Conselhos para mim mesmo

sexta-feira, 03 de julho de 2015

A beleza atrai, mas não é a beleza que te faz se encantar por alguém. O que encanta é a sintonia. O que apaixona é o jeito. O jeito da pessoa é que te faz acelerar o coração e se entregar ao mais belo sentimento que existe no ser humano. É o jeito que transforma o acaso em coincidências e a fantasia em realidade.  

Relacionamento não é equação, por isso não se pode tentar explicar pela lógica. Mas é sim a soma das qualidades e defeitos. É isso que cria o tal laço que possibilita dizer: vamos nos encontrar, reencontrar e reencontrar e reencontrar de novo... O que vem depois? A melhor forma é descobrir juntos, com o tempo. Nesta descoberta, será fenomenal saber que os defeitos do outro são perfeitos para si. Estica-se aí a história, o poema e o livro para além das reticências de ontem. Cria-se segurança para, passo a passo, dar até cambalhotas nessa corda bamba que é o destino. Haverá com quem cair junto, mas acima de tudo, alguém que vai te salvar ou fará você voar.   

Pode parecer clichê e gostar de alguém é, mas essas frases feitas encontram sentido quando seu coração se preenche com o nome de alguém. O peito vem para a garganta, a inspiração ecoa por todo o seu ser. É possível afirmar que não existe nada melhor. Faz bem até perder o sono antes de o dia amanhecer ou não conseguir ir dormir, porque já está se sonhando acordado. Gostar de alguém faz até você gostar mais de si mesmo — e isso é muito importante.

Há quem tenha medo de se entregar. Há quem tenha coragem de vencer os receios e as dúvidas e mergulha. Coragem é na sua etimologia agir com o coração. Assim, só a coragem leva à felicidade. Nunca vi o medo levar alguém a lugar algum. Posto que o medo estatiza, por que querer ficar no mesmo lugar? Quem fica no mesmo lugar jamais experimentará as incríveis emoções que a vida pode oferecer. Talvez, não se machuque, mas também não sentirá calor ou frio, dor ou prazer. Meio termo não é nada, meio termo é impeditivo para ser completo. Isso também não quer dizer que se deva ter pressa. O que é bom deve ser degustado, vagarosamente, para sentir todos os sabores. Banhar-se com cada gota do mar é melhor do que ter num só momento o oceano inteiro. 

O inusitado é lindo. A tal surpresa agradável que visita quando menos se espera ou se procura. Aliás, na desistência de procurar, muitas das vezes encontra e se encontra. Encontra um mundo de cores e novidades por segundo. Músicas que te trazem para perto a motivação de seus sorrisos mais generosos. Encontra-se consigo mesmo no seu melhor jeito. Doce, vívido, entusiasmado e que adora fazer surpresas, dessas adolescentes que te rejuvenescem.

Quando o universo conspira a favor de uma conexão cabe a nós apenas estar atentos para não deixar passar. E, isso, é como o cometa Halley que só passa de muitos em muitos anos. É preciso perceber. É necessário se permitir. Viajar sem querer prever onde vai parar e se vai parar. Vai e aproveita o passeio. Voa e vive aquilo que voa mais do que o que vê — sente. Saiba que isso é privilégio. Não sei se os deuses lamentam informar (eu lamentaria), poucos terão a honra de viver um incrível encontro, desses que beiram o impacto de corrigir rotas e mudar rumos. Se tiver essa possibilidade, se for visitado por essa magia, não se recuse a imergir. Vá e deixe acontecer! Sinta-se um abençoado e proteja essa bênção. Seja convicto dela e viva-a o quanto for impossível.

Há certas coisas que não é preciso dizer. Estão explicitas no olhar e nas atitudes. Abandone um pouco as exigências e experimente namorar com os olhos. Beijo de olhar é, muitas das vezes, melhor que o da boca. A felicidade é digesta para quem consome e para quem acompanha. Porque felicidade é contagiante. Se tudo depende de como se vê, insista no que lhe faz bem e transforme o que é encanto em afeto, o que é afeto em algo apaixonante...

Lembre-se: a beleza pode até encantar, mas é o jeito que apaixona. A paixão evolui para amor se depois de toda a lenha esgotada, ambos se tornarem tanto quanto um para o outro que já não possam se separar. Depender, livremente, do outro no seu cotidiano para todas essas coisinhas miúdas e grandes que tem na vida é o maior dos milagres e a menor das vaidades. A partir do instante em que um convida o outro para compartilhar mais que aventuras e novidades — mas para ser testemunha e personagem na biografia do outro — o que se tem é uma raridade que torna tudo ainda mais especial. O amor não é uma linha reta e andar nela requer entrega. Acima de tudo pede compreensão, companheirismo e certa devoção daquelas que sabe esperar — preenchida de fé — mas também admiração. Aliás, nada como admiração para sustentar um bom amor. É a fagulha central que permite não acender uma fogueira como a da paixão, mas que branda permite existir por toda a eternidade.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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