Se você foge da verdade, então não tem jeito

terça-feira, 12 de julho de 2016

Não é fácil mudar e vencer as dificuldades emocionais que perturbam nosso comportamento e relacionamento com as pessoas. Mas é possível. Mudar e amadurecer emocionalmente é um processo. Não é da noite para o dia. Não é produzido por medicação.

Muitas pessoas que procuram psiquiatras e psicólogos não necessariamente, pelo menos no início, querem mudar profundamente o jeito como são. Elas querem alívio dos sofrimentos. Mas isto é diferente de mudança interior que perdura. É diferente de cura.

Não há nada de errado em querer alívio e resolução do que nos faz sofrer, seja fisica, mental ou espiritualmente. Não fomos criados para o sofrimento. O Criador não tem prazer no sofrimento das pessoas, mesmo das pessoas perversas e corruptas. Mas temos que entender que os sintomas são manifestações de algo que está desordenado, disfuncional em nosso ser.

Os sintomas nos avisam de que precisamos fazer algo para melhorar, sem ser buscar o médico, sair com uma receita, adquirir o remédio na farmácia, tomá-lo certinho e querer ficar bom de tudo. Isto tem seu lugar, claro.

Ficar bom de tudo é uma utopia nessa existência. Todos temos dores. Todos, mesmo as pessoas ricas, famosas, poderosas, têm sofrimentos e lutas. Claro, o dinheiro serve de alívio porque proporciona conforto.     

Mas ele não dá vida ao seu possuidor, não oferece cura. Se fosse assim, pessoas ricas e famosas não teriam depressão, não se tornariam dependentes químicos, não se suicidariam. Mas isto ocorre também com elas.

 Não desista de buscar alívio e cura. Mas talvez você vai precisar ampliar sua visão disto e reformular seus conceitos sobre cura. Isto depende de honestidade emocional que é um tipo de honestidade sem a qual não é possível haver melhora, alívio, cura.

Você pode mentir para si mesmo não querendo ver a verdade, ou se acomodando em melhoras superficiais, só sintomáticas. Não querer ver a verdade sobre seu sofrimento pode ser feito conscientemente, que é quando a pessoa já entendeu que ela precisa de algo mais sem ser tomar remédios de farmácia, mas não quer pensar no assunto e se agarra aos medicamentos como fonte de cura.

Também você pode fugir da verdade sobre a cura que precisa e deseja, de forma inconsciente. Isto ocorre porque a pessoa rejeitou tanto e por muito tempo as verdades que a vida lhe trazia sobre a real necessidade de mudar e o que precisaria fazer para isto ocorrer, que sua mente cauterizou.

Ou seja, a mente anestesiou de forma dura e resistente o que a pessoa deveria enxergar e admitir para pegar o caminho correto de melhora. Quando você foge persistentemente de uma verdade, ela acaba se afastando de sua consciência porque você está comandando para que isto ocorra. Nosso cérebro obedece o que insistentemente dizemos a ele. Se você diz pelo comportamento que não quer ver certas verdades sobre si mesmo, e insiste nesta negação por muito tempo, finalmente é como se sua mente lhe dissesse: “Está bem. Vou apagar esta verdade da memória. Não vou mais trazer isto à luz da consciência. Vou esquecer. Se é isto o que você quer, tudo bem.”

A partir daí você vive a mentira sobre seu sofrimento e as abandona as maneiras eficazes de resolvê-lo. E talvez ficará dependente de remédios, de pessoas, de dinheiro, de bajulação, de sexo, de comida, de maconha, de elogios, de atenção etc. Porque se você foge da verdade, então não tem jeito de mudar, de obter a cura que, pelo menos da boca para fora, você diz que deseja.

É preciso desejar o desejo honesto de cura. Cultivar isto. Pensar nisto. Meditar nisto e resistir à tendência de negar que no fundo de si há dores difíceis que precisam ser encaradas, compreendidas, verbalizadas talvez, para que a cura se processe. Isto depende de escolha sua. Faça a escolha certa. 

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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