Quando as pedras do rio brilham sob as águas

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Foram muitas as conversas que tivemos no 1º Encontro Fluminense de

Escritores. Entretanto, uma me chamou a atenção, a que faz as pedras de um

rio brilharem sob as águas.

Tenho tido pouco tempo para ler. O que é ruim. Essa modernidade toda

em que estamos mergulhados, que nos faz viver em dois mundos, o real e o

virtual, nos rouba o tempo para ler. Tenho lido, enquanto pesquisa para

escrever esta coluna semanal. Porém, o tempo ficou raro para ler histórias,

degustar as palavras, as ideias e os valores contidos no texto, o modo que o

autor tem para a criar. Quando acontece de existir no meu dia, já é tarde da

noite; estou pestanejando e caio no sono. Pronto!, o dia amanhece e tudo

recomeça.

Bem, estava lendo o livro de Mia Couto, UM RIO CHAMADO TEMPO,

UMA CASA CHAMADA TERRA, aos trancos e barrancos, tendo, inclusive,

quando recomeçava, que retornar algumas páginas para me situar na história.

E Mia Couto é um dos maiores escritores da nossa época. Cada capítulo que

lia era como se fosse uma aula de escrita e criatividade. O tema é um defunto

que não está lá bem morto. Que está morto de alguma forma, mas é capaz de

falar e engravidar uma jovem. E, assim, vai o enredo, contando a história de

uma família. Uma metáfora das relações de um lugar. Divertido, inclusive.

No Encontro Fluminense de Escritores, Delmo Ferreira, o Presidente da

Academia Teresopolitana de Letras, enfatizou que o leitor consegue, ao ler um

livro, identificar as fontes das quais o autor se alimentou.

Esta premissa é verdadeira demais.

A história de Mia Couto é uma mentira que ele pretende que seja

verdadeira aos olhos do leitor. Seu texto é um belíssimo devaneio bem

contado, e ele nos deixa transparecer os caminhos que vivenciou. Ah, o nosso

Mia, conhece Fernando Pessoa e Machado de Assis. Até porque Fernando

Pessoa mostrava Machado de Assis em suas linhas. E, aí, esta história tem

meandros de Camões. De Shakespeare, inclusive.

O nosso Vinícius era também um grande viajante pelos bosques da

literatura. Dizem as sábias línguas que ele chegou a saborear os versos da

ilíada. Um grande escritor não pode prescindir de Ulisses, de James Joice, nem

de Miguel de Cervantes. Muito menos de Lewis Carol. Ah, a bela Alice... Não é

uma personagem efêmera.

Termino esta coluna, deixando uma frase do livro para pensarmos

baixinho, no canto do nosso travesseiro. Em segredo.

Nenhuma pessoa é só uma vida. Nenhum lugar é apenas um lugar. Aqui,

tudo são moradias de espíritos, revelações de ocultos seres. E eu despertara antigos fantasmas.

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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