diretamente sobre as rodas, e só exercem efeitos sobre o motor de maneira indireta e sob condições controladas, que veremos em nosso próximo texto.

É igualmente importante observar que eles atuam sobre as quatro rodas. Por isso, em descidas existe a tendência de travamento das rodas traseiras, ao passo que em situações de baixa aderência (chuva, pista suja ou pneus gastos, por exemplo), qualquer uma das rodas pode travar com maior facilidade.

Há que se destacar ainda que se houver diferença de aderência entre os dois lados do carro (caso a pista esteja suja em apenas um dos lados, ou se houver uma pequena poça de óleo ou água, por exemplo), frenagens fortes podem provocar rodadas. A fim de evitar o travamento de qualquer uma das rodas — e a consequente perda de controle — foi desenvolvido o sistema ABS, que mantém as rodas girando mesmo nas frenagens mais fortes, até que o carro esteja efetivamente parado. Antes de abusar dos freios, portanto, é importante saber se seu veículo, carro ou moto possui ABS, e se ele está funcionando corretamente.

Uso

Para reduzir a velocidade de maneira eficiente e controlada, a frenagem deve sempre respeitar os limites de aderência entre pista e pneus. Por isso, é aconselhável frear com o volante ainda reto, para que 100% desta aderência disponível seja utilizada apenas para acelerações lineares. Da mesma forma, o ideal é manter velocidade contínua ao percorrer curvas, a fim de que a aderência disponível seja aproveitada ao máximo para “segurar” o veículo na pista. Frear enquanto se percorre uma curva obriga os pneus a dividirem a aderência em duas tarefas distintas, tornando muito fácil o travamento. A situação é especialmente perigosa, pois além de comprometer a redução de velocidade, ela também faz com que o veículo siga reto. Se a curva for à esquerda, o destino pode ser o acostamento; se for à direita, pode ser a contramão.

Conclusão

O assunto poderia render um livro inteiro, mas a essência é simples: cuide sempre da manutenção dos freios, para reduzir as chances de que eles venham a falhar numa situação emergencial. Aprenda a frear em condições extremas, para estar pronto caso isso se revele necessário. E, por fim, dirija de maneira prudente e cerebral, evitando acelerar além do necessário, para que tanto essa capacidade mecânica quanto esta habilidade de condução não sejam necessárias.

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Márcio Madeira da Cunha

Sobre Rodas

O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas

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