O significado de um concurso literário

“A literatura é um assunto sério para um país, pois é, afinal de contas, o seu rosto.”
Louis Aragon

A nossa casa, a Academia Friburguense de Letras, ficou em estado de alegria quando recebeu textos, vindos de vários estados do Brasil, para concorrerem aos prêmios do 3º Concurso Nacional Júlio Salusse, que homenageia, nesta edição, Machado de Assis. Este concurso só nos trouxe orgulho, a começar pelo apoio acadêmico que prontamente recebemos da Academia Brasileira de Letras, quando fomos, Robério José Canto, nosso presidente, Ordilei Alves da Costa, diretor cultural, Alberto Abib Lima, diretor financeiro, e eu, a secretária, gentilmente recebidos pelo seu presidente, professor Domício Proença Filho.

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Comecei a pensar a respeito do significado de um concurso literário quando percebi a seriedade e o sorriso do carteiro ao chegar à academia, subir as escadas, anunciar sua chegada e nos entregar os envelopes com os textos para o concurso, demonstrando profundo respeito para com que havia dentro deles. Quando nos entregava aqueles envelopes, a maioria pardo, se apoderavam dos nossos sorrisos e os guardávamos como algo raro, como se em cada um houvesse um divino talento a ser cuidado. Mas havia também uma curiosidade em saber de onde vinham. E vinham de longe. O Brasil é grande. Foram enviados do norte, do sul, do sudeste e daqui mesmo! Nós os guardávamos com entusiasmo e ternura.

Certa vez, uma amiga escritora me disse que a literatura une. Eu pude sentir isso quando os envelopes eram entreguem. Todos ali estávamos unidos num sentimento só. O amor. Amor por nossa gente, gente brasileira, friburguense, nordestina ou paraense, querendo retirar as melhores ideias de si. O amor pela literatura e pela palavra; poesia e prosa; pensada e escrita. O amor pela Casa de Salusse, que suscita esse sentimento em nós, até porque dentro de suas paredes somos simplesmente felizes. 

Realizar um concurso é muito mais do que um trabalho administrativo. Para nós significa uma reverência à cidade de Nova Friburgo, que desde sempre acolheu e gestou artistas da palavra. Se Machado de Assis é o tema deste ano é porque o nosso grande mestre das letras e histórias caminhou pelas ruas do centro da cidade em momentos de sua vida. As edições anteriores também homenagearam artistas marcantes na história do Brasil e que estiveram aqui, como Villa-Lobos e JG de Araújo Jorge.

Por outro lado, reconhecemos a importância que a literatura tem para a vida da cidade. Um concurso fomenta a cultura. A sensibilidade artística direciona os hábitos e os costumes da população de várias faixas etárias para ações que enriquecem o espírito, trazem conhecimento e embelezam os momentos vividos. É um sentimento que concorre para a saúde da vida coletiva.

E, agora, me coloco a pensar no concorrente, naquele sonhador solitário que se põe a escrever um texto, seja em prosa ou verso. Lutando com a organização de ideias e buscando palavras, ele se debruça sobre a folha de papel em branco, querendo dar expressão aos seus pensamentos e sentimentos.

Todo concurso literário traz nobreza de caráter e reforça a cidadania.

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Eu sei muito bem como é esse processo inteiro, da primeira ideia ao recebimento do prêmio. Ah, que momentos delicados e sofridos! Foram dias e dias de trabalho árduo; escrevendo, pesquisando, corrigindo, reescrevendo, apagando tudo e recomeçando. Quando soube que fui premiada senti uma alegria tão grande, parecida com a que tive quando coloquei pela primeira vez meus filhos nos braços.

Segundo Paulo Freire, sempre depois de um parto doloroso, nasce um homem novo.