O que é a paixão?

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Paixão é a inquebrantável forma que te torna sabiamente inconsequente. Inventa versos, veste de música as declarações que tenta esconder, mas escorrega no olhar, nas mãos que ávidas querem tocar as outras mãos. Cria um universo de coincidências que podem ser meros acasos. No contraponto dirá: “Acaso é milagre disfarçado” — só para não assustar. Milagres, apesar de bem-vindos e clamados — assustam. E, assusta na ansiedade de quem necessita mais do que deseja.

Não há tempo a perder! A paixão é faminta e sempre parece finita. Fortalece então a determinação do gostar genuíno que não se envaidece e glorifica a felicidade do outro mais que a própria. Mas se for feliz junto, melhor ainda. É o que se pede em oração.

Paixão faz perder a capacidade de discernir o que é humilhação de educação. E, você tem atitudes que beiram a entrega absoluta sem o receio de parecer dado demais ou altruísta de menos. Porque na paixão o altruísmo também se faz, direta ou indiretamente, para si mesmo. Você se deixa invadir e não se importa se o seu exército será aniquilado ou não. Sai da defensiva e aceita o amor que acha que merece receber. Ser invadido se torna objetivo de sua vitória, perder território significa, portanto, ganhar o mundo.

É assim divino ao mesmo tempo em que maldito, o dia que se conhece quem supostamente parece ser a pessoa de sua vida. Se você crê nisso, é porque possivelmente é. Na verdade, você sabe... Simplesmente você sabe que é: o amor da sua vida!

Se eu pudesse explicar, acho que nem com outra crônica inteira, pois é complexo traduzir o que a alma quer dizer. Deixa então sentir. Apenas deixa sentir. O sentimento dá sentido a tudo. Talvez seja melhor se enveredar em apenas ler o olhar.

Se esforça, debruça, bagunça. Seria passageiro se não fosse passageiro do trem onírico que valsa nos trilhos dessa esperança de ser mais que amizade. A certeza de que é aquela a pessoa, é a mesma que impõe dúvidas, incertezas, os tais quilos de grilo da poesia de Drummond. Quilos de grilo pesam mais que quilos de nuvem, ainda que um quilo seja sempre um quilo seja lá do que for.

Porém, a ironia ensina: a inspiração que vem da incerteza traz certezas afixadas na fé. Fé na conspiração do universo ou apenas no que diz o tarô, signos, numerologia e todas essas formas de buscar o futuro que mostrará estar mais junto e perto lá na frente do que no agora. Este lá na frente — admite — podia não ser tão longe assim. Lembrando que para um apaixonado, amanhã é meio longe; depois de amanhã é longe e uma semana então é a própria eternidade. No inverso dessa lógica, para um apaixonado "para sempre" é quase nada e o "para sempre" é o que se busca no nunca acabe isso que me entorpece e colore o dia.

De certa forma, no extremo, transforma-se em bendita a hora que se conhece aquela pessoa e maldita a hora que o amor da sua vida se estende por todas as horas fazendo presença permanente mesmo nas repetidas ausências.

O amor sempre está muito ligado à verdade. As coisas que você mais quer não são as que te destroem no fim. Mas o que destrói mesmo é a forma como você teima em querer no seu tempo. Se tal paixão é o amor da sua vida, então estará na sua vida, mais cedo ou mais tarde. É preciso conter a voracidade e aceitar.

Leio num livro: “Qualquer coisa que acontece de repente vai desacontecer também de repente”. Será? Se assim fosse aniquilaríamos todas as histórias de amor. Porque por mais que o amor seja construído num esforço diário, é de um acontecimento, de um encontro que sua fagulha acende e faz ascender. Uma vez aceso, esse fogo ilumina tudo. Esse fogo aquece tudo. Esse fogo se percebido, se basta. Mais do que ver o infinito, você se sente infinito. E, essa sensação há quem jamais terá em toda uma vida.

Visitado por isso, atento para o que pode ser a pessoa que fará de você e dela o mais belo nós, que a paixão seja o começo e o amor o único fim.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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