A Flinf, o livro e a borboleta

quinta-feira, 13 de outubro de 2016
Foto de capa

Já se disse que as grandes ideias vêm ao mundo mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com atenção, escutaremos, em meio ao estrépido de impérios e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança. Alguns dirão que tal esperança, jaz numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revivicada, alimentada por milhões de indivíduos solidários, cujos atos e trabalhos, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história. Como resultado, brilha por um breve momento a verdade, sempre ameaçada, de que cada e todo homem, sobre a base dos seus próprios sofrimentos e alegrias, constrói para todos.
Albert Camus

As vedetes da Festa Literária de Nova Friburgo são produtos vendido nas livrarias, feiras e internet. São objetos que guardam ideias e histórias. São fontes que jorram palavras a serem cuidadas por bibliotecas, descansadas em cabeceiras ou repousadas em estantes de leitores. Há, ainda, os que servem de enfeites de decoração.

São os livros!

Já houve quem dissesse que eles se parecem com borboletas. E, pesquisando, aqui e ali, encontrei tantas semelhanças que não poderia deixar de escrevê-las nesta coluna, nas vésperas da Festa Literária de Nova Friburgo.

O livro aberto é como a borboleta que alonga suas asas e voeja entre árvores. Fechado, é como a adormecida. A borboleta voando é como um livro que tem suas páginas folheadas, fazendo o pensamento do leitor se agitar com ideias variadas e olhar para pontos de vista diferentes.

O crescimento da borboleta e o fazer do livro passam por metamorfoses até ficarem maduros. Por acaso, alguém já observou o esforço que a larva faz para sair do ovo? Ou se preocupou em perceber o momento em que o escritor se vê diante de uma página em branco? Ah, todo parto tem esforços e dores. As larvas e as ideias precisam de nutrientes para comporem seus corpos.

Então, acontece a fase seguinte, a mais desafiadora. A ideia, tal qual a larva, já lagarta, é encorpada; ambas têm um universo pela frente: a lagarta, a natureza e a ideia, a página em branco. Aí, precisam sobreviver aos perigos; a lagarta pode ser pisada por um pé desavisado e o texto ser jogado na lixeira; a lagarta, machucada numa ventania; o texto, ter linguagem indefinida e o conteúdo truncado.

Quando conseguem suas inteirezas, eles se metamorfoseiam mais uma vez; o texto caminha para uma editora para ser ilustrado e editado; a lagarta, faz-se borboleta.

No momento final deste processo, a borboleta voa e o livro está pronto para ser lido. Ambos são atraentes; a borboleta, pela beleza, cor e suavidade; o livro, pelas suas ideias, histórias e ilustração, quando infantil.

Livros e borboletas causam metamorfoses no mundo, são capazes de exercer influências pela interdependência dos seus efeitos. O bater das asas de cada borboleta influencia os ecossistemas, da mesma forma que apenas um livro é capaz de influenciar pessoas e, estas, o mundo.

Que a nossa Festa Literária divulgue livros e traga mudanças para a nossa cidade. E que as borboletas voem por Nova Friburgo, embelezando mais ainda o lugar e arejando nossos ares.

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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