Cigarro de palha

sábado, 13 de janeiro de 2018

Alguém acendeu um cigarro de palha do meu lado. Queria que fosse você. Mas nem olhei para ver quem era. Contei para mim mesmo em confissão que o fim não chega mesmo quando aquele cigarro de palha se acaba. Mesmo quando todos os cigarros de palha se findarem. Para além do fim tem todo esse antes do adeus. Eu sinto tanto a sua falta. Entendo agora como os dias sem claridade sentem falta da lua. Porque é assim que me sinto.

Se o afastamento por si só resolvesse, não estaria aqui fazendo morada essa saudade e essa vontade de te ver. De que adianta se afastar, se para onde eu vou carrego você? O tempo tratará de sarar, mas o tempo é o que fazemos dele. Os dias até podem aquietar, mas jamais farão esquecer que a minha escolha foi boa, mesmo a escolha não me querendo. Isso não anula a intimidade estabelecida pela força do que nos juntou.

De todas as pessoas do mundo que eu pude escolher, você foi a melhor que escolhi, a que eu mais amei. Nesses momentos de multidão eu percebo ainda mais o quanto te amo. Entre a multidão alguém fuma um cigarro de palha. Onde você está? Nessas horas em que a prudência manda nada dizer que eu me fixo em ter que falar para mim mesmo o quanto te adoro, quase te devoto. Me devoro....

Odeio o que escrevo e também passo a não gostar, mas sei que Deus perdoa os bons, sinceros, entregues e ingênuos. Qual será o meu sujeito nessa história que só sei responder quem é você? O perfume que borrifo me lembra que você gosta dele. As pulseiras nos meus braços me lembram as suas. Até o souvenir daquela sua viagem fazem sua ausência me visitar. O tolo cigarro de palha me lembra do seu sotaque e de cada sorriso ou das vezes que não exitou em chorar na minha frente e se revelar para mim. O cigarro de palha.

Não preciso fumar ou ver alguém fumar o maldito cigarro de palha para lembrar do seu jeito de mobilizar o meu mundo, ainda que sempre refute a ideia de colocar você no centro de tudo. E, nunca coloquei. O meu egoísmo é que sempre fez meus dias se mobilizarem para você que nunca me paralisou. Nos dias mais felizes me fez voar e até agir de maneiras equivocadas. Nos instantes mais tristes apenas deixei o cigarro de palha queimar. E vejo lugares por onde o sentimento flutua e descubro desperto que não é e nunca foi o lugar. Mas quem está no lugar. Você.

E vou me encontrar. Outros lares me virão. Mas isso não quer dizer que eu possa te esquecer ou sentir menos a sua falta. Porque você me faz falta. Eu sinto muito a sua falta. Queria ter falado com você ontem. Diria que adorei o filme que vi e me fez chorar. Queria te apresentar uma música que ouvi e nela vi você. Tive vontade de perguntar se estava bem. Espero um dia poder tornar a dizer as banalidades do meu cotidiano. Como você está?

Quase comprei um cigarro de palha para você. Comprei para mim. Nunca fumei. Estão lá, jogados na mesa de canto da sala. Já pensei em atirar pela janela. Jogaria, se pudesse mandar pela janela o sentimento que tenho. Mas não quero que esse sentimento se vá. Porque eu amei de verdade e ainda amo e sempre amarei. Mesmo que nunca mais sequer te veja. Mesmo que eu nunca mais possa te ouvir. Verei seu sorriso pelas fotos. Sentirei seu cheiro pela festa dos aglomerados que não conheço.

Te busquei e não fui levado. Te procurei e ao não ser encontrado me encontrei só. A vida é mais interessante quando participo dos seus dias e participa das minhas horas. Te olhar de longe é fazer do perto que está dentro de mim - distância. A distância entre os extremos do mundo estão aqui no meu peito vazio da fumaça dos cigarros de palha. Se fossem apenas os cigarros de palha que me trouxessem você...

Saudade da sua inteligência, do seu olhar, da sua implicância. Do seu jeito de acender um cigarro de palha, da sua exigência para a qualidade dos cigarros de palha e da forma como você segura o cigarro de palha e os consome. Sinto a sua falta mesmo seguindo em frente. Porque sigo te amando e tentando entender essa injustiça sentenciada por nós dois.

Talvez seja mesmo melhor assim. A leveza não nos curou. A densidade dos sentimentos cantou mais forte aos nossos ouvidos e o coração de ambos escutou. Se fosse apenas a fumaça dos artesanais cigarros de palha talvez tivéssemos nos salvado. Ironia, agora tenho apenas os cigarros de palha e uma falta de você que me mostra o quanto fui feliz. Queria mais, mas só posso ter mais dos mesmos cigarros de palha que não fumo.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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