No amor não há medo

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Não creio que exista alguma pessoa neste planeta que ame perfeitamente. Todos lutamos com, ou sucumbimos ao egoísmo inato. Egoísmo é oposto de amor maduro, perfeito. O amor leva a pessoa a pensar em como ajudar os outros. O egoísmo leva a pessoa a pensar em como usar os outros para seu benefício. E usar é abusar.

Quem vive com medo, ainda não consegue ter amor maduro. O medo é essencialmente autocentrado. Um indivíduo pode dizer que tem medo de familiares sofrerem algo, dando a impressão de que se preocupa somente com os parentes. Porém, pode existir a preocupação consigo mesmo, ou seja, inconscientemente a pessoa pode ter um pensamento tipo: “Acho que não vou lidar bem com a situação, se ocorrer um problema com meu parente. Preciso saber se tudo está bem com ele (ela) para me acalmar dessa ansiedade.” Neste caso a preocupação ou o “amor” é com a saúde, segurança, integridade da outra pessoa ou com os sentimentos de ansiedade, medo, angústia pessoais?

O amor em sua perfeição envolve completa entrega e conduz ao alívio, confiança e esperança. Ao contrário, o medo retém as coisas, encolhe a personalidade, reduz o que se poderia fazer de útil na vida, e afasta a pessoa da paz. O medo traz em si a punição porque, afinal, não é ruim viver com medo?

Claro, há o medo no sentido de prudência. Neste caso se preserva a si e aos outros do que depende de sua pessoa e recursos. Entretanto, o medo saudável não fica perturbando a pessoa depois que ela fez o que era possível para proteção dos seus bens pessoais, da própria vida e das pessoas amadas.

Como não há medo no amor perfeito, a pessoa que teme demonstra que ainda não foi feita perfeita quanto à mais alta forma de amor. Felizmente o desenvolvimento desta capacidade é possível. É um processo. Não é paixão. Não é sensualidade. Não é romance. Não é ciúme. Não é controle do outro. Não é submissão doentia ao outro. Este amor não tem nada a ver com o das novelas.

Quanto mais crescemos em amor, menos temos medo. Muitos sofrem mental e espiritualmente por ter medos exagerados, incluindo medo de Deus, de ser punido por Ele ou por outro deus da sua crença. Se seu deus é carrancudo, violento, vingativo, eminentemente punitivo, realmente é difícil você viver sem medo dele e provavelmente sua relação com ele é distante, formal, desprazerosa. Mas se o Deus no qual você crê é bondoso, misericordioso, paciente, justo, amoroso, você vive sem medo dEle.

Será que um dos melhores remédios para muitos sofrimentos mentais não é a confiança no amor perfeito que cuida de você? Já percebeu como que soluções chegam em sua vida sem que você tenha feito nada para merecer recebê-las? Você cultiva um espírito de gratidão por isto? Ou duvida, desvaloriza e crê que foi coincidência ou acaso? Por que alguns acreditam e outros duvidam diante do mesmo fenômeno? O que faz a diferença na mente da pessoa entre crer e não crer?

Se conseguirmos olhar as provações e dificuldades como situações que a Vida permite que venham sobre nós para nos ensinar algo, poderemos não sucumbir no medo. O amor maduro não permite que você siga na vida se autoenganando e se maltratando sem tentar lhe ajudar. Ele emite sinais para você parar, olhar e fazer melhores escolhas. Estes sinais são sintomas de uma doença física, mental, social, espiritual. Evite querer eliminá-los logo com substâncias, ato social, excesso de trabalho, sexo, comida, dinheiro. Pare e pense: este sintoma indica que há um problema em mim. O que?

Dá para viver num mundo corrupto e violento sem medo? Sim, porque a verdade diz que no amor não há temor. Então, que amor é este que possibilita a pessoa a viver sem medo numa sociedade complicada e bem enferma da ética, da moral, do respeito mútuo?

Crer neste amor muda nossa relação com a vida, com nossos medos e ansiedades, porque se torna possível olhar de uma nova maneira para as provações e dores que nos afligem. Passamos a vê-las como “professores” ou “alertas” nos indicando a parar, analisar nossa maneira de viver e de lidar com as pessoas, e com a gente mesmo, desaprender algumas coisas, aprender outras de uma nova maneira, da maneira do amor perfeito, sem medo.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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