Alguém é ideal? Ninguém é ideal?

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Existe alguém que seja ideal como patrão, empregado, marido, esposa, filho, filha, irmão, irmã, amigo, amiga, vizinho? É difícil ou fácil viver o não ideal? É difícil ou fácil não ser uma pessoa ideal? Você vive ou trabalha com alguém ideal? É você uma pessoa ideal?

Dicionários definem “ideal” como: “que só existe na imaginação; fantástico, quimérico; que possui a suprema perfeição; perfeito; beleza ideal; perfeição que o espírito imagina mas que não se pode alcançar completamente, o artista visa ao ideal; exemplar, melhor.

Há pessoas tidas como possuindo beleza física ideal. Mas este modelo de beleza é ideal segundo qual parâmetro? Há cultura sem que a mulher gordinha é o padrão de beleza desejado. Para um grupo social, o rapaz atlético, musculoso, é o modelo mais atraente para boa parte das garotas. Que padrão tomar como base da beleza física? Alto, baixo, magro, gordo, musculoso, estatura mediana, pele branca, negra, bronzeada, morena?

E quando chegamos ao mundo emocional das pessoas a coisa complica. Do ponto de vista do temperamento, as pessoas são bem divergentes. Temperamento é o que tem que ver com a maneira mais instintiva de alguém funcionar. Alguns autores dizem que 70% do temperamento é herdado, e o resto é aprendido.

Há os que possuem temperamento explosivo, melancólico, fleumático ou sanguíneo. O explosivo frequentemente perde o controle emocional, embora se reconcilie mais rápido com as pessoas e não tende a guardar ressentimentos, não pensa muito, mas faz. O melancólico é sensível, reprime muito a raiva e tem mais dificuldade de abandonar mágoas, não faz muito, mas é bom pensador. O fleumático é pacífico, mas parece não ter sentimentos. O sanguíneo pode falar mais do que deveria, não tem muito os pés no chão, embora seja alegre. Todos possuem características boas e ruins. E nenhum é ideal.

Quanto ao relacionamento afetivo especialmente conjugal, um grande desafio para a vida harmoniosa tem que ver com a aceitação de que não há alguém ideal com quem viver, e, claro, incluindo você mesmo. Você é uma pessoa ideal, perfeita, completa, exemplar?

Você já consegue aceitar isto? Aceita que seu parente (filho, marido, esposa, pai, mãe, etc.) não é ideal? Ou ainda não aceita e assim tenta mudar a pessoa, se anula para tentar agradar na fantasia de que conseguirá o “ideal”, ou fica buscando alguém ideal por aí?

Ao se começar a descobrir no casamento que o cônjuge não é a pessoa ideal que se pensava que era, isto pode ser difícil para muitos. Ao se casar apaixonado, não se percebe e não se considera que a paixão é cega e, por isso, não vê defeitos na pessoa. A paixão tende a bloquear o raciocínio e este pode ficar seriamente perturbado ao ser encharcado pela paixão. Não é aconselhável tomar decisões drásticas em momentos de paixão. Não é comum acertar nas decisões na vida quando elas são tomadas movidas pela paixão.

Em termos de relacionamento afetivo de casal, paixão é se agarrar a uma pessoa que está em sua mente, à uma imagem que você faz em sua mente, e que vai se mostrando (bem?) diferente de como a pessoa real é com o passar do tempo no convívio à dois.

Desidealização é, portanto, o processo mental no qual a pessoa vai tomando consciência de que o ser ideal que estava na mente dela, e era desejado, não é a pessoa com quem ela está vivendo. O difícil é continuar a amar (se é que o que se sentia antes era amor mesmo) a pessoa quando se percebe que ela, na realidade (não mais na fantasia da paixão) é diferente do modelo que havia na cabeça da pessoa quando estava apaixonada.

Para passar para um amor maduro, é preciso viver a desidealização.Quem não passar por este processo de desidealizar, provavelmente poderá cair em adultério (virtual ou real), porque não vai aceitar o processo, não vai aceitar que o outro não é tudo o que queria e pensava que era, e pode começar a construir a ideia de que deve ter sim alguém “lá fora” que preencha tudo o que se deseja. A verdade é que todos têm uma falta. Enquanto você não aceita esta falta, permanece na fantasia da pessoa ideal. 

Ninguém é ideal. Mas qualquer um pode decidir e escolher lutar para melhorar o jeito próprio de ser um dia de cada vez. Não fazer isto é acomodar-se e ficar na zona de conforto e isto não favorece o crescimento pessoal.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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