De saudades e nostalgias

domingo, 26 de abril de 2015

Tenho saudades de muitas coisas. Sou capaz de sentir saudades de algo que acabou de acontecer. Diriam que sou um ser nostálgico. Volto a dizer com convicção ainda maior: sou um ser nostálgico que adora fabricar nostalgias futuras.

No presente, quero ter cada vez mais e mais saudades, dessas que não saem do peito e enchem o coração. Não me importa se o que instala em mim é choro ou sorriso. Ambos são igualmente importantes e valorosos. Nossa história é escrita assim. Nenhuma biografia é feita de letras frias, mas de lágrimas e sorrisos. 

Confesso não entender quem é avesso às saudades. A saudade ou a nostalgia nada mais é que a confirmação de que algo importante, realmente marcante, visitou as nossas vidas. Sejam momentos, pessoas e ambos porque um não existe sem o outro. Momentos são feitos por pessoas e são pessoas que fazem os momentos.

Quero dividir essa festa que é a vida. Quero ser convidado para a festa que é a vida de cada um que me rodeia. Quero estar também nos momentos em que a festa não tem som e é só silêncio ou lamento. Peço e só peço para estar na biografia de alguns, porque aí saberei que a minha biografia terá sentido. Eu sendo testemunha de histórias permite que a minha história também tenha testemunhas. Não há outro jeito...

Sou grato por cada instante com os anjos que me circundam aqui na terra. Aqueles que já estão há muito tempo me protegendo e me fazendo avançar, como aqueles que chegaram agora, mas que parecem estar na minha vida antes mesmo do início dos tempos. Ah! É tão boa essa sensação de que somos repletos de milagres. É tão bom esse sentimento de acreditar que a vida é mais do que a ciência supõe e perceber então que o que nos faz voar é a fé nas pessoas. Essa tal fé que faz com que não temamos nada além do tempo tal qual conhecemos. As estrelas não cairão do céu e podemos observá-las suspensas no infinito. Podemos amar sem medidas e na ausência de métrica nos doar sempre mais.

Sou ansioso para viver tudo o que tenho para viver num instante, sem a preocupação do esgotamento. Cada momento pede para ser vestido de intensidade. Exagero é se anular ou economizar esperando outro dia. E se o outro dia não vem? Agora é sempre tudo o que se tem! Ansiedade fina para rever quem saiu agora, mas que já nos deixa saudade no momento de apertar a mão, de dar o abraço.

Somos, todos nós, sóis que precisam entrar na janela de cada coração que nos causa impacto. Essa empatia no primeiro olhar, essa vontade de se ver mais que se ter e ter de fato por quem viver, esperar, sentir saudade e fabricar nostalgia contínua. Ter por quem rezar, ter por quem se preocupar com a boa preocupação de quem cuida porque o amor pede esse verbo. Confiar. Admirar.

De saudades e nostalgias é feita a vida e é preciso entender que nossos dias dependem disso para ser feliz. Somos assim livremente dependentes dessa energia que nos abastece e motiva. E que nos faz parar também vez em quando para perceber o que sentimos. A nossa maior razão de estar aqui é nos emocionar e permitir sermos sentimento em constante combustão. 

Só há beleza dentro se houver capacidade para enxergar a beleza que há fora. É preciso dizer que se ama a quem se ama e convidar e ser convidado para tudo que a vida permite compartilhar. Acreditar que é possível viver mais do que só sobreviver. Enfrentar a mortalidade com a alma que se completa ao se deixar invadir por outras almas das quais sabemos sem exatamente explicar que tornam tudo melhor, inclusive, a gente mesmo. Não há outro sentido para a existência que se não esse...   

 

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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