As bandas

sábado, 23 de maio de 2015

A Euterpe e a Campesina selaram um acordo. Realizar juntas um concerto na praça, em frente à matriz. A Campesina saiu de sua sede executando o Cisne Branco, e os comerciantes vinham até a porta para aplaudir. A Euterpe, por sua vez, solava a marcha do Expedicionário e arrepiava o povo que estava na praça aguardando o acontecimento. Cumprimentaram-se os maestros Joaquim, da Campesina, e Madureira, da Euterpe. Um grande palco foi armado para a grande e inusitada festa, que prometia ser histórica.

A primeira música a ser executada foi “Rapshody in Blue”, com aplausos calorosos e vibração do povo. Os dois maestros regiam ao mesmo tempo as duas bandas e as batutas marcavam o ritmo com rigidez, sem atrasar e nem adiantar o compasso.

E vieram Aquarela do Brasil e o povo cantou junto. Neste embalo solaram Aurora, num festival de saudade.

Na Campesina era a despedida dos músicos Zeca do Pistom, que fez fama no Rio de Janeiro, e Wagner do Trompete, que mais tarde foi requisitado para solar arranjos de Gil, Betânia e Gal. Um trágico acidente na Rio-São Paulo tirou a vida de Kantz Naciele, louro, alto, bonito e sensual. Uma cópia perfeita do pai. Uma covardia quando solava seu clarinete, era o próprio Benny Goodman e suas trilhas de cinema.

O concerto terminou com as duas grandes orquestras executando O Luar do Sertão. Os dois maestros se abraçaram comovidos como o povo gritando bis. Bateram com a batuta no púlpito e solaram Cidade Maravilhosa. O relógio da Matriz badalava como que aplaudindo aquele encontro de fé musical e religiosa.

As orquestras então marcharam cada uma para sua sede sob os aplausos calorosos do povo. Os músicos e os maestros transbordavam de felicidade.

Foi um encontro inusitado. Oportunidade única para as duas orquestras acabarem com as picuinhas e malediências que um dia rolaram. As duas mostraram ali talento e respeito. Cada uma com seu estilo. E ambas saíram ganhando, passaram a ter mais alunos depois do evento.

A Euterpe e a Campesina são um patrimônio de sensibilidade da cidade. Friburgo merece outros encontros iguais a este. Foi bonito de se ver.

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Jorginho Abicalil

Jorginho Abicalil

Recado de Jorginho Abicalil

Como era Friburgo antigamente? O que o tempo fez mudar? O que não mudou em nada? Essas e outras questões são abordadas, aos fins de semana, na coluna “Recado de Jorginho Abicalil”, onde o cronista relata a Nova Friburgo de outros carnavais.

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