Vou brindar a literatura em cada momento

segunda-feira, 11 de julho de 2016
Foto de capa

A cada coluna que escrevo, brindo o que nos salva; a palavra, frase ou texto que nos oferece caminhos, sabedoria e nos orienta a estar neste mundo tresloucado. Que sustenta o amadurecer e oferece ideias produtivas a cada momento do viver.

Ao longo de um ano, fui mergulhando a tal ponto na literatura que minhas crônicas acabaram por extrapolar o âmbito infantojuvenil. Não por desconsiderar este gênero tão delicado e difícil de construir. Talvez até para enaltecê-lo, uma vez que a criança e o jovem estão da mesma forma que nós, os adultos, inseridos nas circunstâncias e não são, de modo algum, poupados da dor ou protegidos de difíceis situações. Às vezes, quero dizer, muitas vezes, mais expostos que nós que temos um pouco mais de experiência, conhecimento e sagacidade.

A literatura possui características específicas que envolvem linguagem, temática e modos de abordagem que o autor precisa considerar a partir da faixa etária e do público alvo. Quero ressaltar que o respeito para com as características cognitivas e culturais do leitor colaboram para que o texto lhe seja interessante e compreensível, de modo a fazê-lo debruçar-se sobre o conteúdo por sentir-se por ele encantado. Cativado no sentido de estar preso a ele. Ou dentro dele para melhor dizer, na medida em que as palavras, frases ou até mesmo as ilustrações influenciam seus modos de sentir, pensar e agir. E acabam fazendo parte dele mesmo. Como o Pequeno Príncipe faz comigo que a todos os momentos me oferece mensagens e ilumina meu pensamento. Ah, Saint-Exupéry foi um grande filósofo e conhecedor da alma humana do século passado, como Fernando Pessoa. Foram divinos. Eu os salvos todos os dias.

Os textos infantojuvenis são difíceis de construção e, possivelmente, são os que apresentam maiores níveis de desafio ao escritor. Como “Meu Amigo Pintor” de Lygia Bojunga, que aborda o suicídio, “Um Dia Passa”, conto escrito por Lila Maia que fala do luto decorrente da morte da mãe. Ou da personagem clássica “Vasalisa”, que inspirou várias obras atuais como Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés, ao mostrar a intuição feminina através de uma menina que precisa cumprir tarefas impostas pela bruxa “Baba Yaga”.

Perseguindo a profundeza destas e de outras tantas histórias, acabei sobrevoando os âmbitos da dramaturgia, do romance e do conto adulto, até, em algumas vezes, das pesquisas históricas. Assim, de modo traquina, aquele jeito infantil de ir além, fui brindando a literatura de várias maneiras, mas me afastei do mote da coluna.

E, então, através de um pequeno detalhe, como a mudança do título da coluna, vou passear com sem receios de ser travessa pelas trilhas da literatura que me oferecem campos imensos a serem explorados.

Assim, esta coluna, a partir de agora, vai se chamar MOMENTOS LITERÁRIOS. A cada edição vamos, o leitor deste jornal e eu, nos encontrar com temas significativos, como o processo criativo do autor, os gêneros literários, os hábitos de leitura e tantos outros. A literatura é um universo infinito uma vez que retrata a vida em todos os seus âmbitos.

Fernando Pessoa considerou que a literatura é a prova de que a vida não basta, vai além da pessoa e extrapola os limites humanos. O que transborda, agora penso eu, são energias derivadas de sentimentos, vontades, tristezas, alegrias que se misturam e se transformam em ideias.

Ah, a vida é uma ideia, disse ele em “O Vencedor do Tempo”. Na literatura, ultrapassa fronteiras através das palavras que são empregadas com arte, inteligência e respeito. Entre frases, parágrafos e linhas não é reduzida, como às vezes acontece na fala comum espalhada pelas esquinas. Entretanto quando descrita pelas mãos sensíveis de um autor, é ampliada, vivificada e amada, mesmo que sob suas lágrimas. As palavras que as amparam vão ser guardadas nos livros, jornais ou textos dramatúrgicos; não serão perdidas no tempo ou levadas pelo vento.

E exatamente nesta coluna, a de número 48, encontro mais um significado especial. Em numerologia, o número 3 ilumina as palavras, a expressão e a comunicação; as artes, o teatro e o cinema. Assim, sinto que dou mais um passo na minha vida de escritora.

Começo, então, uma segunda fase neste jornal amigo que me acolheu com tanta alegria. E, da mesma forma, vou continuar a pensar na vida através do escrever.

TAGS:
Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.