Finados e o comportamento social humano

quinta-feira, 02 de novembro de 2017

A palavra finado significa algo ou alguém que finou, que chegou ao fim, que está morto. O Dia de Finados é conhecido também como Dia dos Mortos. E nós, seres humanos, somos um ser para a morte. Já nascemos seguindo na direção para morrer. A morte, a primeira morte, é inevitável. Todos temos que passar por ela. É uma tristeza e uma tragédia. 

No Brasil em 2016 foram registradas 61.619 mortes violentas, que atingiu a maior quantidade de homicídios ou assassinatos na história do país, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Fazendo os cálculos, chegamos à conclusão de que sete pessoas foram assassinadas por hora em 2016 no Brasil. É isso mesmo! Sete pessoas por hora! Comparando com a taxa de 2015, houve um aumento de 3,8% de homicídios. 

O Estado brasileiro com maior número de mortes violentas por 100 habitantes foi Sergipe, com 64. Em segundo lugar veio o Rio Grande do Norte com 56,9 e depois Alagoas com 55,9. Dentre as capitais com taxas mais altas de assassinatos também por 100 mil habitantes, a primeira foi Aracaju com 66,7, depois Porto Alegre com 64,1 e Belém com 64. Quanto ao número de latrocínios, que são roubos seguidos de morte, houve um crescimento de 57,8% em sete anos no Brasil, dados estes do 11º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança, que será lançado em São Paulo nestes próximos dias.

Morte. Fim da vida. A pessoa que você amava, não está mais ali. Seu irmão, se foi. Sua mãe, seu pai, seu marido, sua esposa, seu filho, um amigo, seu cachorro, a morte levou. Ou levará. Não, a morte não levou e não levará. É a vida que deixou o corpo da pessoa e ficou só o cadáver, a saudade, a falta, o vazio, a tristeza, a alma seca. Será que nos acostumamos com a morte e o morrer? Acho que não. A gente finge que engole. Mas não desce. Nossa mente, na verdade, anestesia a percepção da consciência da morte e do morrer, do outro e nossa mesmo. Às vezes voltamos a dar um espaço em nossa própria mente consciente sobre o assunto da realidade da morte quando sofremos um baque em nossa saúde, ou quando recebemos a notícia da morte de um familiar ou conhecido. Então, lembramos: também estou indo para a morte.

Que chato! Que problema! Ariano Suassuna, escritor, dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta e professor brasileiro, falecido em 2014, numa entrevista disse que o maior problema filosófico do ser humano é o problema do mal e do sofrimento humano. Ariano morreu. Mas antes de morrer ele também sofria, como todos nós do que os filósofos chamam de “angústia existencial”, que é um tipo de morte. Morte da serenidade absoluta. 

No Brasil vivemos a morte da boa moral, da ética, da confiança na liderança governante. É uma morte difícil de encarar porque atinge tantas coisas na sociedade, não é? Não seria possível ter hospitais públicos vivos, funcionando bem? Não seria possível ter saneamento básico, água potável, energia elétrica, escolas de qualidade, em locais mais pobres? Não seria possível tanta coisa na sociedade se a morte não dominasse a mente de algumas pessoas chave que exercem poder? Mas sair deste tipo de morte e entrar na vida valiosa, é uma questão de escolha pessoal. E não são muitas pessoas de poder que fazem este tipo de escolha positiva, vital, benéfica.

Mas você pode escolher hoje a vida e a morte. O bem ou o mal. A verdade ou a mentira. Você pode ficar vivendo finados cada dia, ou levantar a cabeça e decidir agir para a vida. Perdemos a capacidade de decidir saudavelmente? Será que as medicações sintéticas, especialmente as psiquiátricas, estão nos privando disto? Será que a futilidade das conexões nas redes sociais nos alienam da vida e nos colocam na morte, na morte do significado da vida, das relações humanas profundas, do saciamento da alma? Onde queremos chegar? Onde chegamos? Sete assassinatos por hora no Brasil. Isto dentro do que foi registrado. Em cada nove minutos uma pessoa é assassinada em nosso país. Será que falta mais Carnaval? Falta mais cerveja? Será preciso mais cachaça? Falta o governo disponibilizar mais camisinhas (preservativos)? Ou será que sobra ganância, corrupção, cinismo, famílias desestruturadas, injustiça social, alcoolismo e outras dependências químicas, sexo fácil?

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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