A dor como aprendizado

quinta-feira, 03 de novembro de 2016

“Os sintomas e a doença não são a mesma coisa. A doença existe bem antes dos sintomas. São os sintomas, não a doença, o começo da cura. O fato de serem indesejáveis faz de todos eles mais um fenômeno da graça, um dom de Deus, uma mensagem do insconsciente para, se quiser, iniciar o auto-exame e o restabelecimento”, diz o dr. M. Scott Peck, médico psiquiatra. (citado por Philip Yancey, em “Onde está Deus quando chega a dor?”, p. 22, 2005).

Um sofrimento – e uma doença é um sofrimento – tem significado nas lutas na vida. Nenhuma doença vem sem causa. Ela é um esforço da natureza para tentar se libertar das consequências da violação das leis da saúde. Você transgride, consciente ou inconscientemente, uma lei que regula o bom funcionamento fisiológico, podendo ser lei física (fisiologia), ou do mundo emocional (psicodinâmica), ou da sua espiritualidade (batalha entre o bem e o mal), e surgem manifestações desta transgressão – os sintomas. Diante disto, qual a conduta a ser tomada? A tendência genérica é buscar a cura dos sintomas. Qual o problema disto?

O mundo está medicalizado. As mentes das pessoas estão se tornando alteradas por química sintética usada de forma abusiva. Muitos pacientes querem tomar uma pílula, mas não querem mudar algo do estilo de vida que interfere na saúde e produz a doença.

Precisamos entender que uma doença é uma complexidade que envolve o físico, o emocional e o espiritual, a genética, a epigenética, e até o social. 
Não adoecemos por compartimento. O ser humano é um todo imerso, composto e participante das dimensões citadas acima, independente de você de ter ou não uma religião. 

A Universidade de Harvard no próximo dia 2 de dezembro vai apresentar o “Harvard Symposium on Advancing Health, Religion, and Spirituality” (Simpósio Harvard sobre o avanço da saúde, religião e espiritualidade”). http://projects.iq.harvard.edu/rshm/event/harvard-symposium-advancing-health-religion-and-spirituality.

Cientistas sérios e não reducionistas entendem a ligação das dimensões física, mental e espiritual para a saúde e para a doença. O foco deste simpósio será discutir como a religião e a espiritualidade em conexão com a saúde pública e a prática da medicina podem aliviar a doença e promover o bem-estar, mais especificamente na época do final da vida.

“A chave da felicidade é não tanto evitar a dor a todo custo, mas compreender seu papel como sistema de alerta protetor e tirar proveito disso em seu benefício, não contra você.” (Yancey, p. 49). Tente você pensar no papel da dor que experimenta agora em sua vida. Tente mudar a pergunta de “Por que isto comigo?”, para “O que posso aprender com esta dor?” 

Os sintomas que lhe produzem dor (física, emocional, espiritual ou social) podem ser a luz vermelha amiga, não inimiga, que acende no painel de sua vida lhe dizendo para parar, refletir, e ver o que precisa ser modificado, seja no campo da saúde física (alimentação, prática de exercícios físicos, etc.), seja na maneira como você lidar com seus pensamentos, sentimentos, escolhas, seja como você vive, ou não vive, a espiritualidade. Pense nisto, por favor. 

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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