Você quer sair da compulsão?

quinta-feira, 09 de novembro de 2017

Nesta vida temos dores de origem física, emocional, social, espiritual. Podemos tentar fugir desta realidade, mas não dá. E o modo de fugir pode variar. Você pode meter a cara no trabalho, pode se viciar em álcool, drogas de farmácia e ilícitas. Pode ficar compulsivo para compras, para sexo, romance, jogo, comida, acúmulo de bens materiais. As compulsões são uma maneira da pessoa tentar se livrar da dor mental.

Mesmo boas pessoas e até religiosas, lutam com compulsão sexual. Como qualquer compulsão, ela visa o alívio da profunda angústia no psiquismo da pessoa. Pessoas compulsivas sofrem e fazem outros sofrerem. Por exemplo, para cada pessoa que abusa do álcool, tendo compulsão alcoólica, seis outras são afetadas pelo beber compulsivo dela. Um sofrimento individual afeta quem está em volta.

Diante de qualquer compulsão a pessoa tem um momento de decisão. Quando a ansiedade excessiva aperta e ela se sente muito desconfortável, a pressão é exercida no sentido dela usar o objeto de sua compulsão para tentar o alívio desta ansiedade alta. Exemplo: um homem casado ao se sentir muito ansioso, pode ceder aos pensamentos eróticos e adúlteros e acabar se envolvendo com outra mulher.

Se ele quer resolver este problema de compulsão sexual, vai precisar admitir que em certo momento em sua mente surgem pensamentos eróticos, sensuais, e neste momento ele pode decidir alimentar tais pensamentos e ideias que acabam se transformando em desejos poderosos, ou pode escolher lutar contra tais ideias e evitar dar o passo na prática da compulsão. Alimentar uma ideia ligada à compulsão, fortalece a obsessão e empurra a pessoa para o ato compulsivo.

Alimentar uma ideia é algo modificável. A saída começa quando a pessoa interrompe os pensamentos obsessivos destrutivos e começa a formular em sua mente novos e melhores pensamentos. Se, por exemplo, uma pessoa vive dizendo para si mesma que ela não vive sem determinado remédio, o corpo e mente passam a ser influenciados por isto e a pessoa realmente se torna dependente daquele medicamento. É uma sugestão poderosa que o corpo passa a crer como verdade.

Um amigo, médico coreano-norteamericano, com quem estudei na Califórnia, dizia que muitas pessoas adoecem com Alzheimer porque não suportam pensar em certas situações da vida muito dolorosas mentalmente. Então, elas vivem fugindo de pensar naquelas coisas. E esta fuga se torna tão forte, tão obsessiva, que o cérebro obedece e desliga a memória. Só que o cérebro não sabe necessariamente fazer isto de forma seletiva, ou seja, apagar só o que é ruim. Ele pode apagar tudo. E apaga porque a pessoa pede para fazer isto com seu estilo de pensar. Fugir da dor não querendo pensar nela, não é a melhor maneira de lidar com o sofrimento.

Usando o objeto da compulsão o cérebro dá uma “ligada”, surge muita dopamina que excita o sistema nervoso central e dá uma sensação boa. Mas fazer isto através de compulsões vicia o cérebro e em breve ele não saberá mais como manter a pessoa calma e serena, e ficará desregulado porque o bombardeio foi pesado demais para ele porque a pessoa não lidou com sua dor por um meio construtivo.

Algumas coisas na vida do compulsivo produziram muita angústia (do passado infantil, da adolescência, e também frustrações na vida atual). Estas angústias por vezes ficam pesadas demais e com isto há o desprazer. Para sair do desprazer, surgem impulsos destrutivos como os ligado à compulsão sexual. Querer sair da dor, da angústia, não é o problema. O problema é usar formas ilícitas, que destroem a confiança, a harmonia, a paz na família, e destroem o compulsivo.

Quando a pessoa resiste aos impulsos sexuais, a angústia piora porque quando ela cede e permite ser levada pelas compulsões, o prazer surge, o alívio vem, a angústia parece que desaparece. Mas é momentâneo. Ela ainda está ali na pessoa. Portanto, para lidar construtivamente com compulsões é preciso tolerar e suportar a angústia que surge quando se resiste aos impulsos sexuais (ou outros). No começo é muito difícil. E nem todos aguentam e recaem. Alguns voltam à sobriedade e outros morrem na droga, mesmo no álcool, e acabam com a família.

A cura da compulsão sexual ou outra tem que ver com a redução da ansiedade. Se a pessoa se concentrar no amor não erótico com a esposa/esposo isto será um bálsamo. O que cura é o amor. Não o amor das novelas de TV, que geralmente tem modelo doentio. Mas o amor maduro, sereno, calmo, consciente, não obsessivo, coerente, pé no chão.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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